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A APRENDIZ DE TERAPEUTA E A EXPECTATIVA DOS CLIENTES

A APRENDIZ DE TERAPEUTA E A EXPECTATIVA DOS CLIENTES
Neiva Maria de Mattos
abr. 18 - 8 min de leitura
0110

Muitas vezes as minhas clientes perguntam: Mas como a senhora se diz aprendiz? Só lá na Escola Real da Olinda Guedes há uma dúzia de cursos entre os inscritos e concluídos.

  • Como assim, aprendiz?
  • E tudo o mais que a senhora já estudou na área de Educação?
  • E as titulações conquistadas com tanta luta?

Então eu preciso responder a essas pessoas tão queridas que, aprender é um caminho que não tem fim. Lembro-me dos mais antigos que repetiam um ditado popular que dizia: “vivendo e aprendendo”, outros diziam, “morrendo e aprendendo”. Eu penso que isso vale em todas as circunstâncias e situações.

Mas quando se trata do terapeuta, essa verdade se reveste de uma veracidade que chega a ser sagrada.

Se for, terapeuta sistêmico formado pela Escola Real, ainda precisa ter presente o lema “quem se importa serve”.

O terapeuta é alguém que se importa, que se dispõe a servir e a cuidar do Ser.  E cada Ser é infinito, único e irrepetível.  O que significa dizer que aquilo que aprendi ontem para o cliente de ontem talvez não seja válido para o cliente de hoje. As experiências se somam, se multiplicam, se enriquecem, mas não se repetem.

E se o Ser humano é irrepetível, pois o Criador é Infinito, como pode aquele que cuida não se tornar um eterno aprendiz?

O meu velho amigo Pe. Zezinho, lá pela década de 70, 80,  já trazia, numa linda canção intitulada indagação, as seguintes questões:

“Se tu não fazes perguntas

Como pretendes saber?

Onde começam, pra onde é que vão

Essas torrentes que sugam o chão?

Por que uma nuvem procura outra nuvem...?

...Por que é preciso saber que se vem?

Por que é preciso saber que se vai?

Por que se parte buscando as origens?

Por que se volta buscando o futuro?”

Se um teólogo tão sábio, que embalou a fé e sustentou a esperança de milhares de jovens durante décadas de sucesso, instiga a fazer perguntas, porque eu me calaria diante de tantas indagações?

O desafio de hoje é tentar refletir sobre o porque as pessoas procuram os terapeutas que atuam com a Constelação Familiar ou Constelação Sistêmica.

Qual seria a expectativa de quem busca essa alternativa?

Bem... primeiro fui buscar um conceito “oficial”, escolhi o que diz  o Ministério da Saúde em seu Glossário Temático: Práticas Integrativas e Complementares em Saúde.

Constelação Familiar

“Método terapêutico de abordagem sistêmica, energética e fenomenológica, que busca reconhecer a origem dos problemas e/ou alterações trazidas pelo usuário, bem como o que está encoberto nas relações familiares para, por meio do conhecimento das forças que atuam no inconsciente familiar e das leis do relacionamento humano, encontrar a ordem, o pertencimento e o equilíbrio, criando condições para que a pessoa reoriente o seu movimento em direção à cura e ao crescimento”.   (https://socialgoodbrasil.org.br/2021/02/01/pics-conheca-as-praticas-integrativas)

A psicóloga, Olinda Guedes, com quem tenho estudado há alguns anos, em uma de suas aulas informa que

é um tipo de terapia breve porque faz intervenções específicas de acordo com o assunto que a pessoa apresenta, o sofrimento que ela quer resolver. É mais rápida também, porque pressupõe sempre tarefas para o cliente realizar, atividades, leituras para complementar e chegar de modo mais assertivo e rápido, nos resultados almejados” (Olinda Guedes).

É verdade que neste mundo, nada se aplica a tudo, por isso ponho-me a refletir a partir dos clientes que procuram pelos meus serviços terapêuticos. Ressaltando mais uma vez que, nem todos, mas a maioria parece vir em busca dessa “brevidade”, dessa rapidez, querem se livrar de algum sofrimento e já fizeram “de tudo” sem obter o resultado esperado.

Como se esta fosse a sua última tentativa de voltar a ser feliz. Dentre esses existem aqueles que não estão dispostos a assumir as tarefas.

