Meus sonhos com cavalos me levaram à esse ponto de partida: uma noite no Instituto Anauê Teiño com o psicólogo holandês Ruud Knappen.
Ali estava eu em Curitiba, viajando de ônibus para uma palestra de coaching sistêmico com cavalos. Sim, foi isso mesmo, com cavalos! Cheguei ao apartamento da rua Conselheiro Laurindo, tirando os sapatos para entrar e sentar-me em almofadas no chão. Primeira grata surpresa:
- Que legal! Pensei: "Estou reencontrando parte de meu ser, um resgate do passado".
Minha formação de instrutor de Yoga, que recebi no Uruguay na Escola Satyananda com minha professora e amiga Eugenia Castillo. Lá, em Montevideo, eu gostava de lecionar Yoga para crianças e adolescentes. Também tirávamos os sapatos e nos sentávamos no chão ou em tapetes. Isso era no IDEJO (Instituto De Jovenes), uma das escolas tradicionais mais alternativas de Uruguay. Uma escola sem avaliação, com liberdade de elaboração de currículo, com um atelier de cerâmica e um forno, com uma bela horta, marcenaria, tai-chi, meditação na hora da entrada e saída, com danças circulares e com aula de Yoga, uma escola que leva a bandeira da Cultura da Paz.
Nessa escola eu dava aulas de Yoga antes de vir para o Brasil. E hoje, ponte ao presente, também facilito aulas de Yoga para crianças aqui no Brasil e também me tornei um Constelador e Coach com Cavalos, na sequencia dessa palestra.
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Aquela noite foi determinante, conheci a Olinda Guedes e Sandra Sawadzki. Nessa noite também conheci e levei para minha casa, para minha vida, além da palestra de Ruud, o início e reencontro de uma paixão renovada pelos cavalos, o livro “O que traz quem levamos para escola?” Ele estava ali, na mesma sacola de pano que a autora levava para escola quando era criança: uma regressão no tempo, outro resgate do passado. Esse livro também seria minha ponte ao futuro, a minha transição como educador no sistema escolar tradicional de facilitador de vivências de pedagogia sistêmica.
Agora vocês podem entender como um evento, como uma palestra, pode transformar a visão de um indivíduo, assim como um escritor ao escrever um texto. Os fatos são relevantes para aquele que os contempla e dimensiona com as justas medidas. O fato de ter decidido dar esse passo, a constância e o fluxo dos acontecimentos, a sincronização de propósitos conspiraram para que o destino da minha vida esteja mudando agora e eu sou muito grato.
Com Sandra e Ruud cheguei nos cavalos. Três dias depois estava sentado no semi círculo do aras iniciando meu primeiro movimento ou dinâmica de coaching sistêmico. Na ordem de direita a esquerda cada participante tinha que conectar com o cavalo que estava na nossa frente: um grupo de 25 pessoas. No início o cavalo estava distante e conforme passavam as pessoas o vínculo com o cavalo mudava. Comecei a sentir o cheiro da avó Teresa, da tia-avó Berta, ambas cozinheiras em duas fazendas do interior do Uruguai, em Rio Negro e Paysandú; cheiro da terra, da chuva e dos cavalos. Cheiro da minha infância, da minha primeira vez montado num cavalo, ainda com 4 anos. Da minha primeira queda, de meu avô Nazário guiando o trabalho no campo. Minha infância, meu tesouro, meus cavalinhos de pau, meu trote correndo, minha infância renascendo naquela palestra, naquele semi círculo esperando meu momento para estabelecer a conexão com o cavalo.
Chegou a minha vez e o cavalo já estava ali ou eu já estava ali, a conexão estava ali, entre nós. Não foi necessário desta vez levantar-me e ir até aquilo que estava procurando, aquilo estava vindo até mim. Sim, estava ali na minha frente, um belo cavalo branco. A piedade, a compaixão foram ativadas na memória e o toque foi permitido. Gratidão por tocarmos juntos aquele, este e outros momentos.
Carlos Guyrauna Rodríguez - Educador, Terapeuta, Constelador Familiar e Coach Sistêmico com Cavalos