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A SALA DE AULA EM ORDEM

A SALA DE AULA EM ORDEM
Marga Maia
jan. 13 - 24 min de leitura
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Compartilho uma parte do meu trabalho de conclusão de curso que versa acerca de cognição e emoção, tratando a família de origem como elemento integrador das emoções na dinâmica do ensino e da aprendizagem.

Um ano antes da aprovação do Plano Nacional de Educação, PNE, em 2013, o Conselho Nacional de Educação - CNE (MEC) encomendou à UNESCO um estudo sobre a inserção intencional de práticas pedagógicas voltadas ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais como caminho para o sucesso escolar na educação básica.

Em 2014 foi aprovado no Brasil o Plano Nacional de Educação (PNE) que tem validade de 10 anos, e de acordo com as orientações contidas no LDB/96, estabelece diretrizes, metas e estratégias que devem reger as iniciativas na área da educação. Por isso, todos os estados e municípios devem elaborar planejamentos específicos para fundamentar o alcance dos objetivos previstos — considerando a situação, as demandas e necessidades locais.

Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

Para cumprir o PNE foi instituía a Base Nacional Comum Curricular. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), criada com o objetivo de orientar a elaboração dos currículos de todas as escolas brasileiras, adota dez competências gerais que perpassam todos os componentes curriculares de toda a Educação Básica.

Assim, a BNCC prevê que os estudantes desenvolvam 10 competências gerais, incluindo cognitivas e emocionais, para a sua formação ao longo da educação básica.

Entre as 10 competências está aquela de número oito (8) relacionada de forma direta a esse estudo: conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. Trata-se, portanto, da inteligência emocional. E pode ser aprendido, com a educação emocional.

O conceito de inteligência emocional surgiu em 1990 nos trabalhos de Peter Salovey e John Mayer. Na primeira publicação, de natureza teórica, os autores propuseram uma definição inicial de inteligência emocional como sendo “a habilidade para controlar os sentimentos e emoções em si mesmo e nos demais, discriminar entre elas e usar essa informação para guiar as ações e os pensamentos” (Mayer, DiPaolo, & Salovey, 1990, p. 189 apud Neta Garcia; Gargalo).

As primeiras publicações dos resultados empíricos mostram como a inteligência emocional poderia ser considerada como uma habilidade mental. Contudo, somente no ano de 1995, o psicólogo Daniel Goleman (1995), tornou popular o conceito com a divulgação do seu livro Inteligência Emocional, tendo por base estudos sobre o cérebro, as emoções e a conduta.

Acrescentando vários atributos da personalidade ao conceito inicial, Goleman causou uma certa tensão no meio acadêmico, acusado de não apresentar uma definição clara de inteligência emocional (NETA, GARCIA & GARGALO).

Diante dos embates na esfera conceitual, os primeiros autores fizeram uma revisão para garantir a cientificidade do termo, que ficou assim:

A inteligência emocional implica a habilidade para perceber e valorar com exatidão a emoção; a habilidade para acessar e ou gerar sentimentos quando estes facilitam o pensamento; a habilidade para compreender a emoção e o conhecimento emocional, e a habilidade para regular as emoções que promovem o crescimento emocional e intelectual (Mayer & Salovey, 1997/2007, p. 32).

Pode-se traduzi-la em quatro níveis:

  1. A percepção e identificação emocional se referem à habilidade para perceber e identificar as emoções próprias e alheias, incluindo na voz das pessoas, nas obras de arte, na música, nas histórias;
  2. A facilitação emocional, envolve a habilidade para usar as emoções para facilitar os processos cognitivos (na solução de problemas, tomada de decisões, relações interpessoais);
  3. Compreender a emoção implica conhecer os termos relacionados com as emoções e as formas como estas se combinam, progridem e mudam;
  4. Regulação emocional, trata da habilidade de saber usar estratégias para mudar os próprios sentimentos e saber avaliar se elas são eficazes ou não.

Mayer e Salovey (2007) propõe com isso, que a emoção nos faz pensar mais inteligentemente e, por outro lado, pensamos inteligentemente sobre as emoções.

Agir inteligentemente significa pensar sobre as emoções, tornando consensual a ideia de que a inteligência emocional não está distanciada do aspecto cognitivo, tendo em vista que compreender as próprias emoções e a das outras pessoas implica uma observação cognitiva.

Nesse sentido é possível falar de uma educação emocional.

O modelo de habilidades de John Mayer e Peter Salovey, se concentra exclusivamente no processamento emocional de informações e no estudo das capacidades relacionadas a esse processamento.

