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Amar ou ser amado?

Amar ou ser amado?
Simone Belkis
out. 11 - 6 min de leitura
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Uma das lições mais importantes que aprendi nesse ano foi que crianças são amadas e adultos amam. Parece bem lógico e em tese eu já até sabia disso, mas tive que passar por uma dura e estranha experiência para compreender que amar é mais importante do que ser amado.

Prefiro não entrar no mérito e nem contar a longa história de como cheguei a essa conclusão (até porque envolve outras pessoas, e vai que elas leem isso, né? hehe). E estou aqui para falar da minha experiência. Pois então vamos a ela. 

Como a grande maioria de "todos" nós, eu tenho uma criança interior carente e chorona, e digo chorona com muito respeito, não me refiro a uma criança birrenta ou manhosa, mas uma criança que chorava muito porque tinha muito medo. Ao longo da curta vida dessa criança, ela acumulou mais traumas do que podia carregar em sã consciência (se é que uma criança tem algum grau de consciência sobre o que pode ou não carregar). Acho que a Constelação Sistêmica pode explicar isso.

O fato é que busquei o amor por toda uma vida, bem mais extensa que a vida curta de uma criança. Enfim, quero dizer que cresci, tornei-me adulta, mas não emocionalmente madura. Porque eu entendi que a maturidade só pode acontecer quando somos emocionalmente completos. E o que significa ser emocionalmente completo? Eu vou dar apenas a minha resposta (sem teses científicas ou opiniões especializadas).

Para mim, ser emocionalmente completa (e no meu caso específico) está sendo curar as feridas do trauma, entender e aceitar que o ambiente e as pessoas que se responsabilizaram por minha infância deram o seu melhor e que tinham traumas ainda mais graves que os meus. E quando digo que deram seu melhor, não estou tentando justificar, porque esse melhor foi muito, mas muito ruim. Não condeno (não mais), mas já condenei muito, vitimizei outro tanto, mandei a M... mais um tanto, machuquei a mim mesma e a outras pessoas (muitas que vieram depois) outro tanto. Detonei minha saúde física e emocional pelo simples fato de buscar a coisa certa no lugar errado.Tentar achar o amor fora, quando ele só está dentro.

Mas, vamos tentar entender qual a diferença entre amar e ser amado? Vamos começar por ser amado. Quando somos apenas bebês, fofos e remelentos, acreditamos que tudo que gira ao nosso redor é uma extensão de nós mesmos, somos egoístas (e até aí, nada de mal), nessa fase precisamos da identificação e da consequente aceitação de nossos iguais, afinal precisamos pertencer. E faremos qualquer coisa, mais qualquer coisa mesmo para pertencer. À medida que vamos nos sentindo pertencentes, agradáveis e agradados, acreditamos que somos valorosos e passamos a querer compartilhar, e assim (de um jeito bem básico) aprendemos a amar, em vários graus e em diferentes contextos e condições. Mas, tem tempo e fase para isso, se você não aprendeu a amar como uma criança, vai ter que aprender como adulto. E não é a mesma coisa.

E é aí que a porca (coitadinha) torce o rabo. Porque criança só ama se for amada primeiro, porque embora a essência do amor esteja dentro de nós, precisamos da experiência para ativá-la. Pelo menos assim aconteceu comigo. E aí, quando eu cresci e comecei a procurar amor em lugares ou pessoas específicas, não achava ou não enxergava. A criança não constrói o amor, ela é construída por ele. E se isso não acontece, o adulto precisa primeiro desconstruir o desamor (porque a ausência de amor é sempre desamor) e precisa entender que não pode ser pego no colo como um bebê, não pode ser ninado como uma criança que pede que lhe contem uma história. E mesmo que recebesse isso agora, não se sentiria preenchido. Porém, escondido de todo mundo, é isso que todo mundo espera, ser ninado e mimado, já não com colo ou aviãozinho na hora da papinha, mas quando queremos ter o controle das situações, quando temos ciúme ou implicamos e competimos com nossos parceiros (principalmente afetivos). 

Eu acreditava que só existia um tipo de amor, o incondicional, e era nele que eu queria chegar. Mas, não era porque eu estava buscado o amor do Divino, era porque eu tinha a ilusão do mito do amor materno, inconscientemente eu buscava nos meus relacionamentos, independente de quais fossem, o amor que pensava que minha mãe deveria ter me dado. Eu era duplamente cega, porque julgava que o mito do amor materno era real e que eu o encontraria em qualquer um que me atraísse ou com quem eu me identificasse. E isso era apenas fruto de uma carência infinda. 

E então, eu entendi que o amor é igual a qualquer outra coisa que existe. Ele é inteiro, mas se manifesta em graus, como a temperatura. Ela é uma coisa só, mas pode ser fria ou quente, e o que faz a diferença são os graus. Como seres humanos não chegamos ao nível de amar incondicionalmente, porque a principal característica do amor incondicional é amar o todo e todos. Porque eu posso amar incondicionalmente o meu filho, mas se não amo meu vizinho, então meu amor tem um grau específico e condicional.

Digamos que exista hipoteticamente uma escala de 0 grau (ou  desamor) até 100 graus (amor incondicional). É por essa escala que podemos subir, quando adultos, se começarmos a cuidar nós mesmos de nossas feridas traumáticas (que todo mundo tem), sem esperar que o outro cure nossas dores simplesmente correspondendo a nossas expectativas insanas e infantis.

Então, quando eu busquei não mais o amor, mas a cura do desamor, eu vivi a experiência de sentir como num relance a sensação de estar amando e de desejar entregar essa sensação a alguém, foi a experiência mais bonita que tive na vida. Eu ainda estou construindo esse amor em mim, mas já valeu a pena. E  você? Quer amar ou ser amado?


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