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Flor do dia

Flor do dia
Neiva Maria de Mattos
jul. 21 - 10 min de leitura
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Essa era uma forma carinhosa e alegre de nos cumprimentarmos durante os anos que trabalhamos juntas, cuidando de pessoas amadas, muito amadas, mas com um número de aniversários já vividos que não as permitiam realizar determinadas ações do cotidiano sem a ajuda de alguém um tanto profissional.

Quando já não trabalhávamos tão próximas, ela continuou acompanhando a minha trajetória de “aprendiz de terapeuta”, creio eu, que pelas redes sociais. E um belo dia resolveu vir. Veio pela oficina de emagrecimento, mas quando no primeiro atendimento perguntei à ela o que gostaria de transformar em sua vida, ela me surpreendeu com a resposta de que era a situação financeira. Pois acredita que se caminhar melhor por essa estrada, poderá melhorar todas as outras situações.

No primeiro momento, tive o ímpeto de dizer que talvez isso não fosse o mais importante, que conhecendo-a como a conheço havia temas que seriam mais urgentes a ser trabalhados em sua vida. Mas lembrei-me do “Além do Aparente”, um dos livros mais lindos que já li sobre a vida, que por sinal é de autoria da minha mestra Olinda Guedes e, fiquei em silêncio e ouvi com atenção as suas expectativas.

Esse nosso primeiro encontro foi presencial, e a partir daí agendamos os encontros seguintes, que seriam online, num pacote de 10 momentos, inclusive com valores, explicando um pouco as “leis do amor”, para que ela pudesse compreender o princípio do “Equilíbrio entre o dar e o  receber”, ensinado pelo criador das constelações familiares, o grande Bert Hellinger.

Por ela ser uma pessoa ávida por conhecimento, os nossos encontros tem sido um misto de terapia e formação, pois vou sempre oferecendo a ela as informações e possibilidades de cada ferramenta utilizada.

Em um dos nossos encontros, em que fizemos uma profunda meditação tipo “tomar pai e mãe”, durante a qual ela emocionou-se em vários momentos, pois pode acessar toda a sua história de ser filha por via adotiva, e com a memória de orfandade o trauma do abandono, e a mágoa principalmente em relação a genitora, e entre lágrimas e sorrisos, percebíamos o processo de cura, ao retomar o “aqui e agora”,   ela disse de uma forma muito espontânea:

- Isso é bom demais, que eu acho que isso vicia.

Sorrimos, conversamos retomando alguns pontos da meditação que mereciam esclarecimentos e a alegria dela ao final do encontro era visível e contagiante.

Em um outro dos nossos encontros semanais, ao término do atendimento ela me disse:

- Isso é maravilhoso, eu quero ser terapeuta.

Sorrimos muito, conversamos um pouco mais e falei o quanto acredito no potencial e na habilidade que ela possui, pois a forma como desenvolve o seu trabalho como cuidadora de idosos, demonstra sensibilidade e muito esmero no que faz.

Fiz um teste rápido que aprendi na mentoria com o Jonas Kass, e vimos confirmada essa nova possibilidade profissional. E ela saiu do atendimento determinada a aprender mais sobre isso.

No encontro seguinte, ela trouxe à tona a convivência com o pai, em uma longa história. Ele havia vendido a casa para mudar de cidade e durante a viagem foi roubado, chegando ao novo destino sendo obrigado a começar a vida do zero. E ela cresceu vendo a mãe tendo que “se virar”, trabalhar muito, pois o pai “não punha as coisas dentro de casa direito”, a relação dele com o dinheiro passou a ser algo um tanto doentio. Tanto assim, que quando ela começou a trabalhar, ainda muito jovem, a mãe passou a fazer dívidas para ela pagar, pois contava muito com a ajuda dela. E dessa forma a maior parte de tudo que ganhava com o seu trabalho ficava para manter a casa. Até que um dia, a mãe tendo como um dos seus principais instrumentos de trabalho um forno, e esse forno apresentou defeitos e o pai recusou-se a mandar consertar. Ele terminantemente não queria que o tal forno fosse consertado, e ela como a filha que ajudava a mãe, teimou e mandou consertar o forno e pagou por isso. Por esse motivo o pai enfurecido saiu de casa e ficou muitos anos distante, só voltando quando o primeiro neto nasceu, filho da irmã dela.