A partir dessa teoria, a IE é definida como a capacidade das pessoas de atender e perceber sentimentos de maneira adequada e precisa, a capacidade de assimilar e entendê-los adequadamente e a capacidade de regular e modificar nosso humor ou o de nossos sentimentos.

Às vezes, pessoas com grande capacidade de percepção emocional carecem de compreensão e regulação emocional.

Essa capacidade pode ser usada em si mesmo (competência pessoal ou inteligência intrapessoal) ou em outros (competência social ou inteligência interpessoal).

Nesse sentido, a IE difere da inteligência social e das habilidades sociais, pois inclui emoções internas e privadas importantes para o crescimento pessoal e o ajuste emocional. Por outro lado, os aspectos pessoais e interpessoais também são bastante independentes e não precisam estar ligados.

Temos pessoas muito hábeis em entender e regular suas emoções e muito equilibradas emocionalmente, mas com poucos recursos para se conectar com outras pessoas. O oposto também acontece, porque existem pessoas com uma grande capacidade empática de entender os outros, mas que são muito desajeitadas para gerenciar suas emoções. Fernández-Berrocal, Pablo; Extremera, Natalio: Inteligência emocional como habilidade. OEI-Revista Ibero-americana de Educação (ISSN: 1681-5653).

Daniel Goleman abre o segundo tópico do prólogo do seu livro Inteligência social com a frase: Fomos programados para nos conectar. É possível perceber a relação com o pensamento sistêmico, de Bert Hellinger: somos movidos por nosso sistema de origem, nossa primeira conexão e a decisiva para as futuras relações, em todos os níveis. Pertencemos todos, a vários sistemas.

Mas quais são as características do pensamento de Hellinger, o que significa Leis Sistêmicas? As Leis sistêmicas, também chamadas de As Ordens do Amor, são as Leis que atuam na dinâmica das relações humanas.

A primeira é a Lei do pertencimento. De acordo com esta Lei, todos que entram no sistema dele fazem parte, não admitindo nenhuma exclusão. Todos têm o direito do pertencimento, as ligações consanguíneas e todos aqueles que de certa forma participaram do destino da família. Um ex-noivo, por exemplo. Quando alguém do sistema é excluído, membros da próxima geração tentarão reintegra-lo por necessidade de compensação.

A segunda Lei Sistêmica é da Hierarquia. Todos pertencem, mas de um determinado lugar. De acordo com Hellinger o ser humano é estruturado pelo tempo e a ordem de chegada ao mundo deve ser vista e respeitada. A consciência coletiva, a memória do todo é mais forte que as partes.

Neste sentido, quando as pessoas estão fora de seus lugares, pode-se olhar para possíveis emaranhamentos, que têm como efeito o sofrimento vivenciado, tanto na família como nas organizações. Por lealdade ao sistema e pela necessidade de pertencer, os membros de uma família sempre buscarão de forma inconsciente, reparar as injustiças.

O conflito da família onde filhos se sentem maiores que os pais são variados, vão desde as brigas, xingamentos e desrespeitos mais comuns até aqueles onde filhos não falam mais com os pais, ou que falam tão mal dos pais que agem em sua vida exatamente como eles, sem se dar conta disto.

É muito comum, por exemplo, filhos assumirem a dor da mãe numa situação de separação dos pais, excluindo o pai. É muito significativo a exclusão dos pais. Essas relações aparecem na escola na relação do professor e aluno, quando não existe consciência do lugar em que cada um ocupa. E, nesse sentido, também o professor deve reconhecer o seu lugar como professor, destituído de qualquer atributo paterno ou materno.

O Equilíbrio entre o Dar e o Receber é a terceira Lei Sistêmica. Há uma necessidade de compensação entre perdas e ganhos, dar e receber, atuando em todos os níveis. consciente ou inconscientemente, tem-se a necessidade de compensação, e às vezes isso ocorre fazendo com que se perca algo, com que se vivencie algo de ruim, mesmo sem a aparente necessidade ou sem se perceber de onde isto vem.

O único desequilíbrio permitido no sistema é entre os pais e filhos. Por mais que os filhos deem nada se compara à vida que receberem. Só quando se tornarem pais, realizarem a criação, ou um projeto coletivo, quando adultos, é que vem a possibilidade do equilíbrio.

A Lei do equilíbrio atua tanto em coisas positivas quanto negativas.

