Foi durante uma constelação onde se falou de antepassados africanos que me veio na lembrança minha sogra falando dos dentes do meu esposo. Filho único, gestação difícil, contrariando os médicos que diziam que ela não engravidaria, e se engravidasse não levaria a gestação até o fim. Nasceu, cresceu forte.
Na adolescência teve o pai assassinado. A mãe embora estivesse separada nesse período, até hoje ao contar história antigas demonstra que o ama mesmo ao passar dos anos. Então, dentro das histórias, ela fala o quão achava bonito os dentes do filho (meu esposo), dentes africanos, lindos, iguais aos do pai, descreve ela. E isso ficou na minha mente, dentes africanos.
Há uns 8 anos, meu esposo que há muito não ia a um dentista, foi para uma limpeza de rotina, por insistência nossa, e principalmente da mãe que sabia de uma doença hereditária na família. Não diferente dos seus, constatou que também tinha essa enfermidade. Todos, todos seus dentes precisaram ser trocados por implantes, todos mesmo. Uma característica dessa enfermidade era justamente não apresentar nenhuma cárie, nada que levasse a um consultório.
E lembro de minha sogra lamentando muito, pelos lindos dentes africanos.
Nesse dia da constelação isso me voltou na memória, e nessa noite sonhei que um homem que insistia para que eu pesquisasse sobre a história dos africanos, costumes, linguagem, acordei com a voz na minha mente que se repetiu por todo o dia.
Então fui pesquisar.
E o que eu achei dentro dos idiomas uma me palpitou o coração. Foi o idioma Sesoto, uma língua banta do sub-grupo Soto-Tsuana. O sesoto é língua oficial na África do Sul e no Lesoto, também chamada de Soto do sul. Porque? Porque minha enteada, tem uma síndrome rara denominada Sotto. Durante o regime do apartheid, o governo sul-africano criou um bantustão denominado QwaQwa para confinar a população sul-africana que falava o soto do sul.
A semelhança dos nomes, da escrita, me chamou a atenção, não conseguir ler mais nada, os olhos grudaram nesse idioma. Porque? Para que? Incluir? Sim, inclusão. Olhar com amor e respeito para esses que veiram antes e tanto sofreram.
Quando nos casamos, casamos com o sistema do outro.
Temos Africanos, Indígenas, Portugueses, Italianos, Japoneses. Mesmo que não saibamos quais e suas histórias podemos percebe-los em nossos gostos, preferencias musicais, afinidade a algum alimento, o modo como preparamos, nos acessórios ao se enfeitar, se gostamos de desenho, de dançar enfim, temos tudo em nós.
E como é bom essa inclusão quando pesquisamos esses ancestrais, mesmo com conteúdos de dor e sofrimento que contém, mas foi o que permitiu que o hoje seja mais ameno que o passado.
E estamos aqui para buscá-los, incluí-los, amá-los com todo respeito merecido. Somos Freire Yoyo Amorim Fraga Lemos Campelo Alves Baptista e muito mais.