É inacreditável o que podemos fazer para nos sentirmos pertencentes à um clã.
É uma necessidade tão grande que podemos renunciar ao tomar a própria vida.
A lealdade cega pode facilmente nos levar à morte e a manter nossos descendentes, que amamos tanto, emaranhados nesse amor cego e dispostos a também morrer.
Isso normalmente acontece porque, em alguma geração do passado, houve um vínculo de amor interrompido em relação a um dos pais.
A partir disso, o filho não pode mais tomar a própria vida e diz ao pai ou à mãe:
-Eu sigo você.
E se esse filho não o segui, os netos olham para a dor de seus pais e dizem:
-Eu vou no seu lugar.
Para as gerações seguintes resta a expiação, tentar compensar com o próprio sofrimento ou morte o que outro membro passou.
Isso se segue até que alguém consiga trazer o problema à luz e tomar a vida pelo preço que ela custou ao antepassado.
Assim ele é honrado e amado de forma consciente.
Quero relatar como vivenciei este amor cego esta semana.
Eu e meu filho, de quatro anos, estamos passando uns dias no sítio que era dos meus nonos e onde passei muito tempo de minha infância.
Estou muito meditativa e lendo o livro “A fonte não precisa perguntar pelo caminho" e por vezes saio passear com meu filho pelos caminhos que eu ainda conheço tão bem.
Um destes dias eu disse a ele que não andasse tão perto do capim à margem da estrada porque podia haver cobras.
Aiai!
O imenso amor cego.
Ele parou e me disse:
-Mamãe, se uma cobra te picar eu vou ficar muito triste, mas depois ela me pica e eu fico feliz novamente porque eu vou te ver de novo.
E disse isso com uma imensa felicidade no rosto.
E o que isso pode ter a ver com meu olhar para a mãe da minha nona, que morreu junto com as duas bebês no parto?
O campo informa!
Acredito que somos vários expiando isso.
Até me faltou ar e a tristeza que senti foi ao ouvir meu filho falar aquilo.
Sei lá, nem tenho como descrever.
Mas certamente é a que os antepassados devem sentir quando somos cegamente fiéis na morte ou no sofrimento.
Me abaixei diante do meu João Vítor e perguntei a ele como ele achava que eu me sentiria se ele morresse.
Aquele biquinho e um choro foram imediatos.
O abracei apertado e também tive vontade de chorar.
Lembrei-o da minha felicidade por ele ter decidido nascer e o quanto eu era feliz por tê-lo comigo. Disse que eu queria que ele crescesse, brincasse e estudasse muito, trabalhasse e pudesse viver muito e ter seus próprios filhinhos e curtir muito eles.
Assim eu estaria feliz mesmo se eu não estivesse mais viva.
Depois disse a ele que eu ainda quero curtir muito a minha vida com ele. Que também quero viver bastante para poder conhecer os filhinhos dele.
Então o sorriso voltou e pudemos seguir nosso passeio. Honramos quando permanecemos vivos e vivemos nossa própria vida.
Honrar é o amor que cura tanto quem vive quanto deixa em paz quem já se foi. Isso pode deixar o passado no passado e trazer novamente a força ao sistema.
As constelações sistêmicas familiares possibilitam a visualização dos traumas e o contato consciente com essa dor.
Com isso é possível respeitar e deixar cada membro com seu destino e sua dignidade.
O que o sistema realmente quer é que todos pertençam em ordem e que a partir disso a vida siga adiante fluindo.
Assim, quem vive sai da inocência do amor cego e assume a culpa, toma a coragem por se desviar daquilo que é predeterminado pela consciência coletiva.
Pode tornar-se, em parte, livre do emaranhamento, se conseguir manter-se no processo de purificação. Por isso as constelações sistêmicas devem ser tomadas como um estilo de vida.
É esse processo de purificação que produz a felicidade real, a que pode permanecer e pode aumentar.
A felicidade que não depende de ninguém mais para existir. Esse processo não nos liberta mas nos torna maiores.
Crescemos!
PS. E para os meus descendentes que estiverem lendo este artigo, reitero o que eu disse, e com o melhor e maior amor que posso ter, os abençoo e digo que vivam plenamente, a cada minuto.
A vida é o sentido!
#Conclusão #Mod2