Comecei a assistir a série La Casa de Papel, que é sobre um plano de assalto ao banco da Espanha, e me percebi envolvida com a série. Parei para pensar o que havia de fato ali, o que me movia a emendar um episódio no outro. Vi que, além da inteligência da série, que é admirável, havia algo mais sutil que pode dar prazer em assistir: uma suposta vingança.
Na série tem uma ideia do assalto ao banco como uma vingança por danos coletivos causados por sistemas de poder (Estado, Instituições financeiras, etc…).
Na Constelação Familiar essa dinâmica é chamada de compensação arcaica (em que causo um dano para tentar compensar outro dano). Para que essa dinâmica ganhe força, uma pessoa (ou um sistema inteiro de pessoas) é visto como agressor(a) e outro(a) como vítima.
O prazer e o riso sádico acontece quando a vítima se vinga e o agressor se torna vítima como ela. Essa dinâmica de vítima e agressor fica ainda mais complexa quando envolve grandes sistemas, como sistemas de poder ou sistemas familiares. Quer dizer, em um nível grosseiro ou sutil, um clã familiar é visto como vítima e outro clã familiar como agressor.
O Mahabharata, um dos escritos mais antigos do mundo, traz uma mitologia em que clãs familiares causam danos e se vingam entre si, se revezando nos papeis de vítimas e agressores por várias gerações, uma espiral crescente de conflito. Essa dinâmica pode ser infinda, sem começo nem fim, desde antes do Mahabharata até onde se sabe.
E será possível sair dessa dança entre vítimas e agressores?
Talvez, pelo menos a nível pessoal, seja possível assumir a sua própria parte da responsabilidade. A quebra desses jogos mentais pode acontecer quando se reconhece em si e no outro a sua condição verdadeira, a natureza criativa e luminosa que produz esses papeis, ou que escolhe vestir esses papeis por fidelidade às dores do sistema familiar.
O que acham?