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CANÇÕES DA AMÉRICA

CANÇÕES DA AMÉRICA
Alice Meesquita
mai. 12 - 17 min de leitura
0110

30/04/2021

 ABRINDO O CAMINHO

Lá vai São Francisco pelo caminho
De pé descalço, tão pobrezinho
Dormindo à noite junto ao moinho
Bebendo a água do ribeirinho

Lá vai São Francisco de pé no chão
Levando nada no seu surrão
Dizendo ao vento, bom dia amigo
Dizendo ao fogo, saúde irmão

Lá vai São Francisco pelo caminho
Levando ao colo Jesuscristinho
Fazendo festa no menininho

Contando histórias pros passarinhos

Lá vai São Francisco pelo caminho

 

                       CANÇÕES DA AMERICA

Há uma razão para estarmos aqui. Aqui, nas Constelações com nossa querida Olinda. E aqui nesta América, América do Sul. Aqui neste tempo.

É um olhar que não pode ser perdido, porque ele significa a razão de ser da nossa vida, neste momento, neste planeta. Eu não saberia falar de forma mais completa ou explicativa, porque minha linguagem vem da música.

E ao pensar música, já entendi que é isto que vim manifestar e até me pergunto o quanto tenho sido atenta e fiel àquilo que vim manifestar. Mas aqui, com Olinda e com vocês, me sinto plena, como se entendesse.

E hoje vamos falar justamente sobre esta América, com o olhar e a música, como elemento da memória, de gerações. De cultura, de povos!

E o que é esta nossa América de montanhas, planícies e lagos, cidades esquecidas com uma civilização desaparecida que se equipara ao Egito e talvez até mais, com suas pirâmides e templos tão grandiosos e semelhantes aos egípcios? Há uma história oculta dentro desta América e tudo o que descobrirmos será apenas um pedaço deste grande mistério, no qual decidimos nascer e aprender as coisas da vida.

A América do Sul é uma terra de montanhas, planaltos, florestas, planícies, pampas e grandes litorais banhados por dois oceanos. É uma manifestação grandiosa do reino mineral e os segredos ocultos. Que faz brotar águas termais, conduzidas desde o centro da terra. São 7 belos mananciais na América do Sul. São grandiosos porque comungam com o centro da terra. A Flórida, nos Estados Unidos tem 270 mananciais, 30 são expressivos. É uma água que sai do terreno calcário, onde a chuva cai e retorna. É lindo também, como é lindo tudo neste planeta, mãe Gaia, Pachamama. Mas nossos mananciais da América do Sul comungam com o centro da terra e retornam com águas quentes, as vezes do próprio vulcão.

As montanhas são seres sagrados que aproximam a terra dos céus. Mas sobretudo por sua ligação com os 4 elementos e sua influência sobre o clima, as fontes de água e a fertilidade para plantas e animais.

Em todas as civilizações da terra há montanhas que são consideradas sagradas e a elas é prestada homenagem e reconhecimento.

No Japão, os templos e santuários são construídos em volta das montanhas. Temos ali o Monte Fuji.

Na Índia, o Monte Arunachala e o Monte Meru, a montanha dourada considerada o centro do Universo e o eixo do mundo.

O Everest nos Himalaias, cujo nome em sânscrito significa morada da neve.

O sagrado Monte Shasta na Califórnia, considerado um dos 7 chakras da Terra. Uma das histórias mais famosas da região é que, no subterrâneo da montanha, existe uma antiga cidade tecnologicamente avançada, chamada Telos. Lemuria seria um antigo continente perdido que ia do Oceano Índico à Austrália, que sumiu do mapa graças a convulsões geológicas, há mais de 12.000 anos. Os lemurianos que conseguiram escapar da tragédia, se abrigaram em sistema de cidades subterrâneas pelo mundo, do qual Telos faz parte.

O Monte Sinai, onde Moisés recebeu as tábuas dos mandamentos, no Egito. O Monte

Olimpo, morada dos deuses na Grécia. O Monte Ararat na Turquia onde parou a Arca de Noé.

O Monte Tabor onde aconteceu a transfiguração de Cristo.

