Um dia estava a caminhar, um galho atravessou meu caminho. Eu simplesmente dei a volta e segui. Mas, segui pensando que tantas vezes não é isso que acontece.
Algumas vezes somos abalroados, outras piores, podem levar partes de nós ou até mesmo nos matar.
Fato é que um galho é um galho. Não é simplesmente uma pedra no caminho.
Então, lembro-me disse ao receber a pergunta:
- “... Mestre, qual é a dinâmica sistêmica do estupro e do assédio?
No papel da vítima e do perpetrador... Você poderia falar um pouco sobre isso?”
Eu não tenho vontade de falar sobre o assunto, porque indigesto é.
Faria o mesmo que fiz ao caminhar, simplesmente desviaria e tomaria novamente meu rumo. Mas, diante da vida e do que ela exige de nós, tantas vezes precisamos olhar o lobo nos olhos.
Neste caso, a metáfora se traduz assim:
Alguém que estupra está totalmente em lealdade com seu sistema, faz isso de consciência tranquila e ficaria muito mal se não o fizesse porque afinal esse movimento terrível o faz pertencer e buscar algo importante para seu sistema, tal como: a vida de volta, a aceitação de si como ser num corpo físico.
Também é uma atitude totalmente regressiva, o prazer a qualquer preço, a preço até da morte alheia. Sim, porque traumas são pequenas mortes. Mas, aqui deixo para os especialistas em psicanálise discorrerem.
O assédio, por outro lado, é algo mais discreto, exige um pouco mais de sofisticação e não poderíamos absolutamente afirmar que aquele que comete esse tipo de abuso é alguém inocente. O assédio se dá com consciência, consciência tranquila, porém ciente de que faz sofrer. Aquele que o pratica está leal aos perpetradores de seu sistema e com discurso racional justifica seus atos, amenizando-os e perpetuando-os. Por vezes, ganha muitos seguidores e aplausos públicos.
Essa é a grande diferença do abusador com o estuprador. O primeiro é aplaudido, enquanto este último é linchado, totalmente reprovado e subjugado.
O estuprador é considerado sujo, perigoso, impiedoso, o assediador é considerado alguém destemido, que afirma suas próprias ideias com coragem, sendo honesto no que fala e coerente entre o que acredita e prática.
Sintoma: Estupro
Dinâmica sistêmica: Me dê um lugar, nem que seja para eu te matar e colocar minha vida em total risco, mas por favor, não suporto mais viver sem ter meu lugar e viver sem o amor de graça. Lealdade à figura parental feminina.
Sintoma: Assédio
Dinâmica Sistêmica: Mamãe, eu não me importo com você. Porque papai não se importa também. Lealdade à figura parental masculina.
Uma pequena história:
“A Raposa e o Leão
Uma raposa muito jovem, que nunca tinha visto um leão, estava andando pela floresta e deu de cara com um leão.
Ela não precisou olhar muito para sair correndo desesperadamente na direção de um esconderijo que encontrou. Quando viu o leão pela segunda vez, a raposa ficou atrás de uma árvore a fim de poder olhar antes de fugir. Mas na terceira vez a raposa foi direto até o leão e começou a dar tapinhas nas costas dele, dizendo:
_Oi, gatão! Tudo bom?
Moral da história:
Da familiaridade nasce o abuso.” ― Esopo
Isso também acontece com o estupro e tantos outros sofrimentos. Em casa, onde se menos desconfia, os danos acontecem e não há proteção, porque se crê estar em lugar seguro, com pessoas de confiança.
Imagine! Dormir com o inimigo?! Isso é só nome de filme. E muitas realidades.
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OLINDA GUEDES é mãe da Nina, Camila e Raisa Maria, apaixonada pela vida, escreve com o coração o que cabe em palavras. É mãe de mais outros cinco príncipes na terra, e quatro anjos no céu.
Milton Erickson é um de seus mestres. Com ele aprende sempre a arte das palavras e de sobreviver, apesar de tudo.
Sofreu abuso em sua infância.
Conduz, no Instituto Anauê-Teiño, a Escola de Saberes Úteis. Uma iniciativa cujo objetivo é trocar saberes das diversas ciências com o propósito de uma vida mais feliz, próspera e saudável.
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