No fundo, a dinâmica presente na ilusão da existência de um salvador que enfim nos livrará de todos os males, ou nos dará guarida e indicações seguras dos caminhos a seguir é a da criança desiludida e traumatizada. A criança que foi em busca do amor na relação com seus pais e não pôde experienciá-lo em sua plenitude. Como crianças, principalmente como bebês, reagimos muito mal à falta desse enlace incondicional que somente os pais que puderam vivenciar podem também oferecer aos seus filhos.
A pergunta é: quantos pais e mães de hoje tiveram dos seus próprios pais esse preenchimento ansiado por todas as crianças? Diria que muito poucos. Somos descendentes de guerras, calamidades e violências de todos os tipos. Inevitavelmente, fatos trágicos causam traumas profundos que inabilitam os pais a oferecer esse amor. E o medo, a falta e o desamparo são passados de geração em geração. Não há culpados. Há apenas uma sequência de acontecimentos e suas terríveis consequências.
É exatamente nesse contexto que a nossa criança procurou um ponto de salvação, de segurança e de pertencimento e, para suportar a dor do abandono, talvez tenha criado uma imagem que trazia conforto e esperança: um dia surgirá o Grande Salvador para me tirar do caos e do medo, e tudo ficará bem.
Esse Grande Salvador pode ser um guru, um mestre, um profeta, um parceiro afetivo, um namoradinho da adolescência, um político, não importa. O que importa é que reconheçamos a dinâmica que criamos e que possamos tomar de volta a nossa autonomia e força pessoal. Para isso tem ajuda. 😊
Como sabemos, esse Grande Salvador não existe. Trata-se apenas de uma ilusão infantil que serviu para nos afastar da realidade e nos ajudar a sobreviver naquele contexto. Só que isso aconteceu na nossa infância. Agora, adultos, podemos olhar para nossa história com clareza e voltar para o colo que tivemos, da forma como foi. E só há um colo possível onde podemos ter uma referência segura: o dos nossos pais. Ali encontramos a verdade e a olhamos de frente.
Quem faz esse caminho não sucumbe a ideias falsas, ou a soluções mágicas. Segue com a força de sua raiz.
Fiquemos atentos: a ilusão do Salvador vem sempre acompanhada pela ideia constante de que há inimigos lá fora. Esse é um sintoma claro de trauma e dor. Quanto mais pessoas buscam apoio e autoconhecimento, mais garantimos uma sociedade sadia, disposta a olhar sem medo e com clareza a realidade, em detrimento das ilusões. Traumatizados e carentes, estamos suscetíveis a mazelas e dor. Curados e saciados, estamos abertos ao fluxo da paz e da alegria.
Fiquemos gratos, confiantes e fincados às nossas raízes.
Leo Costa - Instituto Alegria
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