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Juliema Trein
mar. 6 - 11 min de leitura
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   Eu tive a graça de conhecer pela parte materna meus bisavós e avós. Tenho de meus bisavós vagas lembranças, e o que sei foi contado por minha mãe. Minha bisavó quando jovem tentou suicídio tomando soda cáustica por amor.

    Os pais não aprovavam o namoro com o moço escolhido por ela.

     Mais tarde se casou com meu bisavó. Não sei se por amor ou obrigação.  Ela, é que era uma mulher muito caprichosa. Trabalhava de lavadeira. Minha mãe conta que ela lavava roupas na beira do riacho, e que essas roupas ficavam tão brancas e alinhadas que pareciam sempre novas. Trabalhava para uma família rica da cidade. Lembro de entrar em sua casa e estar tudo tão limpo e organizado. Anos mais tarde a conta pelo acontecido na juventude chegou: câncer no esôfago. O corpo respondendo por atitudes e emoções. Lembro do seu sofrimento e do dia de sua partida.

     Meu bisavô trabalhava em uma madeireira. Dele não tenho muitas lembranças. Apenas que ele sofreu um derrame enquanto minha bisavó ainda era viva, passou alguns anos sentado em uma cadeira de balanço. E também partiu, com suas angústias, tristezas e dores.

    Meus bisavós tiveram somente uma filha. Minha avó. Numa época em que se tinham tantos filhos. Não sei o motivo de terem tido apenas ela. Tenho muitas lembranças de minha avó. De momentos alegres e tristes. Ela não teve um casamento muito feliz. Talvez feliz somente sobre o olhar dela. Meu avô sempre teve muitas mulheres e gostava de jogos. Tinha mesa de jogo na própria casa. Eles também tinham um bar. Quem trabalhava no bar era minha avó. Ela sempre foi muito caprichosa, e gostava de mesa farta. Já meu avô era o que chamamos “mão de vaca”.

      Não gastava com nada em casa, era tudo responsabilidade dela. Ela até cozinhava para os jogadores que iam jogar com meu avô, cobrava por isso, mas fazia com amor. Chegaram até a tentar o divórcio, mas ela não aceitou, porque segundo ela: casamento era para vida toda. No fundo acho que ela o amava. Em determinado tempo ela perdeu a audição. Teve que fazer uso de um aparelho auditivo para ter um pouco mais de qualidade de vida. Mas até isso, teve que comprar por conta própria, vendendo parte de um terreno que era herança.

      Ela me proporcionou uma infância muito doce e feliz. Sua meiguice, seu exemplo, seus conselhos ainda ecoam em mim. Ela ainda era uma benzedeira muito especial, quando passava aquele galho de arruda em mim, levava toda tristeza e dor, deixando paz e amor.  Sua partida foi muito triste!

     Após a partida de minha avó meu avô ainda viveu mais uns anos. Ele sentiu a partida dela. Ele deveria ter olhado mais para ela enquanto estava viva. Mas c a cada um cabe suas escolhas. Eles tiveram duas filhas.

    Pela parte paterna conheci apenas minha avó. Meu avô faleceu antes dos meus pais se casarem. Ele era alcoólatra. Minha avó se separou dele antes de sua morte. O que sei sobre ele é pelo que minha mãe contava. Eles se separaram e o vício ficou pior, ainda mais porque minha avó tinha um outro relacionamento. Meu pai ficou muito revoltado com a situação. Meu avô acabou com tuberculose e faleceu. Minha avó ficou com três filhos.

     O meu contato com ela não foi tão intenso quanto o que tinha com minha avó materna. Minha mãe privou muito essa relação. As referências que minha mãe passava sobre ela sempre eram negativas. Motivo de muitas brigas entre meus pais.   

      O que sei sobre minha avó é que sempre teve que trabalhar muito para dar conta de tudo que teve que assumir sozinha. Ela era camareira em um hotel da cidade. Em determinado tempo ela teve uma doença nos olhos, e ao passar por uma cirurgia acabou ficando cega. Isso limitou muito sua vida. Mas não tirou sua alegria de viver. Mesmo assim ela viveu muitos anos, nosso contato não foi como eu gostaria que fosse, mas hoje eu entendo.

     Minha mãe é a filha mais velha, teve apenas uma irmã. Ela também teve suas frustrações. Ela sempre quis estudar, tinha o sonho de ser professora. Mas minha avó não apoiou. Pagou para ela curso de corte e costura. Até hoje minha mãe costura, mas segundo ela, não gosta, faz porque sabe fazer. Sempre achou que a relação de meus avós com minha tia era diferente. Dizia que ela era a preferida. Minha tia teve oportunidades que não foram dadas a minha mãe.

     E a “revolta” de minha mãe é que minha tia desperdiçou todas, e ainda assim era recompensada. Minha mãe também teve um relacionamento que minha avó não aprovou. Sempre falava dele, talvez tenha sido o amor da sua vida. Mas não aconteceu, e se casou com meu pai. Com certeza ela teve muitas tristezas e frustrações, principalmente porque meu pai acabou com o mesmo vício de meu avô, o alcoolismo.

