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Carta aos meus ancestrais

Carta aos meus ancestrais
Edda Eva de Siqueira Lira
ago. 4 - 14 min de leitura
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Querido antepassados, hoje eu vejo todos vocês, vejo o quanto meu amor por vocês é grande. Vocês fazem parte de mim e eu de vocês.

Eu e todos vocês também pertencem ao nosso sistema familiar.

Eu digo a vocês que há tempos pude perceber o quanto as mulheres no nosso  sistema familiar foram muito oprimidas em suas palavras, atitudes e decisões. Elas não tinham poder nenhum de voz.

Uma das violências praticadas pelo meu bisavô materno contra minha bisavó, foi a de cortar todo o cabelo dela, com peixeira, porque ela havia diminuído o cabelo a contragosto dele. 

A minha avó paterna desenvolveu ainda muito nova, diabetes. Sofreu grandes traições e violência física do meu avô paterno,desencadeando a morte dela aos 35 anos. Meu avô, a quem eu muito amava, sempre me dizia que iria sofrer muito até sua morte , pois se arrependia terrivelmente do sofrimento que fizera minha avó passar.

Passado alguns anos de morte de minha avó, meu avô perdeu a audição esquerda e faleceu aos 99 anos. Há 3 anos eu tive uma surdez súbita e perdi a audição esquerda.

Meu querido vovô, eu não preciso ficar igual ao senhor, eu sinto muito , mas esse foi o seu destino.

Muitas mulheres foram emparedadas vivas para não serem abusadas pelo bando de Lampião. Minha querida linhagem feminina, essa dor e o pânico de vocês,  por muito tempo me acompanhou, inconscientemente.

Vejo o quanto fiquei fiel a todas vocês. Identificada na dor. Aliás, esse pânico fez parte de muitos descendentes da família. 

Em lealdade cega a vocês, minha querida ancestralidade feminina, as mulheres se fortaleceram e oprimiram os homens a ponto deles morrerem deixando todas as mulheres viúvas. Era o destino de todas as mulheres. Por violência ou acidentes os homens morriam antes.

As mulheres sempre agiam com desconfiança dos homens. Até, minhas queridas, que eu conheci a constelação e pude enxergar essa dor, curar , deixar o destino de vocês com vocês> Vocês vieram primeiro e com vocês aprendi muito, reconheço a todas, honro vocês , mas rompi esse destino através da escolha de deixar o pai das minhas filhas viver.

Minha querida mãe, pude ver que a senhora ficou com sentimento de orfandade paterna desde muito cedo, com uns 5 anos, já que seu pai abandonou o lar sob alegação de que os dois filhos mais novos eram filhos de outro homem. E nunca mais falou com vocês.  Minha querida avó ficou com 11 filhos para criar sozinha e meu avô só iniciou pagamento da pensão após ser acionado judicialmente.

Minha querida tia, como filha mais velha,  tomou conta dos irmãos mais novos e nunca casou. e se tornou uma mãe para os mais novos.  E aí , meus queridos, houve uma desordem de lugares no sistema familiar. Apenas havia respeito à hierarquia de quem veio primeiro.

Minha querida mãe, a senhora ficou no sentimento de orfandade de mãe e pai.

Minha querida avó, a Senhora  ficou muito rica, com 11 fazendas de cafés e gado.

E, como lembro daqueles dois baús cheios de ouro e colares de pérola. E, provavelmente como não honrou o dinheiro de onde originou a possibilidade para expandir essa riqueza, morreu pobre e numa cadeira de rodas. Ficou muito doente, apesar de consultar os melhores médicos na capital, nunca soube exatamente o que era a doença. Minha querida avó, seria, hoje suponho, doença autoimune das dores das mulheres do sistema. Dores essas que eu também me identifiquei, inconscientemente.

Há 3 anos quando foi acometida da surdez súbita lado esquerdo, seguiu-se uma perda de forças nas pernas e sucessivamente dores terríveis na coluna, pernas , articulações em geral. Resumidamente, no final de 2019 fui diagnosticada com Síndrome de Menière e espondilite anquilosante.

Com medicação imunossupressora desde 2017 e muito confusa emocionalmente, deprimida, tentei de todas as formas buscar a cura e reverter a situação, até que fiz outra constelação e enxerguei que essa era uma limpeza das dores do meu passado, aceitei o que estava por vir, contanto que nenhum descendente passasse mais por esse sofrimento de doenças autoimunes.

