Assim como a maioria das pessoas, adoro tecnologia. Gostaria de viver muito só para desfrutar do que virá. Já estamos bem perto de ter nosso carro autônomo que nos levará para o trabalho enquanto lemos no banco de trás. É só programar!
No entanto, este desenvolvimento também traz malefícios. Precisamos usar tudo que temos com bom senso.
Trabalhando com famílias na abordagem sistêmica, recebo mães e pais com seus filhos, geralmente as mães que conseguem sair do trabalho, com a queixa de que os filhos estão rebeldes, mal educados, agressivos, não respeitam ninguém...
Imaginem a situação: as crianças passam os dias com as avós, há revezamento, e são buscadas no fim do dia. Chegando em casa a criança quer conviver, mas os pais estão cansados. Ligam a televisão no desenho, nem sempre apropriado, e cada um num canto do sofá vendo as redes sociais.
Não há conexão, há distanciamento, distração, ninguém escuta, ninguém responde. E os conflitos aparecem. Então a criança vai desviá-los do conflito, trabalhando duro. Faz muitos e muitos sintomas. E passa a ser o problema da família.
Já atendi mães que só largam o celular para descrever para o psicólogo quão difícil e rebelde está o filho. Quando o terapeuta se dirige à criança ela retoma imediatamente o celular, mesmo tendo um desenho de proibição do uso durante a sessão.
Nosso trabalho aumentou. Antes os pais sabiam qual era seu papel, agora temos que explicar que um filho precisa de pai e mãe, que ele precisa de atenção plena e total, que o celular prejudica as relações, que os filhos são perspicazes o suficiente para saber o que acontece entre o casal e na família e farão tudo para criar homeostase, mesmo sofrendo muito.
O celular virou rei.
Ganhou lugar de destaque. Cinquenta minutos sem ele para pensar sobre a família, o sintoma do filho, a ausência deles brincando na sala, raciocinar sobre amor, convivência, tarefas propostas pelo terapeuta, fora de cogitação. Não temos tempo. Estou falando de forma genérica, mas muitos pais estão preocupados em ter.
O verbo ser é de difícil conjugação.