Depois disso, num determinado momento ela namorava alguém que o pai não aceitava, mesmo assim ela efetivou esse relacionamento e na tentativa de construir uma vida juntos, tomou emprestado do pai uma quantia em dinheiro, para ajudar profissionalmente o companheiro e depois não conseguiu pagar pois o relacionamento se desfez. E o pai nunca a perdoou por isso. Deixou de falar com ela e inclusive de responder ao seu tradicional costume de pedir a bênção. E entre lágrimas ela expressa a dor de “não ser abençoada” pelo pai. E mesmo depois de idoso e doente, quando ela percebia que ele necessitava de algo, mesmo que fosse um medicamento, ela o ajudava às escondidas, pedindo para que outras pessoas entregassem, pois se ele soubesse que vinha dela, não aceitaria.

Nesse momento senti que ela estava “pronta” para a constelação, mas estávamos online e eu não havia programado isso. Mas a intuição, inspiração, ou como quer que se queira chamar, falou mais alto.  Perguntei então se ela teria alguns objetos em volta.  E ela foi nomeando os objetos e dispondo de acordo com o movimento do seu coração e eu fui numerando e marcando em uma folha de papel o que cada objeto representava, mas só revelei a ela essa representação depois de todos os objetos posicionados, quando fomos fazer a leitura do Campo.

1 – Livrinho – Pai

2 – Liturgia – Mãe

3 – Bíblia – O seu Eu

4 – Óculos – O dinheiro

5 – Controle da TV – A solução.

Olhando a disposição dos representantes ela se perguntava:

- Por que eu coloquei tudo espalhado e não arrumei mais retinho, certinho?

E com a câmera do celular voltada para os representantes fomos procedendo a leitura.

O pai e a mãe estavam distantes e ela se posicionou ao lado da mãe, ocupando o lugar do pai. (violação de ordem) Expliquei um pouco sobre o princípio da hierarquia.

Quando perguntei cadê os óculos, que representava o dinheiro, pois ele estava tão distante que a tela do celular não o alcançava, ela verbalizou que não sabia onde colocá-lo, que não sabia o que fazer com ele, e acabou colocando ali de um lado, mas nem sabia direito se ele entraria no “campo” ou não.

O quinto objeto, (controle de TV) que representava a solução, estava bem próximo do representante dela (do eu).

Sentimos e fomos refletindo que a relação dela com o dinheiro tem sido determinada por essas memórias e traumas da relação com o pai, desde o primeiro momento em que ela o viu desesperado, quase enlouquecido por ter sido roubado, passando pela escassez e depois pela culpa de não ter devolvido o empréstimo e por tudo isso não se sentir merecedora da bênção do pai, de tal forma que até hoje, ela não sabe o que fazer com o dinheiro, não encontra um lugar para ele em sua vida, e vivencia com o dinheiro uma relação de “eu não gosto de você , mas eu preciso”. E quando ele chega, ela sente uma culpa, que faz com que ela tenha que se livrar dele rapidamente, com isso surgem dívidas, tais quais aquela que a mãe fazia para ela pagar, pois traz a memória de que se tiver dinheiro (como quando consertou o forno para a mãe) vai perder o afeto (o pai saiu de casa), e nesse “amor interrompido” nessa “violação de ordem” ela se via  perdida (órfã) e não percebia que a solução estava nela.

E para fechar, orientei e ela foi tomando um a um, cada objeto nas mãos e olhando para ele e vendo quem e  o que ele representava, foi repetindo as frases de cura e positividade,  começando pelo  - agora eu vejo: - Eu vejo você; - Eu concordo que foi assim... direcionando também para o futuro, como alguém que toma a vida e leva adiante de forma ser cada vez mais próspera, saudável e feliz.

Ao final, percebemos o quanto foi forte cada momento, tantas dores e sofrimentos sendo curados. Cada vez que eu perguntava se aquilo fazia sentido ela confirmava emocionada e explicava com histórias e exemplos. E mesmo quando a dor era intensa, surgia em seguida um olhar de esperança, que era mais do que a confirmação dos fatos, mas uma certeza de que daquele momento em diante seria diferente.

Ao reverenciar todos os que foram representados no campo, ao dizer a palavra gratidão, ela fez questão de dirigir-se a mim e dizer a imensa gratidão que sentia por eu ter proporcionado a ela oportunidade de vivenciar aquele momento, pois ela jamais havia pensado na vida desse modo e jamais imaginou viver tais emoções.

Recomendei como tarefa que ela visite o blog saber sistêmico, faça algumas leituras e busque um dos muitos cursos que ali se encontra, para iniciar a sua formação.

E como sempre, os nossos encontros terminam  com muito sorrisos.

 

 

 


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