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Agora eu vejo

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Neiva Maria de Mattos
set. 20 - 7 min de leitura
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Neiva Maria de Mattos

Quando eu era pequena, meu grande sonho era ser professora em alguma fazenda.

Eu ouvia pela rádio da minha cidade, um programa chamado “A Hora do Fazendeiro”, que era um momento dedicado exclusivamente a enviar os recados para as fazendas e entre uns recados e outros se tocava música sertaneja. E quando eu ouvia um recado avisando alguém que a professora iria chegar, e que era preciso espera-la a beira da estrada ou da linha do trem com um bom cavalo, eu fechava os olhos e me via chegando em alguma escolinha coberta de sapé.

Mais de quarenta anos depois, quando terminei o mestrado em Educação, já na Vida Consagrada, Deus me chama para a Missão no Amazonas. Eu já havia pedido isso uma vez, mas não fora aceita. Agora essa bênção vem como quando a gente dá um doce, ou mesmo a chupeta para a criança parar de chorar. Pois eu havia perdido naquele ano de 2000, o meu querido irmão João Flávio. Uma dor que não tem nome. E em 2001, veio a surpresa. Primeiro fomos conhecer alguns lugares, comunidades e paróquias, para depois decidirmos com as autoridades, onde nos estabeleceríamos. Lembro-me de ter conhecido na beira de um “ramal” no município de Rio Preto da Eva, uma comunidade onde um garoto, (não sei se ele teria 18 anos), num rancho de sapé ensinava, gratuitamente as crianças da comunidade. Ele estava feliz, porque tinha conseguido que a prefeitura, de vez em quando, enviasse alguns mantimentos para ele preparar, alguma merenda para as crianças. E quando o padre ia celebrar na comunidade, (muito esporadicamente), ele também deixava algum dinheirinho (quantia pouca), mas que o garoto-professor agradecia muito.

Depois dessa conversa, ouvi uma das irmãs dizendo para a outra:

- Vamos embora logo daqui, senão Neiva vai querer ficar aqui mesmo. Veja como os olhos dela brilharam.

Achei graça. Mas torci para que assumíssemos algo naquela região. Mas não foi dessa vez.

O Arcebispo da Arquidiocese de Manaus, preferiu que instalássemos a comunidade em outro Município. Lá fui eu, para Presidente Figueiredo – Terra das cachoeiras. Um lugar mais que lindo, cidade pequena com jeito de metrópole, movimento de pessoas que entram e saem, muitas oportunidades de turismo, a riqueza ao lado da pobreza e eu ali, tentando ajudar as minhas irmãs a administrar uma “paróquia sem padre”...  Mas... Educação é sangue que corre em minhas veias. Algumas vezes por semana ia para a Capital participar de um trabalho de pesquisa, como voluntária, na Universidade Federal e ministrava aulas na Faculdade Salesiana Dom Bosco. Foi um dos melhores momentos da minha história.  Mas não era só isso o que meu coração ansiava... Parti para a grande experiência de pobreza, silêncio e solidão, à beira do rio Uatumã. Lá num rancho de palha emprestado, eu e Deus, na escuridão da noite ou nos dias chuvosos ou ensolarados, superamos o medo, a fome e o tempo. Foi um semestre letivo no qual nem um dia foi igual ao outro. Visitei todas as famílias ribeirinhas, fiz parte da vida deles e eles da minha. Ensinei e aprendi com os professores e alunos das três escolas da região. Foram dias de alegrias, mesmo que em alguns momentos as dificuldades parecessem invencíveis. Aquela experiência, aqueles encontros, as rezas e as festas, o trabalho e tudo ali me “completaram”, meu coração acomodou-se e quando parti dali eu me sentia inteira, disposta para “o que der e vier”. Daí por diante a vida foi me entregando tudo que se fez necessário, as vezes alguma entrega parecia cobrança, mas Deus foi sempre me sustentando e fortalecendo.

Veio o doutorado... anos mais tarde fiz outros estudos, já menos cartesianos e mecanicistas, e com eles conheci o pensamento sistêmico, constelação familiar, pedagogia sistêmica. E graças a esses entendimentos, só agora, treze anos depois de tudo isso, eu pude compreender essa caminhada.

Só compreendi essa parte da minha história quando conheci a Vereda, aquela pequena comunidade no Município de Santo Antônio de Leverger, próximo a Cuiabá. Minha mãe foi professora ali naquele local, na beira do Rio Cuiabá. Essa informação esteve desde sempre no meu Sistema. Esse gostar tanto das águas dos rios, dos mares e até da piscina, desde que eu possa me sentir submergida. Esse contemplar da “beira” o movimento das águas que nunca se repete... essa sede de ensinar, essa paixão por escolas, que se transformou em profissão. Por sinal profissão de sucesso, pois há tanto tempo sobrevivo do que o ser professora me proporciona e não sinto carência de absolutamente nada. Acredite se quiser – o meu salário de professora garante a mim e a minha comunidade, uma vida confortável e feliz.  Tudo isso me foi passado pelos meus ancestrais.  

Essa compreensão me foi possível, graças a leitura dos ensinamentos de Bert Hellinger e seus seguidores, que tem me ensinado que muitas questões relacionadas ao trabalho e à profissão têm ressonância com o sistema familiar e à força necessária para assumirmos o nosso lugar no mundo. Desde a motivação até a realização e competência profissionais podem sofrer a influência da relação inconsciente do indivíduo com outros membros de sua família, pois quando nascemos, já trazemos em nossa carga genética bilhões de informações recebidas dos nossos ancestrais, através da hereditariedade. Tudo o que foi vivido, sentido, visto, cada habilidade aprendida ou desenvolvida pelas gerações anteriores, tudo isso é transmitido para os descendentes. É verdade que a maior parte dessas informações permanecem no inconsciente e precisam de estímulo para o seu desenvolvimento. Mas quando olhamos para dentro de nós, podemos perceber que temos “vocação” para diversas tarefas e estilos de vida e isso é herança da corrente genética que “casou” com o que somos agora. 

Se alguém quiser aprofundar nesse assunto poderá pesquisar nesta referência que eu encontrei, por acaso, na internet:

https://www.somostodosum.com.br/clube/artigos/autoconhecimento/o-sucesso-profissional-atraves-da-constelacao-sistemica-12276.html).

Ou então estudar, com a minha autora predileta, OLINDA GUEDES que afirma:  “Toda profissão vem ao encontro de algo que está em aberto no sistema familiar, de algo que está à espera. Muito do que temos disponível no sentido de coragem e de ousadia, diz respeito às experiências corporais que temos na infância...’”

(https://sabersistemico.com.br/blog/formacao-em-constelacoes-sistemicas).

 

Mas para mim, neste momento, o que importa é perceber que a profissão que me trouxe realização e prosperidade estava em mim, em forma de vontade, impulso, talento, herdado dos meus ancestrais e que foi tornando consciente e completado no dia em que conheci a Vereda. Então posso olhar para traz e dizer com gratidão... AGORA EU VEJO...

 


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