Belinha, de longe vê o vovô... Com aquele monte de galhos verdes na mão. Belinha sai correndo, fica olhando paradinha... e o vovô vem vindo... E de repente, Belinha olha pra aqueles matinhos na mão dele... Aquelas sementinhas marronzinhas e queria saber o que era aquilo. Daí, mais do que curiosa, corre e pergunta:
"- Vovô, vovô! O que é isso que o senhor tem aí? O que é esse negócio aí, vô? Aonde que tava isso?"
"- Belinha, isso se chama amendoim."
"- Mas como assim, vovô? Tava tudo verde, agora tem essas..."
Aí o vovô pega, abre uma vagem de amendoim, mostra os grãozinhos...
Belinha:
"- Hãããã... Isso é o amendoim!"
"- É, Belinha! Você come sempre!"
"- Não, vovô! O papai sempre traz doce de amendoim, mas eu não sabia que era assim."
Belinha já imagina que o doce já nascia no pé... prontinho. Com a imaginação fértil dela, ela sempre imaginava tudo diferente. A realidade de Belinha é completamente diferente da realidade dos outros. Belinha disse:
"- Vovô, dá um pra eu comer agora?"
"- Belinha, eu vou colocar lá no terrerão... Lá ele vai secar... E aí o vovô vai debulhar ele pra fazer docinhos."
"- Uhmmm... Então tá!"
Belinha voltou... Ficou de longe olhando... Dalí a pouco, ela viu o vovô abrindo um saco. E vovô pegava alguma coisa... E colocava dentro de uma vasilha. E Belinha já correu lá:
"- Vovô... mas isso daí é igual aquele que tá ali naquele pesinho."
"- São as vagens do amendoim, Belinha."
"- Hã, tá... Então tá!"
"- Mas o que você está fazendo? Dá um pra mim, vovô?"
"- Belinha, esse aqui tem de levar pra torrar... Porque se comer cru, vai dar dorzinha na sua barriga... E não é bom!"
"- Ah, vovô... Dá só uma!"
Aí o vovô descascou, deu só uma pra ela... Ela comeu... E o vovô continuou descascando aquele monte de vagens... E Belinha olhando tudo ali, viu o vovô colocando os amendoins na assadeira... E dali a pouco veio a vovó... E ela já leva a forma... E dali a pouco o vovô já começa a tirar a casquinha do amendoim... E Belinha ali observando, observando...
O vovô falou assim:
"- Belinha, agora vai lá tomar banho e volta, que é pra você comer o docinho que o vovô vai fazer."
Ah... Belinha não perdeu tempo. Correu, foi lá tomar banho, chegou em casa:
"- Mãe, quero tomar banho!"
E a mãe já deu banho nela, pois era hora dela tomar banho...
"- Mamãe, eu tenho de voltar lá no vovô!"
"- Não, Belinha! Você não vai sair mais de casa não! Você já está limpinha e já fica pronta pra jantar e dormir."
"- Não... eu vou lá no vovô! Vovô me chamou."
"- Então vai... vá!"
Belinha foi correndo...
"- Oi... eu, Belinha!"
Belinha pega vovô ainda fazendo o doce. De repente, vovô diz:
"- Belinha?!"
"- Sim, senhor, vovô!"
"- Belinha, estão aqui os docinhos... Os pés de moleque..."
"- Epa! Pé de moleque? Não quero não!"
"- Não quer por que, Belinha?"
"- Não... não quero não!"
"- Pé de moleque não!"
"- Belinha, é o docinho... Aquele que o vovô descascou... Vovô torrou, vovô tirou a casquinha... Agora vovô fez um doce, Belinha. É o pé de moleque."
"- Não! Não! Não quero!"
"- Belinha, você não queria o doce?"
"- Não! Eu queria o doce... Mas o pé de moleque não."
"- Mas come, Belinha..."
"- Não! Não! Não..!"
Belinha saiu correndo, correndo... E vovô, de novo a chamou:
"- Belinha, vem comer doce..!"
"- Não! Não quero pé de moleque não! Não quero!"
E Belinha saiu e disse:
"- Agora eu vou olhar... Vish... Meu Deus! O vovô cortou os pés dos moleques... Todos os moleques estão sem pés!"
Ahhh... Belinha corre, corre... E chega na casa do Joãozinho. Belinha chama Joãozinho... Ele sai... Belinha olha e diz:
"- Mas Joãozinho tá com pés... Então não é ele o moleque que o vovô cortou os pés pra fazer os doces!"
E Belinha já corre lá na casa do Carlinhos. Ela olha... E Carlinhos também está com os pés. E Belinha anda por todo o Sítio e começa a olhar os pés de todas as crianças... E olhava pros moleques:
"- Mas quem são os moleques que o vovô cortou os pés?"
Mas não tinha nenhum sem os pés... Então Belinha voltou pra casa do vovô e disse:
"- Vovô!"
