Meus queridos antepassados,
Eu vejo vocês lá na Itália e arredores, desesperados, querendo fugir da guerra. Vejo vocês largando tudo; os bens, os amigos, muitos membros da família. Deixando pra trás a terra natal em busca de uma vida de paz.
Com isso tudo, vieram para o Brasil. Entraram em navios, e amontoados, permaneceram um bom tempo até aqui chegar. Nessa viagem passaram fome, frio, doenças, falta de condições de higiene, muita falta de alegria, coração apertado e insegurança em relação ao futuro. Foram muitas noites mal dormidas pensando nos filhos que teriam de sustentar, além dos familiares mortos na viagem.
Eu vejo um coração de mãe com muita dor por ter que jogar o filho morto ao mar... muita dor e sofrimento e semblantes abatidos e cansados do barulho e do balanço do navio. Mas finalmente chegaram ao Brasil.
Aí veio a luta por uma moradia e por um sustento da família. Observo vocês sofrendo por não ser permitido falar a única língua que sabiam. Até presos foram por falar italiano e não português.
A vida foi dura em vários sentidos. Vejo muitos de vocês olhando em direção ao mar e sentindo saudade dos que ficaram pra trás, tanto os falecidos da viagem quanto os que ficaram na terra natal.
Essa saudade dói no peito. Se pudessem voltar à terra natal para ao menos amenizar esse sentimento, mas não tinha jeito. Ah! Como isso dói...
Hoje, meus queridos antepassados, tudo passou. Essa dor e esse sofrimento acabaram. Podemos viver uma vida digna; com dinheiro, casa boa, carro, boa comida, saúde, roupas boas, muitos amigos, fartura. Agora é possível viajarmos e visitarmos os familiares quer moram longe. Também temos telefone para nos conectarmos. Vivemos uma boa vida agora!
Muita gratidão, meus queridos antepassados, por vocês terem passado por tudo isso para que hoje possamos usufruir da vida com dignidade.
Gratidão, gratidão, gratidão!
Amo muito vocês!