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A cruz e a estrela

A cruz e a estrela
Antonio Onofre Neves
ago. 27 - 2 min de leitura
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No poema "Inscrição para um portão de cemitério", Mario Quintana (1906-1994) concluiu:

“Na mesma pedra se encontram,/ conforme o povo traduz,/ quando se nasce, - uma estrela/ Quando se morre, - uma cruz./ Mas quantos que aqui repousam/ hão de emendar-nos assim:/ ponham-me a cruz no princípio…/ e a luz da estrela no fim!”

Quintana também disse: “o que mata um jardim/ é esse olhar vazio/ de quem por eles passa indiferente”.

Num outro poema, Quintana escreveu: “e deixa-me dizer-te em segredo/ um dos grandes segredos do mundo: - Essas coisas que parecem/ não terem beleza/ nenhuma/ - é simplesmente porque/ não houve nunca quem lhes desse ao menos/ um segundo/ olhar!”

Houvesse um olhar atento, um segundo olhar, um olhar singular, um olhar que seja, as coisas seriam vistas diferentes. Houvesse um segundo olhar, acaso, muitas crianças e adolescentes não precisariam ir para uma casa de acolhimento e ali ficar por tempo demais, esticando a emenda da cruz no princípio.

Embalando 'as bruxas de pano', o poeta alargou a vista: “As bruxas de pano/ tão maternalmente embaladas/ pelas menininhas pobres/ são muito mais belas/ do que as bonecas suntuosas como princesas/ - orgulho das vitrinas… Essas humildes bruxas de pano/ com seus olhinhos de conta/ suas bocas tão mal desenhadas a tinta/ são muito mais belas porque mais amadas!”

Carecemos dessa ternura no olhar!

E, aqui, eu poderia encerrar essa trilha de crônicas que tenho escrito sobre adoção. Houvesse um olhar singular, nenhuma criança ou adolescente permaneceria acolhido. Todos teriam um pai e uma mãe e poderiam encontrar seu lugar no mundo. Pais capazes de cultivar o potencial criador de cada estrela que nasce, para que ninguém vire cruz antes do tempo. Maria Montessori (1870-1952) bem resumiu esta jornada: “ajude-me a fazer sozinho”. É isso que cada criança e adolescente pede: um segundo, um terceiro e infinitos olhares. A partir de cada individualidade, cuidar do todo. A partir do todo, respeitar cada ser singular. Cuidar da forma e do conteúdo, ensinar o peixe, mas principalmente ensinar a pescar.

Autor: Mario Romano Maggioni


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