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Antes do amor, a dor...

Antes do amor, a dor...
Melânia Cristina Biasus
nov. 12 - 3 min de leitura
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Emaranhamento: fracasso, pobreza, doença, infelicidade...

Minha nona materna Aurélia ficou orfã de mãe aos 14 anos. Sendo a filha mais nova, e a única em casa, precisou cuidar do pai doente até sua morte. Casou-se, teve 11 filhos, se separou, e ficou cuidando de dois filhos portadores de deficiência. 

Minha mãe Raide, em meados dos anos 80, assumiu os cuidados da nona e dos dois irmãos. Em 90, a minha nona faleceu, deixando os dois irmãos sob os cuidados da minha mãe. É claro, por eu ser a mais nova, e a única em casa, sempre ajudei minha mãe a cuidá-los.

Seguindo a lealdade, sempre me dediquei a cuidar dos meus pais: consultas médicas, longas internações hospitalares, radioterapia, cirurgias, funerais...

Atualmente, cuido da minha mãe, com 86 anos, acamada há 3 anos em decorrência de um AVE que afetou dois terços do cérebro, deixando-a com sequelas irreversíveis... hemiplégica do lado esquerdo e totalmente dependente.

Tenho 6 irmãos (4 mulheres e 2 homens) que justificam não poderem me ajudar ficando com a mãe em alguns finais de semana para que eu possa descansar: uma diz que a casa tem degrau, outro que a esposa tem medo que estrague o colchão com xixi, outro diz que a esposa iria surtar, uma não tem ar condicionado no quarto, e outra negou a receber a mãe na própria casa.

Tentei apoio amigavelmente mas acabei entrando na justiça. Mesmo assim, não aceitaram me ajudar a cuidar da mãe.

Segui cuidando dela sozinha (com o apoio de uma cuidadora por períodos de 8 horas), trabalhando fora e gerenciando sozinha a casa.  

Minha filha, agora com 20 anos, desenvolveu fibromialgia e não aceita me ver nessa situação. Ela diz que não é justo que eu abdique da minha vida, não tenha amigos, vida social... para apenas cuidar da minha mãe.

Sabiamente a Olinda fala várias vezes neste módulo: "Antes da felicidade, a lealdade. Antes da felicidade, os pais". Nós fazemos tudo para pertencermos, inclusive renunciamos a nossa felicidade.

Sinto que essa lealdade me prende (dores fortíssimas nos tornozelos), me deixa ligada à minha mãe, sem forças para olhar para frente (miopia). Preciso aceitar viver a minha vida, olhar para a minha filha.

A minha mãe teve oportunidades de fazer suas escolhas na vida. Preciso fazer as minhas.

Mamuska, eu te amo, sou grata a tudo o que você me deu e vou te honrar sendo cada vez mais feliz, saudável e próspera!

Bença Mãe!


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