As mentes barulhentas, as palavras incessantes são apenas o pranto da criança. (Olinda Guedes in A Verdade sobre o Sofrimento Humano, Appris Editora, 1ª ed., 2019)
Tantas vezes me queixei da falta de silêncio em minha mente, e ninguém soube me esclarecer que tal era apenas o pranto da criança, o pranto da minha criança interior! E, por ninguém a esclarecer, ela chorou, chorou muito e muito, sem que alguém a socorresse.
Tantas vezes tentei abafar o ruído impondo outros tantos ruídos que, embora fossem inaudíveis para ouvidos alheios, eles agravavam aquele choro, interno e silencioso para os outros, mas extremamente alto para mim.
Disse a autora de A Verdade sobre o Sofrimento Humano que o amor não cansa, não desiste!
Foi ele - o amor! - que me trouxe a notícia de que o ensurdecer barulho é o pranto, o qual pode ser estancado se a criança for socorrida. Como foi confortador ouvir isso!
Junto com o consolo veio o esclarecimento: o barulho não é mau! Ele está a serviço da solução, ele serve à vida, ele garante a paz.
- Diga sim!; disse o esclarecimento.
E, completou: - Não o rejeite e permita que ele atue em favor da reconciliação!
Agora percebo que, por muito tempo, estive ignorante daquilo que é fundamental saber: a paz - o silêncio em minha mente - somente é possível se eu estiver completa; ou seja, se eu me reconciliar com a vida, sem a pretensão de mudar o que foi e sem me rebelar. Se eu disser SIM!
Está tudo resumido nas frases: Doença é NÃO, é abandono, é indiferença, e, Saúde é SIM, é inclusão, é atenção.
A mente barulhenta, o pranto infantil, precisa ser atendido, precisa ser restabelecido o movimento de amor em direção aos pais que foi precocemente interrompido e a orfandade parental precisa ser sanada, ainda que tal orfandade e tal movimento de amor interrompido sejam somente uma Memória Transgeracional que o meu sistema familiar me impõe, a fim de que o nosso grupo seja curado.
É necessário atender a mensagem oculta nesse lamento e fazer cessar a causa de seu surgimento. É fundamental entender o significado da frase quem se importa serve, só serve quem se importa. É imprescindível importar e servir!
Disse a mesma autora que o corpo fala, que o corpo é o lado visível da alma, e, que a alma é o aspecto invisível do corpo.
O corpo que a vida me empresta há muito vem servindo ao propósito de atender a minha e a alma da nossa família, a qual pede atenção, inclusão e humildade. Pede a mim, que fui eleita para servi-la, um movimento interno pessoal e intransferível, que somente será possível através do concurso das intervenções sistêmicas, porque sozinha sei que não conseguirei realizá-lo, embora eu sinta a sua urgência na acústica da minha alma.
Urgência que, na já longa existência (tenho 61 anos), por mil modos me convidou a despertar para a compreensão sistêmica dos sofrimentos humanos e o inegociável regime de solidariedade existente no seio dos sistemas.
É a tutela do amor, que nunca se cansou e nem desistiu, que busca, através do incômodo dos diversos sintomas, promover a cura do meu sistema familiar.
Empatia, compaixão, humildade, são as condições para servir, foi-me dito.
Em favor da compreensão, a citada obra (A verdade sobre o sofrimento humano), incluiu o esplêndido texto do inesquecível ajudante de almas - Bert Hellinger, que, entre coisas, diz:
‘Querido corpo’. É como se estivesse dizendo: ‘Querida Mamãe’ ou ‘Querido Papai’ ou ‘ Querido Deus’. Só posso dizer isso com devoção e com confiança, com gratidão, com amor sem reivindicação, com amor que se entrega.
Neste momento, humildemente reconheço que sempre tentei abafar o pranto incessante, porém não me dispus a atender a mensagem oculta em sua frequência dolorosa. E, por essa razão, o corpo então falou: não é preciso ouvir! Assim, a perda auditiva e os zumbidos se assenhoraram dele.
Percebo, que até hoje não servi realmente, porque, em verdade, também não me importei. Todavia, ao estudar as reflexões contidas no livro, algo começou a se movimentar em meu íntimo, como um suave e gentil sopro acalentando a oportunidade de transformação, trazendo grata esperança.
Já aprendi que o exercício da gratidão é uma das vias da cura, e, portanto, quero manifestar gratidão a todos aqueles que colaboraram para que o livro em questão fosse materializado, o que importa reconhecer a inestimável colaboração dos precursores das constelações familiares, de Bert Hellinger que as ampliou para a visão sistêmica, de todos os incansáveis facilitadores da compreensão das leis e das dinâmicas por trás dos relacionamentos humanos, e da própria autora que se dispôs a sintetizar os meandros dos sofrimentos humanos e a forma de curá-los.
Gratidão, uma vez mais.