O monte La Vernia onde São Francisco passou sua quaresma antes de morrer. Nestes momentos, orou desesperadamente para Cristo Havia mesmo um desespero de se comunicar, de ouvir a voz neste tempo de jejum. Foi quando recebeu os estigmas de Cristo em seu corpo. Monte La Vernia em Assis.

Na Mongólia, a transfiguração de Geser....vou contar sobre isto que faz parte da mitologia da Mongólia

Na nossa América, temos a Cordilheira dos Andes com a montanha sagrada de Machu Picchu no Peru.  

Tem-se notícia de que a região da Cordilheira até a costa era habitada desde 20.000 BC. Cerca do ano 6.000 BC, o povo chinchero já mumificava seus mortos, muito antes dos egípcios pensarem nisto. Os incas formaram um império grandioso e ocuparam esta região por volta do ano 1.200 de nossa era e foram conquistados pelos espanhóis por volta de 1570.

Descendo da cordilheira há uma extensa planície, onde se encontra a maior bacia hidrográfica do mundo, a Amazônia e o maior aquífero do mundo na região do Iguaçu. É nesta planície generosa que se encontra o Brasil, onde o reino vegetal, ainda que maltratado e desrespeitado, se manifesta em todo o seu esplendor, transformando nosso país no celeiro do mundo, o maior produtor de alimentos.

É aqui que estamos, foi para cá que nossos ancestrais nos trouxeram, foi deste pó que fomos engendrados e engendramos nossos descendentes e a ele retornaremos.

EL CONDOR PASA

Conhecemos como um lamento peruano ligado aos incas, onde podemos sentir no som das flautas quenas o vento que passa pelas montanhas

Como composição pertence a uma peça de 1913, uma zarzuela, chamada El Condor Pasa, de cunho de protesto contra a servidão dos pobres indígenas que trabalham nas minas. Dentro das memórias transgeracionais destas terras há o índio explorado, conquistado, longe da liberdade de sua bela cordilheira.

SUBE CONMIGO AMOR AMERICANO

No vale das terras incas, corre o rio Urubamba que quando passa pelo vale sagrado da terra dos Incas recebe o nome de Willcamayu, rio sagrado. Nossa cordilheira tem cores estranhas, lilás, verde, cinza. Suas grandes pedras vão diminuindo à medida que se aproximam do mar. As praias da Patagônia não são feitas de areia, mas de pequenas pedras redondas que rolaram da cordilheira desde tempos imemoriais. O tempo de cordilheira é maior do que podemos conceber. Quando pegamos um pedaço de gelo de algum glacial, quando chega à beira de algum lago, depois de se desprender da massa de gelo e se transformar em pequenos icebergs, tempanos como são chamados na América do sul. Quando pegamos aquele pedaço de gelo que se derrete em nossas mãos, sabemos que tem mais tempo de vida do que nós, seu caminho de floco de neve a glacial, a tempano a pedaço de gelo em mossas mãos, tem mais de mil anos. É grandioso.

Pablo Neruda, o poeta chileno, fugindo do Chile, foi em direção ao norte, chegando a Machu Picchu, onde se encantou e escreveu Por Las Alturas de Machu Picchu, uma parte de seu Canto General, a única epopeia dedicada à América do Sul com 250 poemas

Sobe comigo amor americano, beija comigo as pedras secretas a torrente de prata do Rio Urubamba faz voar o pólen de suas copas amarelas,

Soa o silencio das trepadeiras, a planta de pedra como uma grinalda dura

Sobre o silêncio dos cânions da serra vem as minúsculas vidas entre as asas da terra, enquanto cristalino e frio, o ar golpeado quebra as esmeraldas combatidas

 Ó aguas selvagens, que baixas das neves.

Sobe comigo amor americano.

Ó Willcamayu de sonoras águas quando rompes pedras com estrondo em branca espuma como neve ferida no vendaval de seus penhascos. Sobe comigo amor americano

VASIJA DE BARRO

Povo da cordilheira, descendo em direção ao litoral do Pacífico, mantinham seus costumes sempre ligados à terra, como nos vasos de barro para enterrar seus mortos. Já voltavam ao pó dentro de vaso de barro. Acho linda esta comunhão com a terra, do povo do Equador.

