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A SAIA AMARELA

A SAIA AMARELA
Marga Maia
fev. 2 - 3 min de leitura
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A  imagem da minha mãe e das minhas irmãs no sofá da sala me olhando sair por aquela porta, de um jeito torto, sem nem saber para onde ao certo estava indo, me acompanhou por longos anos. Meu pai não estava em casa. Trabalhava.

Passarinho de asas quebradas, fui ao encontro do "não sei o que". Minhas amigas que foram antes buscaram o curso superior em Belo Horizonte. Na mochila pequena, algumas peças de roupas simples. Não me lembro o que aconteceu dentro do ônibus.

Por vários anos sonhei com ônibus, rodoviária, chegadas e partidas. Ainda é viva em minha memória o encontro com Dona Dorinha e Seu Wilson varrendo o passeio do lado de fora da casa, no bairro Cachoeirinha, em Belo Horizonte.

– Bom dia! Silvania está?

Eles me olharam de um jeito duvidoso e depois fiquei sabendo que a minha amiga Silvania não avisou que eu iria e que brigou para que eu ficasse. Sou eternamente grata. Quanto tempo me aguardava pela frente!

No espelho eu via uma menina de cabelos estressados e despenteados, desajeitada e desorganizada. Haviam se passado três anos desde a morte do meu irmão. Eu tentava voar mas as minhas asas estavam quebradas. Decidi que iria viver para recuperar as asas.

Oito anos depois eu recebia a carteirinha do Sindicato dos Artistas de Vitoria, como atriz. Antes que socióloga. Várias foram as tentativas: aula de jazz, cursinhos, violão clássico, teatro, literatura e poesia. Me lembro do uniforme cor de rosa das meninas loiras e cheirosas daquele ambiente tão diferente do meu na escola de Jazz. Não voltei mais para aula. No palomar, algumas aulas e a inscrição para vestibular para Direito. Não concluí. A Mostra Pasolini eu concluí no Palácio da Artes. Ia sozinha e até hoje me pergunto onde estavam os meus amigos.

Da casa de Silvania encontrei acolhimento em outra amiga, Senir, uma mulher à frente do seu tempo. Rodas de conversas ao som de violão e composições musicais, idas e vindas ao Onhas do Jequi, aquele barzinho lá na Praça da Liberdade. Eu vendia poemas. Haviam duas em mim. Uma poetisa, artista, estudiosa e a outra menina ferida de asas quebradas, querendo voar.

Um dia de sol muito quente, subindo as escadas dos correios de Belo Horizonte, decidi que não mais queria ficar ali. Saí depressa pelos trilhos, de mistérios ansiosos, jogando bagagens pelo ar. Foi o sol que me empurrou, o senti forte naquelas escadas dos correios.

O sol me empurrou e a lua me acolheu.

A minha saia era amarela, naquele dia que fui para a rodoviária rumo ao Espírito Santo. Eu vi o mar!

 

Demoiselle Vintage : Decoupage


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