Meu pai é filho de um fazendeiro que trabalhou duro para chegar onde chegou tendo pouco estudo. Sempre gostou de narrar jogos de futebol, trepado nas porteiras na fazenda. Hoje ele tem uma rádio. Meu avô conseguiu formar todos os filhos professores.
Minha mãe vem de família humilde, minha avó lavava roupa para fora. Educação rígida, apanhou muito. Muitas vezes sem saber o motivo.
Eles dois se conheceram, namoraram e casaram. Viviam bem, segundo minha mãe conta. Os primeiros anos de casamento não foram fáceis, passaram por muitas dificuldades financeiras. Eu nasci, fui desejada, mas minha mãe sempre contou que se detestava grávida. A única foto que tinha ela rasgou.
Com o tempo as coisas começaram a mudar e meu pai começou a deixá-la sozinha em casa e ir para a rua.
Enquanto morávamos na casinha de baixo, simples, porém acolhedora. Tudo estava ótimo, até que meu avô resolveu fazer uma casa para nós. Casa grande, bonita, mas lá a felicidade não reinou. Minha mãe entrou em profunda depressão.
Hoje eles continuam casados, mas é um casamento de mentira. Ele vive sua própria vida. Há indícios de adultério e minha mãe aceita. Se conformou a essa realidade.
Eu me dou conta diante de toda essa realidade que hoje repito o padrão dos meus pais. Eu vivo relacionamentos abusivos. Tenho dificuldade para dizer não, para delimitar até onde o outro pode ir e muitas vezes me vejo sendo leal à minha mãe e a outras pessoas do meu sistema.
Hoje eu vejo tudo isso e não quero permanecer onde estou como estou!