Yo quiero que a mí me entierren
como a mis antepasados. (bis)
En el vientre oscuro y fresco
De una vasija de barro. (bis)
Cuando la vida se pierda
tras una cortina de años,
vivirán a flor de tiempo
amores y desengaños. (bis)
Arcilla cocida y dura,
alma de verdes collados, (bis)
barro y sangre de mil hombres,
sol de mis antepasados. (bis)

MUNDURUCANIA

Nos campos e florestas das margens do rio Tapajós viviam os Parintintins e na outra margem os Mundurukus, ambos guerreiros a defender suas terras. Foram “descobertos” em 1768 e desde então lutam para manter sua integridade em terras “concedidas”. Essa canção faz parte do Bumba-meu-boi do Carrapicho e já cantei aqui em outra ocasião, mas agora faz arte do contexto de nossa terra sul americana

CAMINHO DO INDIO

Temos em nós a terra, os ventos, as águas, a consciência planetária desta América, com sua natureza grandiosa, ora pacífica, ora turbulenta, mas sempre harmônica. Somos a América e todos os seus habitantes desde a mais remota antiguidade. Somos descendentes de uma natureza de paz. Pertencer a esta terra reforça arquétipos ligados à ancestralidade.

E assim é a nossa música. E assim também é a terra onde caminhavam e caminham os índios desde os tempos ancestrais.

Caminho do Índio, senda dos aimarás, semeado de pedras,

Caminho do Índio que junta o vale com as estrelas.

Caminhozinho por onde andou minha velha raça

antes da Pachamama se escurecer nas montanhas.

Cantando nos cerros, chorando no rio, aumenta na noite, a pena do índio,

E o sol e a lua e este meu canto beijaram tuas pedras, caminho do Indio,

Na noite da serra chora a quena, sua profunda nostalgia,

E o caminhozinho sabe quem é a mestiça que o índio chama.

Se levanta no monte a voz dolente da Baguala

e o caminho lamenta ser o culpado pela distância......

INDIA BELLA MEZCLA

Houve uma tentativa de enlace de povos indígenas no Brasil, em 1951...a triste história da índia Diacui, da etnia dos kalapálos (grupo do Alto Xingu), que por volta de seus 22 anos casa-se com um sertanista a serviço, vindo do sul do Brasil. Diacuí, que significa flor dos campos em sua língua nativa, conheceu Ayres Câmara Cunha quando este foi enviado pela Fundação Brasil Central (FBC) para ser o chefe do Posto Indígena daquela aldeia. A ligação dos dois personagens foi uma consequência da marcha para o oeste.

Falar de índio na metade do século XX no Brasil ainda trazia os traços da fronteira entre o conhecido e o desconhecido, entre a civilização e a barbárie. Tanto territorialmente falando quanto socialmente, o mundo dos indígenas era uma vasta narrativa criada a partir de discursos com juízos de valores, afastando-se da realidade vivida cotidianamente por eles.  

Na revista “O Cruzeiro”, o caráter de aprendizado de Diacuí era ressaltado, mostrando sua disposição para ser uma típica moça carioca. “Isso deve-se ao que era a vida de uma mulher no período. Durante o século XX, a tríade dona de casa, mãe e esposa vislumbrava o futuro das meninas, encontrando-se um lugar para civilizar Diacuí e apresentá-la a sociedade com a identidade feminina do período.

Romantizando sua origem, Diacuí tornou-se uma heroína brasileira. Rememorou os grandes índios que deram início ao povo brasileiro e mostrou um futuro civilizatório para seus descendentes. A índia quer se casar, quer ser batizada, quer ser mãe e usufruir de todas as facilidades que as mulheres urbanas possuem. Portanto, por mais índia que ela fosse, transformou-se numa fidedigna moçoila carioca enquanto aprendia a cozinhar, costurar e pentear os cabelos não mais indígena selvagem, mas brasileira.