Não está equilibrado uma relação em que apenas um se dedica e o outro só recebe, a tendência é o relacionamento se dissolver. Aquele que recebe mais não suporta a pressão de não retribuir à altura. Na abordagem sistêmica, Bert Hellinger demonstrou que fazemos parte de uma grande alma que conecta todos os membros de uma família.

E pela observação sistêmica, sem julgamentos, percebemos como amamos nossos pais e somos leias à nossas famílias. Por isso, muitas vezes buscamos a lei do equilíbrio para compensar os sofrimentos dos pais ou parentes de gerações anteriores, assumindo as dores que não são nossas.

Os educadores observam diariamente que seus alunos, além de diferir em seu nível cognitivo, também diferem em suas habilidades emocionais. Essas diferenças afetivas não passaram despercebidas nem pelos pais, nem pelo resto dos colegas de classe, nem pela ciência.

Na última década, a ciência mostrou que esse conjunto de habilidades pessoais tem uma influência decisiva na adaptação psicológica do aluno em sala de aula, no seu bem-estar emocional e até nas realizações acadêmicas e no trabalho futuro.

Uma das linhas de pesquisa e estudo que enfatiza o uso, a compreensão e a regulação dos estados de humor é o campo de estudo da inteligência emocional.

Realizar este trabalho em formato de Oficina, com as primeiras séries do ensino médio, foi um grande desafio. Como mostrar a um adolescente as Leis do Amor, a lei do pertencimento de Bert Hellinger, quando este adolescente está furioso com o seu pai ausente, com um pai que abusou da filha, que se droga, que sumiu no mundo e nunca mais apareceu?

Convencionou-se que os pais separados seriam unidos com um coração para representar o sangue que corria na relação entre eles, consanguínea. A atividade foi realizada com todas as turmas das primeiras séries e ao final do processo foi realizada uma exposição na Semana Cultural com os alunos apresentando os resultados em forma de oficinas para os convidados.

Todos os corações das famílias foram expostos bem como os enunciados da atividade.

De acordo com Franke, o respeito que nós, professores, temos pela criança é nada mais que o respeito por sua família de origem e isso inclui também o respeito pelo destino da família toda, não importante se, do nosso ponto de vista, isso atua de uma forma que fomenta ou obstrui seu desenvolvimento e sua disposição para aprender. ... reconhecer o destino tal como ele é; renunciar a querer ajudar o estudante e superar as limitações de sua família de origem (2018, p. 43)

No momento da Oficina a diversidade de configurações da família é evidente, e a motivação e reconhecimento por parte dos estudantes, do direito de todos os membros da família de pertencer, é fundamental para a dinâmica. A ação coletiva de encaixar sua família no lugar de origem, cada um com a sua família, promoveu um diálogo espontâneo, na sala de aula.

Na conversa, frases do tipo: A família é meu chão; Tudo começa na família.

Aluno A: - Professora posso colocar o meu padrasto no lugar do meu pai? Todo mundo tem um genitor-pai e todo mundo tem uma genitora-mãe. O aluno A, que vou chamar aqui de Esdras não conseguia incluir o seu pai no desenho, e enquanto recortava os bonequinhos era visível a sua revolta.

Levou o material para casa para entregar na próxima aula, mas não conseguiu, disse não ter se lembrado. Foi lhe dado mais um tempo. Fizemos a atividade do Jogo Familiar pedindo aos colegas, que um deles representasse o pai de Esdras, e outro, representasse o próprio Esdras. O que o campo mostrou foi um sentimento de tristeza do pai por se sentir excluído.

O representante de Esdras disse ao pai, com a orientação da professora: – Pai, o que houve entre você e a mamãe é problema de vocês, isso não me diz respeito. Vocês resolvem como adultos. O que sei é que eu sempre serei o seu filho e você sempre será o meu pai. O representante do pai se emociona e abraça o representante do Esdras. – Eu sinto muito por tudo que aconteceu, você é o filho certo para mim e, realmente, o que houve com a sua mãe e eu, nós resolvemos.

Pergunto ao Esdras: - Como se sente? – Bem, professora, eu não sabia que o meu pai sentia tanto, mas no fundo eu sempre desconfiei. Eu disse a ele que de acordo com o pensamento sistêmico de Hellinger, a separação ocorre entre o casal, o homem e a mulher. Os pais permanecem para sempre em nossa herança genética, psíquica e emocional. Esdras disse: - Isso é verdade, todos falam que eu me pareço muito com o meu pai.

