Viamão, 08 de setembro de 2020.
Querido papai e querida mamãe,
Ontem passei algum tempo refletindo sobre o ser livre...
Quando jovem, eu sonhava e ansiava por liberdade. Desejava crescer logo, sair de casa, me livrar das regras impostas por vocês, dos severos castigos, das tarefas... de vocês. O tempo passou e algumas coisas foram acontecendo, independente do meu querer.
Lembro-me bem do dia em que me despedi de ti, mamãe. Eu, no auge da "sabedoria dos meus 15 anos", sai da tua casa e fiquei 3 anos sem te ver. Talvez tenham sido meus piores anos.
Quanta solidão, quanta saudade. Tantas lições!
Mas, com 15 anos, achamos que sabemos a fórmula da vida, ledo engano. Morando com o papai aprendi a sobreviver enfrentando medos e desafios diários. Ele, com seu jeito de vida torta, me deu grandes lições e ensinamentos. Se agora eu tivesse que te definir numa frase, seria: faça o que eu digo e nunca o que eu faço.
Assim que completei 18 anos, sai da casa do papai. Livre! Ah! Quanta mágoa, queixas, quanta dor levei comigo! Eu, vítima de mim mesma, nem ao menos enxergava o amor que me deram. Eu idealizava uma forma de amor e como criança mimada, não via o amor real que vocês me davam.
Hoje sei que me deram o melhor que puderam.
Me deram a vida e fizeram o possível para que eu continuasse viva. Papai e mamãe, hoje só quero agradecer por cada lição, por mais difícil que tenha sido. Sou infinitamente grata pela minha vida, que veio de vocês!
Eu sinto muito por todas as vezes que eu poderia ter falado do meu amor por vocês mas fiquei calada! Quero que saibam que agora, depois de me curar das minhas dores e deixar de ser vítima, reconheço que o amor que me deram foi todo o amor que vocês tinham.
Morei em tantas casas, conheci tantos lugares, vivi alguns amores, colecionei tantas histórias, achava-me livre, porém, era apenas ilusão. Não há liberdade plena se por onde quer que eu vá eu continue acorrentada as memórias do passado, e por vezes, no julgamento de vidas que não vivi e histórias que sequer conheci.
Agora sou mais do que livre, sou leve.
Queridos papai e mamãe, eu amo vocês! Vocês são os pais certos para mim.
Gratidão!
PS. Escrevi esta carta quando assisti a uma das aulas da Olinda, no YouTube. Foi assim que me rendi à esse movimento e hoje sou também aluna dela. Quando algo fala à nossa alma, tudo se torna claro como dia.
Gratidão, Olinda Guedes!