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CARTA AOS ANTEPASSADOS

CARTA AOS ANTEPASSADOS
Raquel Fernandez Diniz Costa
jan. 29 - 2 min de leitura
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Queridos antepassados,

Como é difícil escrever...

Não tenho muito conhecimento sobre vocês, tudo é tão escondido nessa família. Tudo é tão "proibido". Na família do meu pai mais ainda, não tenho praticamente nenhuma referencia, apenas que minha avó era da Bahia e foi casada com meu avô que era árabe. Daí que tenha as minhas enormes olheiras, nada mais...

Meu pai, músico, na época chegou a ter alguma fama e se suicidou. Ponto final na história dessa parte da família que acabou afastada do meu convívio.

A família da minha mãe é composta por mulheres fortes, batalhadoras e que sempre tiveram no comando da família. Família de mulheres dominantes, começando pela bisa que era prima de Lampião na dura Paraíba, sertão brasileiro. Minha avó fugiu de casa para se casar com o meu avô, que vinha de família francesa. A bisa tocava piano e foi criada em braço de escravos.

Meu avô largou tudo para casar com a minha avó e se tornou caixeiro viajante. Ganhou muito dinheiro, mas aparentemente não ligava muito para ele. Nunca teve uma casa própria e bens materiais, vivia simplesmente.

Ao que consta sou muito parecida com essa avó que era muito vaidosa, pintora, escritora, gastadeira, adorava fazer compras. De fato sou muito parecida com ela, gostamos de comer bem e gastar no comércio. Todos já se foram, perdi meus avós antes dos 5 anos de idade e não tenho lembranças, apenas o que minha mãe conta.

Ela sempre diz que meu caminhar lembra o da mãe dela. Tenho essa avó sempre presente de alguma forma na minha vida. Uma época em que eu morava sozinha e estava muito doente, a vi do meu lado cuidando de mim e fiquei boa. Sinto que ela esta sempre cuidando de mim.

Vamos a parte mais difícil, minha mãe... A amo de todo coração, mas como é difícil a convivência. Somos muito parecidas e muito diferentes. Ela é totalmente ligada a guardar dinheiro, guardar, guardar... Tudo é caro e desnecessário, entendo, já passamos momentos difíceis, mas... a vida para mim é mais leve, gosto de dinheiro, mas para gastar, não para guardar.

Vivo o momento, amanhã sei lá...

O passado me incomoda, essa coisa de tudo escondido, família separada. Sinto falta e me sinto só.


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