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A vida de um seguidor de Francisco de Assis

A vida de um seguidor de Francisco de Assis
Jose Soligo
jun. 16 - 6 min de leitura
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É claro que vai ter textão... mas as palavras não cabem!

Deve ser um grande motivo de orgulho para quem nasce em Assis ser conterrâneo de São Francisco e Santa Clara. Também podemos dizer que quem nasce em Lisboa deve ter um grande orgulho por ser conterrâneo de Santo Antônio. Enfim, saber que você tem uma ligação geográfica com um grande santo ou personalidade faz o coração se encher de gratidão. Assim eu me sinto por ser conterrâneo de um santo que agora é acolhido no céu, frei Rui Guido Depiné.

Não tive muita oportunidade de conviver com ele em Rodeio. Apenas o vi na ordenação do meu irmão. Mas foi em Piraquara que eu o conheci. Com suas limitações (como todos nós temos) mas que nem se comparavam com as suas marcas de santidade. Eu ousaria dizer que enquanto ficamos na discussão do que é uma Igreja em Saída, ele já tinha “saído” há muito tempo e transformado as palavras do Evangelho em vida e prática.

A Igreja em saída pede que os pastores tenham e conheçam o cheiro de suas ovelhas. Frei Rui sabia onde elas moravam, visitava suas casas e nunca deixava as ovelhas sem um alimento ou o que precisasse. Na tal Igreja em saída falamos de que devemos ser um “hospital de campanha”, e o frei Rui concretizou isso com aquela sua Kombi que saia por aí levando alegria para os mais necessitados de sua região com brinquedos, roupas, comida... Ninguém nunca saía de sua presença sem um presente, mas ele mal sabia que o simples contato com ele já era o maior dos presentes. A Igreja em saída também se faz numa experiência ecumênica. Frei Rui era um claro exemplo disso, unindo forças com outros corações generosos para garantir o pão aos mais necessitados (Josy Ferraz).

Enfim, eu teria tanta história pra contar, como tantos outros. Eu quero ressaltar uma: numa reunião de freis nós estávamos discutindo o que significava a palavra MISERICÓRDIA. Frei Rui chegou atrasado e acabou não pegando a discussão mas pediram pra ele falar algo sobre o tema, numa partilha. Ele disse que estava voltando pra casa de carro numa noite de chuva quando viu dois jovens na calçada, que se levantaram quando o carro dele estava vindo. Como ele sempre fazia, parou para oferecer carona a eles. Eles se entreolharam, entraram no carro e foram até o destino. No final da “corrida” desse uber franciscano, frei Rui ainda deu “vintão” pra cada um pois a sua generosidade se esparramava. No dia seguinte, frei Rui estava no seu escritório (que era um batistério adaptado) e eles apareceram lá, devolveram o dinheiro para ele e disseram que não podiam ficar com o dinheiro pois estavam planejando assaltar um carro, e ele, passando naquela hora, acabou sendo o alvo. Quando levantaram para parar o carro, tomaram a surpresa de ver o carro parando e oferecendo carona. Eles ficaram sem ação pois tinham uma arma em baixo de sua camisa para assaltar, mas não conseguiram fazer isso diante de tanta generosidade. E frei Rui definiu misericórdia como sendo a de Deus para ele por não ter acontecido nada de mais grave. Mas ele nem percebeu que ele foi canal da misericórdia ali!

Frei Rui, eu nem preciso dizer para você descansar em paz. Só pode ter paz um coração que viveu em plena caridade. Só pode estar com Deus um homem que viveu pelo Reino, pois se a santidade é a total dedicação ao Reino, você é santo! Obrigado pela oportunidade de sermos conterrâneos, quase fazermos aniversário no mesmo dia, sermos confrades, mas especialmente, por você me mostrar que não importa o que as pessoas vão pensar de você, mas importa é que o Cristo, que está nos mais pobres e necessitados, seja atendido em suas dificuldades. 

Naquele batistério do seu escritório, enquanto você treinava as suas homilias para nós avaliarmos, eu era “batizado”. Naquela capela do leprosário enquanto eu rezava com você eu me “limpava de minhas lepras”. Naquela mesa que sentávamos para lanchar na casa das irmãs eu aprendi que a mesa de um franciscano sempre cabe mais um (Rosa Mary, Frei Eduardo Schiehl, frei Diego Melo Ofm, Leandro Silva). Naquela distribuição de materiais aos mais pobres, eu mesquinho, querendo fazer as cestas básicas com o mínimo, aprendi que a generosidade faz multiplicar os dons, pois quem divide, na lógica de Deus, multiplica. Enfim... teria tanta coisa...

Frei Rui, vou te pedir um último favor, como um confrade, conterrâneo e admirador. Agora que você está mais perto de Deus, intercede por nós aqui. Olha pelos pobres que você tanto amou e que estão passando por um tempo tão difícil, e tenha misericórdia deles. Chega com seu jeito simples, bem humorado e criativo e manifesta nosso clamor por cura, paz e dignidade. Sabemos que são nossas escolhas que nos colocaram nessa situação. Sabemos que o Cristo sofre em cada pobre sofredor. Então inspira as nossas escolhas para que sejam mais voltadas ao bem, ao amor... Você não vai mais pilotar aquela kombi branca que levava esperança pra tanta gente, mas desde que o conhecemos, nós estamos tentando fazer um pouquinho disso, apesar de ainda sermos tão mesquinhos, vis e limitados. Sabemos que aquele batistério/escritório talvez agora esteja um pouquinho mais arrumado, mas preferíamos a sua bagunça de quem sempre se organizava para amar o próximo. Fica a lembrança e o desejo de possuir esse mesmo vigor por viver o Evangelho.


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