Durante o meu crescimento eu escutei muito as pessoas falarem sobre o quão generosa era minha família adotiva e como era importante eu focar naqueles que me desejaram ao invés dos que não me desejaram. Eu sei que a intenção dessas pessoas sempre foi a melhor possível, porém, isso muitas vezes me levou para o menos ao invés do mais. Por muito tempo carreguei uma sensação de divisão interna e de culpa, sem entender bem de onde esses sentimentos vinham.
Muitos consideravam que eu deveria sentir raiva da minha mãe biológica, que isso seria normal, mas poucos me falaram que seria normal e ok também se eu amasse ela. Quando comecei a querer entender melhor essa relação me sentia culpada, pois eu já tinha uma mãe que me amava muito e cuidava muito bem de mim, como eu poderia desejar mais que isso? Apesar de a minha mãe adotiva permitir, eu me preocupava sim em querer mais e magoar ela por isso, foi necessário um grande caminho até eu entender que era possível sim ter as duas e que eu não precisava escolher só uma. Dar esse passo foi essencial na minha vida, pois enquanto eu acreditava que só poderia ter uma delas eu não tinha nenhuma. A relação com a minha mãe adotiva ganhou uma nova força quando a minha mãe biológica nasceu em meu coração.
Encontrar pessoas que respeitavam minha família biológica e me mostravam que eu também poderia fazer isso, que era um direito meu incluir e conhecer melhor essa parte da minha vida foi imprescindível. Por muitos anos eu não enxerguei a importância disso, por isso sou grata a minha familia adotiva que insistiu em me mostrar o caminho e ao meu pai e irmão que nos apoiaram.
Uma das minhas motivações para compartilhar a minha história como filha adotiva é ajudar pessoas que passaram por situações parecidas como a minha e também para que os que não passaram entendam melhor como se sente alguém que passou. Sei que é muito mais fácil mudarmos uma percepção internamente ao invés de esperarmos que os demais mudem, porém desejo realmente que crianças adotivas possam cada vez mais encontrar um discurso mais respeitoso sobre adoção, principalmente no que diz respeito aos seus pais biológicos, pois muitas delas precisarão dessa força externa para poderem fazer o mesmo.
Abraços, Mari.
Mariane Bridi Di Domenico
www.facebook.com/mariane.bridididomenico
www.instagram.com/maribrididomenico/