BRAGA (2017, p. 07) em seu artigo Psicopedagogia e constelação familiar sistêmica: um estudo de caso, mostra que, nos sistemas familiares, é comum a observação de sentimentos de vazio ligados a não receber (tomar) os pais, o que significa que os filhos querem receber apenas o que é bom dos pais, e rejeitar o que não é bom. Para tomar os pais é necessário receber tudo o que eles têm de bom e de ruim.

Não é possível selecionar, separar. Muitas vezes os pais estão disponíveis - prontos para se relacionar com o filho apenas como são, com o que têm (não é possível dar aquilo que não se tem). E o filho critica, julga, condena, nega, reclama e simplesmente não recebe, não toma seus pais.

O que traz solução é o bem, o respeito, ainda que não exista a experiência da relação de amor. Outros tipos de compensação, que na maioria das vezes estão vinculados ao sofrimento das pessoas, não trazem solução, apenas causam mais desequilíbrios sistêmicos (2017, p. 7).

O pensamento sistêmico de Hellinger e, Mariane Franke, aplicado à educação, não pressupõe nenhuma mudança na organização da escola nem de conteúdo. É uma nova forma de olhar o aluno, olhando primeiro para o seu sistema familiar e o respeitando tal como é. O respeito às leis sistêmicas propõe uma mudança na perspectiva do professor.

  • Reconhecer o seu lugar na sala de aula e na estrutura da escola: “Eu sou apenas a professora”. Esta é uma frase clássica que demonstra o lugar que o professor ocupa na escola. Não se coloca melhor do que os pais;
  • Honrar o lugar dos pais. Eles estão em primeiro lugar na vida dos filhos;
  • Eu vejo você. Você é um de nós. Essa frase é o título do livro de Marianne Franke que mostra a importância de olharmos para os alunos como eles são, sem julgamentos.

Conjugamos exercícios da educação emocional com a chamada temática, em que o aluno no lugar de responder presente, fala como está se sentido naquele momento. A primeira consequência revelada foi a melhora no relacionamento professor-aluno. Ao chegar na sala, muitos pediam: professora vamos fazer a chamada temática e sugeria um tema. Criou-se empatia.

Frase do Aluno B: - Eu não tenho pai. Meu pai nunca me quis. Meu pai nos abandonou. Meu pai nunca me amou. O desenvolvimento da atividade a partir desses depoimentos foi a colocação de representantes dos alunos e de seus pais para verificarmos as dinâmicas ocultas.

Muitas vezes, o aluno perguntava: - Eu posso colocar o meu pai bem longe? Eu posso jogá-lo pela janela? No momento em que se promove o encontro entre os representantes do pai e filho, é visível o conteúdo emocional que emerge: - Eu respeito a vida que você me trouxe.

Hellinger nos mostra que somos visceralmente vinculados ao nosso sistema e ao seu destino, consciente ou inconscientemente, por lealdade, acabamos por assumir o destino e as dores de membros de nossa família. O aluno B, revelou em alguns momentos que também se parecia muito com o seu pai.

É possível ver nos desenhos a distância e o lugar que os membros da família ocupavam no sistema. Isso era como uma foto da visão emocional, como os sentimentos agrupavam cada um. Exemplos de alguns dos trabalhos:

Material 3. Feito pelos alunos na oficina

Material 4. Coração da família em exposição na Semana Cultural. Feito por alunos.
Ocorreu do aluno A, Esdras, pegar um coração menor para a montagem dos bonecos que representavam os membros da sua família. A metáfora que serviu de gatilho mental para ele foi: Esdras, você precisa abrir o seu coração para aceitar a sua família. O efeito desta simples frase é notável na expressão do estudante que muitas vezes responde: - isso faz sentido, professora.

Um registro importante foi do aluno B que respondeu à pergunta: como você sente o seu lugar no mundo? -Eu sinto falta do meu pai. E com o coração que ele montou ele mesmo disse:- Mas ele sempre está comigo, mas gostaria de vê-lo. Nota-se uma abertura para a expressão do sentimento do aluno, fundamental na educação emocional.

Ao final dos trabalhos foi pedido para que os participantes escrevessem um depoimento sobre o seu processo, o que sentiu ao realizar a atividade. No depoimento abaixo, de Esdras, temos:

Fazer esse trabalho foi uma experiência boa. Com ele aprendi que meus pais se separam como marido e mulher e não como pais. Aprendi também que eu devo agradecer e respeitar a vida em mim, os respeitando. Mesmo que eu não tenha tanto contato e convívio com o meu pai, ele foi essencial para a minha existência e eu devo agradecê-lo por isso (Aluno A).

