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ATÉ LOGO AMIGO!

ATÉ LOGO AMIGO!
Neiva Maria de Mattos
abr. 22 - 6 min de leitura
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Meu querido Dom Martinez,

 

Você acaba de voltar para a casa do Pai. Que bom para você e para aqueles que o antecederam.  Mas para mim, que fiquei aqui sentindo saudades, a vontade é de chorar.

Acredito que se eu começar a chorar agora, tanta gente vai se juntar a mim e formaremos um rio de lágrimas, pois você conquistou tantos corações com essa aparência de “padre bravo”, mas de “coração mole”. Tinha sempre uma palavra amiga e, principalmente, um gesto amigo para quem precisasse.

Quando o encontrei pela primeira vez, por volta de 1987, eu era como você dizia, “irmãzinha recém professa”, cursando graduação na Faculdade Salesiana e você, eu dizia, era o “homem do dinheiro”, o ecônomo, o responsável pela administração financeira da faculdade.

Naquela noite, dirigi-me até a sua sala,  com a desafiadora missão de requerer bolsas de estudos para o nosso grupo de irmãs estudantes. Fui imaginando preencher papeis, ir e vir até a tesouraria, num trâmite burocrático que eu já seria comum naquelas circunstâncias. Para minha surpresa, encontramo-nos no corredor e conversamos ali mesmo, você simplesmente me pediu os carnês (somos do tempo em que se usava carnês), destacou as folhas, rabiscou o seu nome  nos canhotos e me devolveu com um sorriso, dizendo – “pronto, estudem em paz”.

Aquela forma rápida e simples de resolver as coisas fez com que eu passasse a prestar atenção em você. E assim fui descobrindo que cargos e funções quando colocados à serviço do bem, valem a pena ser assumidos.

Depois de formada, quis a Vida que eu fosse trabalhar no Colégio Dom Bosco, e você mais uma vez, estava lá no meu caminho. Fomos estreitando laços e eu o admirava cada vez mais. Até o dia que precisei pedir demissão para assumir a "nossa" Escola Pública.

Foi muito engraçado, eu pedia para você me demitir, isso seria bom para mim financeiramente, e você dizia que não me demitiria, pois quem estava querendo sair era eu. Você nem gostaria que eu deixasse o Colégio. E eu teimosa, como sempre, insistia dizendo que eu ia brigar, dizer uns desaforos e assim você seria obrigado a me demitir. E você disse que, nesse caso seria por justa causa e eu não alcançaria os meus objetivos.

Essa conversa aconteceu no portão do Colégio, enquanto nos despedíamos dos alunos.

Discutimos, discutimos e no final você acabou cedendo.  E assim foram diversas situações em que você foi a mão estendida quando eu precisei. Será que você lembra desses detalhes, como eu?

E como não se acende uma lâmpada para escondê-la logo após (Lc. 8,16), você foi feito Bispo, e justamente para a Diocese de Corumbá. Isso fez de você um dos sucessores de Dom Vicente Priante, o fundador do Instituto de Jesus Adolescente, ao qual pertenço. E eu cobrei isso de você muitas vezes.  

Esses, e tantos outros, acontecimentos vão passando pela minha mente como um filme em câmera lenta. Sinto vontade de parar e ficar quietinha contemplando os ensinamentos que de você recebi. Lembra aqueles dias que conversávamos sobre Vida de Oração? E você olhou para mim muito sério e disse: “se nós não dermos o exemplo, não há razão de ser”. Esses conselhos de pai, haverão de nortear a minha vida até o dia em que voltarmos a nos encontrar. Gratidão por tanto, por tudo e para sempre.

Ah, mas deixe-me lembrar só mais um fato engraçado.  Foi quando você viajou de Corumbá a Campo Grande para participar da minha Festa de Bodas de Prata. Eu realmente não esperava que você viesse, vida de Bispo é tão cheia de afazeres. Mas quando falei da minha surpresa e alegria pela sua presença, você respondeu. “Uai, e não era para vir? Se você mandou o convite, eu vim”. E a pessoa que estava ao nosso lado comentou: “esses espanhóis tem um jeito de dizer as coisas...”  Eu estava feliz demais para prestar atenção a qualquer outra coisa, e quando vi, você já tinha se servido e estava almoçando, com mais alguns amigos, justamente na única mesa que não estava devidamente preparada para o banquete. Parece que para você tudo era simples como aquela poesia que minha madrinha dizia que você recitava mas que eu não cheguei a ouvir, mas sei que a sonoridade do idioma espanhol encanta-nos, por isso ela gostava tanto e queria que eu ouvisse, mas não deu tempo.

A última vez que nos encontramos pessoalmente, você ainda era o Bispo da diocese, e eu fui a Corumbá para uma daquelas conversas “oficiais”, que nem sempre eram fáceis. Mas você com a sua simplicidade conseguia acalmar a minha alma e manter as minhas preocupações sob controle.  E naquela noite, pouco antes de iniciar a missa, sentamo-nos no chão, não me lembro se na calçada ou no batente da porta da Igreja, mas me lembro que falamos sobre os restos mortais de Dom Vicente Priante e eu chorei.

E hoje, mais uma vez, Dom Segismundo Alvarez Martinez, diante de você estou chorando. Sabe, o que mais me dói e não poder estar aí pertinho, não poder despedir-me “num longo velório”, conforme “manda o figurino”.   É... mas eu acho que você nunca foi muito ligado aos conformes do figurino.  AH! Como eu gostaria que você estivesse aqui e me dissesse, como lá nos meus tempos de estudante: “pronto... fique em paz”.

Mas desta vez sou eu que tenho que dizer: “Dai-lhe, Senhor, o repouso eterno e brilhe para ele a Luz Perpétua. Descanse em paz. Amém”!

 

 

 


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