Educar é um ato de amor, mas enquanto educadora, sempre me questionei sobre se estou ou não no caminho certo. O conhecimento sistêmico nos abre os olhos às possibilidades e probabilidades, e provoca em nós, grandes questionamentos, afinal, dizem que as perguntas movem o mundo.
Creio que quando nos decidimos enredar na profissão de educadores, é porque trazemos a grande necessidade de modificar esse mundo. Me lembro, de por vezes, ler as colocações da nossa professora Olinda, sobre o nutrir-se de conhecimento para ter o que oferecer ao outro. Ressalto aqui, que isso me toca profundamente, e fez com que eu retomasse a minha paixão pela leitura, esquecida pela falta de tempo, a qual ainda, através dos ensinamentos dela, desapareceu quando comecei a tomar meus pais como me foram dados.
Sou professora de língua portuguesa, embora meu sonho fosse ser redatora (jornalista), o que na época era inviável devido as condições financeiras da minha família. Estudei as letras, aprendi a decifrar códigos, amar a poesia, e cá estou, escrevendo para o blog. Quem disse que os sonhos não são possíveis? A comunicação atua fortemente na minha vida!
As experiências são a melhor forma para encontrar respostas. Com Freud foi assim, e assim é com todo o profissional que cuida do ser. Vivenciar na pele e desenvolver mecanismos para atenuar os sofrimentos do corpo e da alma é extremamente doloroso, porém libertador.
Fico pensativa em relação à imagem da educação em nosso país, e me deparo com a minha profissão de professora. Onde estou, aonde estamos errando? "Por favor, pare o mundo que eu quero descer!"
É assim, que por muitas vezes me sinto. A cada reunião, curso ou conselho de classe, são tantas as queixas, e muitas delas minhas também. O que me chama à atenção é que não somente as crianças pedem socorro. Um dos diagnósticos mais frequentes na vida do professor é a chamada "Síndrome de Burnout", do termo inglês: to burn out (queimar por completo). Isso tem afastado muitos profissionais da sala de aula, acompanhado de um completo pânico pelo local de trabalho.
Sistemicamente, o termo "queimar" é tão forte, pois realmente o sofrimento consome o emocional do profissional da educação. Realmente, muitos não estão preparados para lidar com o sofrimento dos alunos, e as crenças limitantes desses profissionais, nos quais me incluo, não permitem o enxergar além das aparências, e assim à compreensão holística da comunidade escolar. Ah, como é difícil se posicionar no lugar do outro!
Alguns dias atrás, substituí uma colega da área de letras. A aula era de inglês, e o tema "Family Tree". Os trabalhos eram lindos e bem ilustrados, tudo para uma aula divertida. O problema, é que ao completar a sua árvore, um menino lindo, estava debruçado sobre a sua folha de papel com um olhar muito distante. Então, perguntei a ele:
— O que houve meu querido? A sua priminha ao lado, prontamente respondeu:
— Ele não tem pai! Não o conhece!
Então, meu mundo de "sabe tudo" desmoronou. O que eu diria para aquela criança?
Retirei da bolsa um lencinho de papel decorado com bichinhos, entreguei a ele e disse que ele fora gerado com muito amor, e que por motivos alheios à nossa compreensão, a mamãe tinha os seus motivos para não tocar no assunto. Pedi a ele que, naquele momento, enviássemos bons pensamentos ao seu pai, e saber que de certa forma isso faria seu pai feliz o tranquilizou. Ele chorou copiosamente por alguns minutos deitado no meu braço, enquanto eu afagava os seus cabelos. Naquele momento senti que todos ali desejariam receber o mesmo cuidado. Foi aí que ganhei a turma dita "terrível". Apenas com amor! Sem os saberes sistêmicos, não sei se daria conta. Quanta gratidão a esse conhecimento mágico!
O menino respirou aliviado, tanto quanto eu naquele momento. Como o amor é importante! O educador também necessita de amor. Necessita pertencer.
Muitos não se sentem pertencentes aos seus locais de trabalho, então como é que os alunos vão gostar também de estar na escola?
Segunda-feira novamente, tomara que acabe logo, aquela turma é terrível, Deus nos proteja!
Deus nos defenda de nós mesmos e de nossa falta de amor!
O mundo não pode parar para desembarques, mas a viagem pode ser uma experiência rica e proveitosa, desde que estejamos sempre abertos para o novo.