A descoberta da fala é relevante:
- Pa-pá! Ma-má! - Casualmente tem a ver com os pais (papai e mamãe) e com a nutrição (comida e bebida). A primeira palavra do filho perambula pela história.
Em seguida (alguns anos depois), vem a descoberta das letras. É a atual fase da Mariana (05). Ela pronuncia a sílaba (consoante + vogal) e descobre que ali há uma representação gráfica. Ao repassar para o papel, ela escreve a consoante ou a vogal. Então, eu repito a consoante e ela escreve a consoante. Repito a vogal e ela escreve a vogal. Sílaba por sílaba, a palavra vai surgindo. Se escreve diversas palavras, ela se perde na leitura. Confunde uma palavra com a outra. Mas é só mostrar a primeira letra e a Mariana redescobre a palavra escondida atrás daqueles sinais.
A construção da fala e da escrita é encantadora. Os humanos falam e escrevem. A fala e a escrita propiciaram livros e pirâmides, guerras mundiais e declarações de amor:
- Papai, eu te amo! - Não há nada mais lindo.
A Mariana conhece o M. É uma boa letra para aprender: ma-me-mi-mo-mu.
- Pai, como é o S?
- São duas curvinhas. Uma de cada lado.
A herança falada e escrita é relevante, mas isso não retira a importância das demais pertinências. Sem água, não haveria o M. Sem árvores, não haveria pirâmides. As raízes se alargam em forma de V ou S. O tronco sobe em forma de I. Não haveria galinhas sem ovos. O-V-O.
O espaço e o tempo são ilimitados. A uma porção de seres coube ocupar o presente. A esta crônica dediquei algumas horas.
Daqui a uns vinte e seis anos, vou reler. Talvez nem consiga recordar que: o Judiciário estava em greve, a semana iniciou com chuva e as flores do ipê, em frente à casa, caíram.
A relevância é estar neste espaço e neste tempo. Alguns dirão:
- Mario, é uma crônica inútil!
Que seja! Quando uma formiguinha atravessa, em diagonal, a página ainda em branco, é desnecessária a escrita. Ali passou o frêmito e o mistério da vida ... - disse o Mario Quintana. Se fosse em curva, seria C.
Autor: Mario Romano Maggioni