     Meu pai era o filho mais velho de três, irmãos. Dois homens e uma mulher. Era uma pessoa bem fechada e com muitos conflitos. A infância difícil e sentir que talvez não era amado como amava, porque ele amava muito minha mãe, o levou a cometer o mesmo que o seu pai. Buscou refúgio no álcool. E isso resultou em muitos problemas de saúde. Precisou parar de trabalhar. Muitas hospitalizações. E a bebida sempre ali. Minha mãe cuidou dele como pode, porque segundo minha avó: casamento era para vida toda. Mesmo muitas vezes pensou em separação, mas nunca aconteceu. Acredito que esse caminho foi muito difícil para os dois. Ele pela doença, pelo vício, pela dor, por não ter tentado ou não ter conseguido fazer diferente. Acabou partindo aos 55 anos. Deixando duas filhas, dois genros e duas netas que o amavam muito. E difícil para ela por sentir que tinha desperdiçado sua juventude.

     Minha mãe viúva aos 48 anos. Nunca buscou outro relacionamento. Busca viver com liberdade, como ela mesmo diz: sem marido para colocar limites em sua vida. Hoje ela está com 69 anos, mora sozinha e é independente em suas atividades. Continua muito vaidosa e gosta sempre de estar bem arrumada. Segue costurando. Canta no coral da igreja.

       Tem muitas amigas e amigos. E como ela diz: viveu para conhecer seus bisnetos.  Ainda tem com conflitos com sua irmã. Se amam e se odeiam. Infelizmente no fundo ainda carrega muitas emoções mal resolvidas que se transformaram em um pouco de amargura. Mas a jornada ainda continua, quem sabe ainda consiga se curar.

     E eu me dou conta que, a frase da mestra Olinda Guedes faz muito sentido: “A infância dos nossos pais e nossos avós mora em nós.” Hoje eu tenho a idade em que minha mãe ficou viúva, e olho para traz e vejo tantas coisas que se repetiram, que foram honradas e que também foram curadas. Minha infância teve vivências de amor, de dor e de abandono.

      Como na infância de meus pais. Me senti amada por todos do meu sistema familiar, senti a dor de uma lar em conflito pelo vício de meu pai, e o abandono que a doença dele causou para mim e para minha irmã. Porque foram muitos momentos de ausência.

       Realmente a infância de meus pais e avós moram em mim.

      Acredito que tenho figuras femininas muito fortes em meu sistema. Mulheres corajosas e empreendedoras apesar das circunstâncias. Sofreram por amor, trazendo um paradoxo, sendo que o amor cura. Carrego comigo o zelo pelo meu lar como minha bisavó. Mas que eu busque sempre expressar o que sinto, porque o calar não mostra quem somos, apenas sufoca. Minha bisavó deve ter calado muitas emoções, que eu possa dar voz para o silêncio de tantas gerações. Bisa, que minha voz seja sua voz, eu honro você!

       Não sou benzedeira, mas honro minha avó levando os florais de Bach para muitas pessoas, como ela fazia com suas benzeduras. Que eu busque também ouvir o som que a senhora deixou de ouvir. Porque para evitar ouvir o indesejado a senhora se privou de ouvir a melodia bonita da vida. Vó, para senhora eu ouço os sons da vida e do amor, eu honro você!

       Da minha avó paterna, preciso praticar viver com mais alegria, porque meus olhos podem ver muito além do que ela não pode, e nem por isso deixou de ser feliz e acreditar que existe luz na escuridão. Vó, que eu seja seu olhos para ver tudo que você não pode ver, eu honro você!

       Minha mãe por sempre me encorajar a ser uma mulher independente, vaidosa e capaz de fazer o que sonha. Ainda estamos na nossa jornada de cura do vínculo de amor interrompido. Mãe, eu honro você por tudo que foi, foi como tinha que ser. Que eu tenha leveza, e que o amor também seja nossa fonte de cura. Mãe eu vejo você!

        O meu relacionamento não foge muito do que elas viveram, o que se confirma com uma frase da mestra Olinda Guedes: “Relacionamentos são eternos, eles só mudam de jeitos.” Como elas eu também amo muito. Também vivo um relacionamento de momentos bons e ruins, já é uma caminhada de 33 anos. Sei que sou amada. Ainda precisamos de muitas curas. Ainda citando Olinda Guedes: “Ninguém nos faz feliz se antes nós não nos fizermos felizes.”

       O meu relacionamento talvez seja a oportunidade de viver o que eles todos não viveram. Então em primeiro lugar tenho que amar a mim mesma e amar meu marido como eu me amo. Assim eu poderei honrar todos os relacionamentos de meu sistema e honrar a fala de minha avó: casamento é para sempre! Seguindo os pilares do relacionamento: amor no coração, alegria de viver e missão em comum. E essa missão é a nossa eterna aliança com Deus e conosco.

     São nossas filhas e todos os que vierem depois. Honrando esses pilares com certeza o casamento será até que Deus nos separe.

                                    Juliema Trein

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