  • Depoimento do aluno A

No depoimento abaixo, do Aluno B, que se identificou com o codinome Lucas, mostra a sua compreensão sobre a importância da relação familiar.

  • Depoimento do Aluno B

Alguns alunos relataram que a relação com os pais mudou depois de terem feito a atividade. No depoimento abaixo, da aluna C, observa-se quando ela diz: - Tive
vários sentimentos., os resultados importantes dessa atividade sistêmica, que retrata a abertura para a expressividade do aluno e reconhecimento dos próprios sentimentos.

  • Depoimento da Aluno C

Trabalhar com atividades sistêmicas significa prestar atenção aos sentimentos expressados espontaneamente por parte dos representantes dos membros da família. Quando era feito o Jogo Familiar em que os colegas representavam pai, mãe ou irmãos de quem estava no jogo, o sentimento de cada representante fazia ressonância com os sentimentos daqueles que só assistiam o processo.

E depois, era solicitado que falasse, caso sentisses vontade, sobre o que percebeu com a atividade. Alguns depoimentos do tipo: - A história dela se parece muito com a minha. Senti emoção na hora que ele reconciliou com o pai, etc. Finaliza sempre com uma atividade de relaxamento mental.

Observou-se no processo de análise dos dados que o envolvimento dos alunos na troca de experiências, com o apoio da professora, são algumas das maneiras de promover o sentimento do pertencimento à escola e de empatia, fundamental para o sentimento de grupo, base importante do aprendizado.

O compartilhamento dos corações da família promoveu solidariedade na medida em que aqueles alunos em situação difícil com a família, eram abraçados pelos colegas que diziam: - Ele é o seu pai, ele também já foi criança e teve problemas, ele não é um herói e apenas um ser humano.

A família é parte integrante da escola. O reconhecimento do papel da família e o papel da escola promove o respeito mútuo, e esta é uma condição necessária para o desenvolvimento pleno do aluno. Sentir que a escola respeita a sua família é uma atitude curativa.

Considerações Finais

Neste caminho através de diferentes abordagens da educação emocional e do pensamento sistêmico, ficou evidente que o pressuposto básico para todo tipo de aprendizado é a experiência.

A Educação Sistêmica, abordagem desenvolvida por Bert Hellinger e Marianne Franke -Gricksch, ambos alemães, educadores e terapeutas, traz à luz as leis que regem a relação entre a escola, a família e os professores, e mostra de forma clara e objetiva, que é possível, por meio da observação atenta nos exercícios sistêmicos, perceber que cada um tem o seu lugar, cada um tem sua própria importância nesse lugar, e invadir o limite do outro é uma das principais causas dos conflitos que enfrentamos na escola.

A observação prática e o reconhecimento das Leis Sistêmicas dentro de um sistema, traz equilíbrio emocional nas relações. Assim, por meio do reconhecimento das Leis ou Ordens que regem as relações humanas e, consequentemente, as relações entre os elementos de um sistema – como a escola, neste caso – ampliamos a percepção do lugar que cada um ocupa. É a partir desse lugar, que podemos atuar em força plena de realização.

A força que vem dos pais e com eles toda a ancestralidade.

Os pais trazem a vida. Aceitar a vida tal qual ela é, sem julgamentos, é um passo importante para relações mais saudáveis rumo a um futuro próximo, em que o estudante adolescente poderá inclusive, traçar novos caminhos. E, nesse sentido, aponta também novos caminhos para a proposta de interface entre o conteúdo emocional, aqui traduzido como pensamento sistêmico de Bert Hellinger, e a intervenção na psicopedagogia.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, nº 248, 23 dez. 1996. Disponível em. Acesso em: 06 abr. 2012. FRAGA, Ana L. A. Psicopedagogia e constelação familiar sistêmica: um estudo de caso. Rev. psicopedag. vol.26 no.80 São Paulo 2017.
FRANKE, Marianne, Você é um de nós, São Paulo. Ed: Atman, 2005 FRANKE, Úrsula. Quando fecho os olhos vejo você, São Paulo. Ed: Atman, 2006
GOLEMANN, Daniel. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
GARDNER, Haward. Inteligências múltiplas, a inteligência na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. Rio de Janeiro : Campus, 1999.
HELLINGER, Bert. Ordens do amor, São Paulo. Ed: Cultrix, 2001
_______________. Constelações Familiares, São Paulo. Ed: Cultrix, 1996
SALOVEY, Peter; SLUYTER, David J. (org.). Inteligência emocional da criança.
Rio de Janeiro : Campus, 1999.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

 

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