"- Coma seu doce, Belinha!"
"- Não quero não! Vovô... Fala pra mim... Quem são os moleques que o vovô cortou os pés pra fazer doce?"
"- Belinha... Vovô não cortou pé de moleque nenhum não! O vovô pegou, descascou o amendoim... e fez os doces. O doce é que se chama Pé de Moleque."
Vovô José convenceu Belinha, mas quando vovô ofereceu um pedaço do doce, Belinha olhou aquele doce marrom... Olhou de um lado, olhou do outro...
"- Come, Belinha!"
"- Como não! Pé de moleque?... Ah! Então o vovô pegou os Pé de Moleque, lavou e colocou no doce... É por isso que vovô chama o doce de pé de moleque."
"- Não... não, Belinha!"
E não tinha quem fizesse Belinha comer o doce, porque ela achava que era um pé de um moleque. E o vovô queria saber:
"- Mas não é, Belinha! É apenas o nome do doce!"
E Belinha, sempre interessada no que o vovô falava, andava pra lá e andava pra cá... Ficou com aquela vontade de comer o doce... Mas quando ela olhava os doces, já vinha na imaginação os pés dos moleques. Aí Belinha saiu, chamou os meninos novamente... E olhou pro pé de um, olhou pro pé de outro... Olhou, olhou... Voltou e disse:
"- Vovô, por que é que o senhor mentiu?"
"- Menti, Belinha?"
"- O senhor falou que pegou os pés dos moleques pra fazer doce..."
"- Ô minha filha... Da onde você está pensando que o vovô cortou os pés dos moleques e pôs junto pra fazer doce?"
"- Claro que eu estou pensando!"
"- Não, Belinha!"
Lá vai o vovô pacientemente... Mostra todo o processo que foi feito do doce... E pega o docinho e morde... Aí Belinha vê que no meio tinha só amendoim branco... E Belinha começa comer... Mas diz:
"Isso não é o pé dos moleques, né?"
"- Não é, filha! Não é o pé dos moleques, Belinha... Pode comer!"
"- Vovô, obrigada!"
E Belinha pegou mais um docinho, saiu levar o doce para seu irmãozinho... E Belinha foi dormir.
Mas Belinha começou a imaginar os meninos sem pé... e o vovô cortando os pés... E Belinha começa suar... E começa chorar... Era um pesadelo... E Belinha sofria, sofria, sofria... Quando de repente Belinha acordou... Olhou pro pé do irmão dela... E viu que o pezinho dele estava lá. Mas Belinha não sossegou... Tomou o café da manhã e correu pra casa dos moleques vizinhos... Olhando de novo. Daí foi até o vô e disse:
"- Vovô... o senhor não pode, vovô!"
"- Não pode o que, Belinha?"
"- O senhor não pode pôr esse nome no docinho, vovô: Pé de moleque. Olha como eu estou tremendo, vovô! Eu estou tremendo... Eu sonhei que os pés dos meninos estavam todos cortados, vovô."
"- Ô, Belinha, mas que dificuldade você tem de entender que isso é só o nome de um doce?"
"- Não, vovô... Não está certo! Você vai ter de mudar o nome desse doce."
"- Não tenho não, Belinha!"
"- Vovô, tem sim!"
Mas vovô fazia todos os gostos de Belinha... e disse:
"- Então tá bom, Belinha! Então isso daqui é uma paçoquinha."
E lá vai o vovô, novamente explicar o que era a "Paçoquinha". Belinha entendeu e comeu o doce de amendoim... E Belinha acreditou agora que era um doce de amendoim.
Mas que deu trabalho pra esse vovô explicar o que era o doce... Ahhh! Deu muito trabalho!
E Belinha sempre com a sua imaginação... E Belinha inconformada. Pensa que Belinha acreditou? Belinha continuava andando pela a vizinhança e olhava para os pés dos moleques.
Aí o vovô José chamou Belinha e começou a conversar com ela e falou:
"- Belinha, você precisa parar de ficar imaginando as coisas..."
"- Mas vovô, é que eu sou criança... E criança, vovô, tem medo... Criança acredita nos adultos. O senhor falou que estava fazendo um pé de moleque... Como é que eu não ia pensar que não era os pés dos moleques?"
"- Ah... foi isso, Belinha?... Mas agora você acredita?"
"- Sim, vovô!"
Ah! Belinha sai... mas não acreditou não... Seguiu os próximos dias pensando... E quando ela acordava e olhava pro vô dela... Por uns bons dias ela não queria ficar perto do vovô não. E sempre puxava os moleques, dizendo:
"- Não vão lá na casa do vovô, não!" Porque ela achava que o vovô ia cortar os pés dos moleques pra fazer o doce.
E assim Belinha ia tocando seus dias... E tem mais histórias por aí... Belinha e suas imaginações... Vovô sempre, sempre dando apoio, brincando e criando... E Belinha era feliz com as histórias do vovô.