O que poderia parecer uma visibilidade aos povos indígenas não passou da invisibilidade de suas reais questões e desigualdades sofridas ao longo dos anos,  

Diacuí engravidou e no momento em que começou a dar à luz, rejeitou qualquer auxílio e preferiu estar isolada, de forma que fizesse o parto sozinha. Como uma indígena de sua etnia, quis seguir as normas de seu povo, no qual as mulheres pariam sozinhas e sem ajudas exteriores.

Naquele momento, estando na capital federal e tendo médicos a seu dispor a qualquer momento, Diacuí anunciou em atos: “Não sou uma de vocês, sou uma indígena’. E ela morreu no parto.

Mas afinal, o que morreu junto com Diacuí? o mito da perfeita união das diferentes etnias e da miscigenação como final feliz

uma das questões mais analisadas seria que para nascer o primeiro brasileiro, o povo fruto da miscigenação, os indígenas deveriam doar-se a ponto de sacrificar-se.

Assim, o silêncio sobre um importante momento do passado brasileiro foi esquecido e enterrado junto com o corpo de Diacuí.”

Só sabem de sua história alguns que viveram naquele tempo, e lembram-se apenas de alguns pontos específicos, como eu. Para mim, desde a minha infância, tinha ficado a ideia romântica, alimentada pela recordação das fotos da revista, até ontem quando li este estudo.

EL GRITO DE AMÉRICA

Toda a América índia gritou e grita ainda em nossas entranhas, em nosso pó, todo o desconhecimento de suas tradições, de sua ligação com a terra. A América grita saindo de seu silêncio, de início o silêncio de paz e depois o silencio da mordaça, até poder gritar, se é que grita. Este grito reverbera em nossa memória.

ALMA LLANERA (alma camponesa)

Alma Llanera, considerada como o segundo hino da pátria, é um joropo, ritmo típico da Venezuela. Aos venezuelanos se lhes sacode o coração quando o escutam.

Estreou em 1914 com grande êxito e assim ficou através dos tempos...É, digo, era costume terminarem as festas sempre com esta música

Yo nací en esta ribera
del Arauca vibrador,
soy hermana de la espuma,
de las garzas, de las rosas,
soy hermana de la espuma,
de las garzas, de las rosas
y del sol, y del sol.

Me arrulló la viva Diana
de la brisa en el palmar,
y por eso tengo el alma
como el alma primorosa,
y por eso tengo el alma
como el alma primorosa
del cristal, del cristal.

Amo, lloro, canto, sueño
con claveles de pasión,
con claveles de pasión.
Amo, lloro, canto, sueño
para ornar las rubias crines
del potro de mi amador.

E nossa alma camponesa, sertaneja ou campestre se ilumina e se aquieta com o

LUAR do SERTÃO

A toada “Luar do sertão” (1914) reivindicada por Catulo da Paixão Cearense como autor único, deve ter apenas a letra composta por ele, pois provavelmente é adaptação de uma melodia de domínio popular, recolhida e modificada por João Pernambuco – uma das músicas que mais se identificam com a gente e a alma brasileira, do qual também fazem parte “Tristeza do jeca”, “Aquarela do Brasil” e Asa branca”.

Não há, ó gente, oh! Não, luar como esse do sertão
Não há, ó gente, oh! Não, luar como esse do sertão

Oh que saudade do luar da minha terra
Lá na serra branquejando, folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade, do luar lá do sertão!
Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata, prateando a solidão
E a gente pega na viola e ponteia
E a canção e a lua cheia, a nascer no coração

Não há, ó gente, oh! Não, luar como esse do sertão
Não há, ó gente, oh! Não, luar como esse do sertão

Quando vermelha no sertão desponta a lua
Dentro da alma flutua, também rubra nasce a dor
E a lua sobe e o sangue muda em claridade
E a nossa dor muda em saudade
Branca assim da mesma cor

 

 Termino este olhar sobre nossa América hoje com a frase de Jung...

“Quanto menos compreendemos o que nossos pais e avós procuraram, tanto menos compreendemos a nós mesmos...” 

Muito obrigada!

Texto e músicas de Alice Mesquita para o curso Constelações Master da Prof. Olinda Guedes em 30/04/2021

Foto indígena  de Ricardo Stuckertt - internet

 

 

 

 

 


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