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“Não é o muito que sacia, e sim, o essencial” (Bert Helinger)

“Não é o muito que sacia, e sim, o essencial” (Bert Helinger)
Paula Azevedo
set. 23 - 7 min de leitura
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Eu não me lembro exatamente de onde estava há um ano. Na verdade, eu estava recém chegada aqui em Barueri/São Paulo, trabalhando na sala de aula em Itapevi, quebrada em mil pedaços, tentando me encontrar, com a alma gritando de desespero e clamando por ser vista... Foi no dia 30 de setembro que eu atendi ao chamado da Débora e comecei a caminhar com ela, e mais do que organizar ou colocar os aspectos do meu mundo em seus devidos lugares, uma nova Paula começou a se delinear e a ser delineada. Débora se colocou a serviço das mudanças que estavam ocorrendo em minha vida e nosso trabalho me levou a um outro nível de consciência.

Se tem algo que nos irmana na busca pelas Constelações, é que chegamos a ela através de muita dor e em busca de alívio para nosso sofrimento. Não existem soluções mágicas, rápidas e infantis, existe muito trabalho e como diz Olinda Guedes, muito sangue e suor, isto é, o desenvolvimento humano, o crescimento, a evolução espiritual só acontece à custa de muito trabalho. Mas em minha jornada também tenho aprendido que o crescimento também pode vir por meio de um olhar atento e acolhedor, por meio da inclusão da leveza, por meio de um toque singelo, de uma carícia descompromissada. O crescimento nem sempre é provocado pelo embate entre o real e as fantasias inventadas por nós, nem sempre vem pela dureza das palavras ou do trato, ele pode vir e vem pela constatação de que existe nutrição sem medida, existe abundância em nossa vida, ou da convicção de que uma vez curvados ao destino e às mãos que o arquitetam, de nada sentiremos falta.

Existe na Bíblia, um Salmo escrito pelo Rei Davi, de Israel, que é muito conhecido, o Salmo 23... “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará. Ele me faz descansar em pastos verdes e me leva a águas tranquilas. O Senhor renova as minhas forças e me guia por caminhos certos, como ele mesmo prometeu. Ainda que eu ande por um vale escuro como a morte, não terei medo de nada. Pois tu, ó Senhor Deus, estás comigo; tu me proteges e me diriges. Preparas um banquete para mim onde meus inimigos possam me ver. Tu me recebes como convidado de honra e me alimenta até que eu esteja satisfeita. Certamente a tua bondade e teu amor ficarão comigo enquanto eu viver. E em tua presença viverei todos os dias da minha vida” (paráfrase minha). Aprendi a recitar seus 06 versículos ainda criança... Enquanto este salmo foi trazido à minha memória, com ele também veio uma imagem, meu último encontro com a minha avó paterna, a Vó Margarida. Ela estava no hospital em seus últimos dias de vida e eu li este Salmo para ela. Seu corpo estava debilitado, mas seu espírito firme, fortalecido, agradecido por tudo o que teve a oportunidade de viver...

Perder minha avó não foi fácil, foi um marco em minha vida. Ela era e ainda é muito grande, até minha mãe que era sua nora se apequenava diante dela. Na época, eu não aceitei a sua partida, em sua morte iminente eu estava em plena negação e porque estava em negação, não pude perceber os sinais de sua partida. Eu tive minha mãe para me trazer à realidade, por isso, estive ali no hospital lendo o Salmo 23 para ela e me despedindo. Minha avó me transmitiu a fé e a humildade diante do destino, que é muito maior do que nós, nosso ego, nossos desejos, nossos pontos de vista... Quantas vezes já interpretei mal a essência da fé. Ouvimos que a fé move montanhas, mas lidamos com a fé fora de contexto, fora de um propósito, lidamos com a fé como crianças... Queremos a fé para nos arrogar, para deixarmos de ser humanos, queremos usar a fé como a panaceia para as nossas dores, queremos usá-la como um atalho... Mas a fé não se deixa enganar, ela não está a nosso serviço, a fé está à serviço da VIDA e isso já basta. A fé prolongou a vida da minha avó e a levou aos 77 anos. Naquele momento julguei que fosse tão pouco, porque ela não viveu mais? Mas hoje eu vejo com outros olhos, eu estava completamente enganada! Eu também vejo que nem meu pai, seu filho, entendia o modo pelo qual ela vivia, havia um segredo, o qual ele não conseguia entender, muito menos acessar... Em sua busca por respostas, ele repetia as palavras da minha avó e seu modo de vida de forma mecânica, vazia, sem compreender de fato seu significado. A fé da minha avó foi um alimento que até hoje ele não tomou completamente.

Olhando para este quadro entendo que humildade diante do destino não é aceitar as migalhas que nos são jogadas no emprego, nos relacionamentos, na vida... Humildade diante do destino é aceitar um banquete que nos é oferecido de graça, como a vida, com tudo o que ela possui, com tudo o que ela é...

Não preciso correr atrás de nada como uma louca, porque tudo chegará até mim, exatamente como a vida chegou. Eu estou completa, já não sinto falta de nada! Isso não significa que eu seja perfeita, ou que tenha superado meus problemas com meus pais, com meu marido, com meu filho, que tenha superado meus problemas financeiros ou os desafios da minha profissão. A constatação de que sou completa e de que tenho tudo o que preciso me leva a enxergar a vida a partir de outro referencial que não é a escassez, não é a necessidade, não é a carência, e sim a abundância, o transbordamento, a doação, o equilíbrio entre o dar e o tomar, porque agora sei que ambos possuem o mesmo valor, a mesma importância.

A vida me deu e me dá muito, mas nem sempre eu percebo isso, meus olhos estão se abrindo, por isso, não quero  e não posso mais negar as riquezas e as moedas que me foram oferecidas pelos meus bisavós, pelos meus avós, pelos meus pais, por todos meus ancestrais. A partir de agora, eu digo SIM à minha história e ao meu destino do modo como tudo aconteceu.

Querida vovó, por favor, me olhe com bons olhos se eu conduzir minha vida um pouquinho diferente da sua maneira. Entendo que fazer diferente jamais será fazer melhor do que você. Eu nunca teria essa capacidade, pois diante de você, da sua vida, eu sou a pequenininha e você a grandona. Obrigada por tudo o que suportou e sofreu para que eu pudesse estar aqui hoje alimentada, nutrida e com os olhos bem abertos, eu farei algo de muito bom com o que você me confiou.

Com amor,

Paula Azevedo

 

 


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