Queridos antepassados,
Quanta fome de pertencimento consigo perceber neste momento! Por muito tempo busquei respostas para as dificuldades financeiras, mortes precoce, problemas de relacionamento e sentimento de abandono. Hoje vejo que vivi os mesmos problemas que meus avós paternos.
Quanta luta, quanta dificuldade desde que vocês vieram da Itália e se estabeleceram no Brasil, sem nada, apenas com a coragem de vencer.
Sempre me perguntei por que as coisas eram tão difíceis em minha vida. Tudo era uma luta para conseguir. Agora posso compreender que estou suprindo meu desejo de pertencer. Vocês foram guerreiros e eu vivo como uma guerreira. Estou sempre pronta para o ataque. Isso sempre me incomodou e agora posso aceitar e assim ficar em paz comigo mesma.
Queridos antepassados, vocês foram desbravadores, o que explica meu excesso de coragem e visão de futuro. Como isso me deixa mais forte e segura para seguir meu caminho!
Quanta escassez e sofrimento vi na vida de meus pais, e por conta disso senti muita culpa. Parecia que eu estava incomodando. Sendo um fardo, um peso. Então tudo fica claro pois, eram tempos difíceis os que vocês viveram, não só de conquista do básico para sobreviver, mas também falta de afeto, respeito, carinho pelas crianças. Assim cresceram sem receber. Sempre tive o sentimento de exclusão, de não fazer parte da família.
Com a morte de meu pai passei a cuidar de minha mãe. E me questionei por anos tentando entender porque sua morte foi exatamente igual a de sua mãe. Ambos atropelados e na mesma idade. Agora entendo que o amor sempre traz de volta.
Muitas vezes ouvi a história da morte de meu avô que foi tão cedo. Hoje o sentimento de orfandade se dissolve, se acalma, perde força diante do conhecimento.
Queridos, queridos antepassados, quanta gratidão sinto neste momento por todos vocês!