O segundo aspecto a ser considerado é o número dos que vieram porque ouviram falar, e muitas vezes ouviram falar não na “terapia”, mas na pessoa que a realiza, e chegam procurando pela pessoa que faz “alguma coisa” que ele não sabe direito o que é, mas alguém disse que isso é muito bom e poderia resolver os seus problemas.

Claro que também surgem pessoas que trazem uma bagagem de conhecimento, já leram, estudaram ou mesmo já tiveram alguma experiência com constelações e consteladores.

Alguns que inclusive atuam na área mas não apostam no “médico cura-te a ti mesmo” (Lc 4, 23).

Mas os que merecem um olhar muito especial  são aqueles que já haviam colocado um tema em constelação, mas em seguida sente necessidade de olhar esse mesmo tema ou outro tema, mas com um profissional diferente e depois com um terceiro terapeuta e chegam a conclusão de que precisam “maratonar” todos os seus temas em um curto espaço de tempo.

Talvez, com um pensamento mecanicista, tenha imaginado estar diante de uma receita que prescreve que ao tomar uma dose do medicamento e não desaparecendo os sintomas, basta aumentar a dose, duplicando a quantidade. Ou quem sabe, ainda comparando com a medicina, fosse um daqueles casos em que foi indicada a cirurgia mas o paciente sente necessidade de buscar uma segunda e terceira opinião, para sentir-se mais seguro.

E, por vezes, surgem alguns que contaminados pelos pensamentos e pensadores cartesianos, trazem alguns mitos, informações e mesmo conceitos que divergem da linha de pensamento defendida pela Escola Real. Acontece que eu sou Escola Real e não abro mão daqueles princípios que encontram ressonância em minha alma, gerando o pertencimento que me fez vincular a este grupo.

Mas isso atrapalha o trabalho dos consteladores?

Dos consteladores em geral, não sei. Não sei mesmo, pois nunca conversei com outros sobre isso. Mas no meu caso de “Aprendiz de Terapeuta”, não, não atrapalha. Pelo contrário, fortalece aqueles conhecimentos adquiridos e instiga-me a continuar buscando a melhor forma de servir e ajudar.

Nesses momentos eu “sonho” que todo terapeuta sistêmico precisa ser professor, professora, precisa ter disposição para  ensinar,  vontade de entregar conhecimentos.

Eu, por exemplo, não me canso de dizer que cura é processo, é jornada e, que este caminho, nem cliente e nem terapeuta trilham sozinhos, é via de mão dupla, mas nem sempre eu olho para ele, pois algumas vezes, preciso olhar com ele, para poder chegar ao “eu vejo você”. Gosto da comparação com a pedra atirada ao lago, que vai formando ondas a partir do ponto em que o impacto vai reverberando.

Faço questão que o cliente entenda que nem sempre “maratonar” resolve.

Há que deixar a água assentar, pois uma constelação pode trazer tantas informações que poderá levar mais tempo para absorver. E que em vez de sair correndo buscando outra constelação ou outro constelador, quem sabe, seja mais proveitoso aquietar-se, praticar meditação e exercitar o estado de presença e o silêncio.

Claro, realizar as tarefas sugeridas.

Mas não são só esses, atendo também pessoas que chegam sabendo muito bem porque vieram, o que esperam e principalmente onde querem chegar. Nesses casos, o termo “facilitadora” encaixa perfeitamente, pois o meu papel é realmente facilitar o caminho para que eles encontrem os seus próprios destinos.

Mas independente de como eles chegam, o mais importante é como eles se vão. É preciso que tenham, pelo menos, se sentido acolhido, respeitado na sua dor, pois todos eles, de uma ou de outra forma vem em busca de alivio para os seus sofrimentos.

Mesmo aqueles que aparentemente não querem resolver, só querem ter razão.

Se chegarem a compreender um pouquinho o “Por que se parte buscando as origens? Por que se volta buscando o futuro?”  já terão escalado um pequeno degrau, que quem sabe um dia, no seu tempo, se transformará em uma grande escada que o levará ao “movimento do profundo relacionamento com Deus, onde deixamos com Ele o incompreensível, o irreparável e o irrecuperável”. (Guedes, Olinda. Além do Aparente. Curitiba: Appris, 2015, p.61).

 

 

 

 


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