Diria que cansei de lutar contra a maré e naquele momento me resignei, pensando tão-somente que não desejaria esse destino para as minhas filhas. E daí por diante, meus queridos antepassados um mundo de oportunidades de esperança se abriram. Tudo bem, que por amor a vocês eu fiquei doente, mas o instinto de sobrevivência fala mais alto. 

Aliás, meus queridos antepassados, sempre soube que nossas famílias maternas e paternas eram uma só, já que desde a antiguidade, primos se casaram. E meus pais. ainda que de terceiro grau, também eram primos, o que só me fez reconhecer a força das dores desse feminino. Eu sinto muito por todas vocês, eu sinto muito,  vocês vieram primeiro, eu honro todas vocês, mas eu deixo com todas vocês o destino de vocês e peço que me abençoem a construir o meu diferente daqui pra frente, a ter um relacionamento saudável.

 E, os sintomas pioraram, fui em busca de tratamento que prometia  uma qualidade de vida melhor. E, nesse encontro, recebi um convite para para participar de um workshop com um alemão, cujo especialidade era as doenças.

Parecia impossível financeiramente, mas dois meses depois estava eu lá e fui escolhida a constelar.

Para minha surpresa descobri, meu querido pai, minha querida mãe, que eu também havia ficado com sentimento de orfandade aos nove meses de idade!

Traumas infantis não elaborados.

Quando, o senhor meu querido pai foi preso e torturado, minha querida mãe também não conseguia mais olhar para os filhos como deveria, presa em sua própria dor.

E, quando o senhor retornou foi como se houvesse duas pessoas descoladas, um pai antes da tortura e outro depois, e com as suas dores físicas e emocionais eu me identifiquei. Reconheci isso e senti que parte das dores que eu sentia eram suas. Eu sinto muito papai por tudo que aconteceu com o senhor, eu sinto muito, mas eu deixo com o senhor a sua dor e o seu destino, também foi demais pra mim!

Minha querida mamãe, já adulta entendi todas as suas atitudes, mas somente com a  constelação pude reconhecer mamãe, que a senhora era carente demais de amor, de carinho, de afeto para poder me transmitir essa afeição. O carinho físico não fez parte de sua história de vida, então só deu o que tinha pra dar e tudo bem.

Para a senhora amar significava apenas se sacrificar para nos manter bem cuidados e com educação. Acolhi o que teve pra me dar e deixei o movimento da aproximação fluir. E, só agora, finalmente, estamos conseguindo resgatar esse carinho.  

Um tempo depois, querida mamãe, pude compreender que quando dizia que preferia que eu tivesse nascido homem, era porque tinha medo que eu sofresse como a senhora. Já havia um sentimento adotado das mulheres de seu passado. Havia um feminino bem doente em nosso sistema, que pude finalmente olhar para ele e reconhecer para fazer essa cura dentro de nós.

Mas eu também posso ver, meus queridos ancestrais que há uma dor imensa no masculino da nossa família, eu posso sentir que esses homens ficaram identificados com as dores das  mães e com a violência do masculino. Eu posso ver que também não foi fácil esconder os sentimentos e seguir em frente para levar o sustendo da família, homens e mulheres identificados com as dores do sistema revelaram em seu corpo físico a diabetes e os problemas renais e pressão alta.

Eu sinto muito por todos vocês, mas esse destino foi de vocês e eu deixo com vocês.

Meus queridos ancestrais, também posso ver homens em sacrifício para salvar suas mulheres e filhos da morte precoce por uma briga de família por conta de terras. De início somente os homens eram sacrificados, posteriormente mulheres e crianças, descendentes e herdeiros, passaram a ser sacrificados. Até que, um descendente entendeu de mudar o sobrenome da família para que não fossem localizados os sobreviventes de uma briga insana.

Posso ver, que no fundo representava amor não as terras, mas a quem deixou a herança. Meus queridos, sinto muito por vocês que partiram tão jovens, tão cheios de vida, sinto sobretudo por aqueles que fizeram parte de minha vida e quem eu amava tanto e vi partir da noite para o dia. 

Vi os últimos familiares que usavam nosso sobrenome, partirem, pais, mães e primos distantes e tão próximos. E como doeu por anos, até eu entender o segredo da minha família. Eu sou muito grata a todos vocês , pois se hoje tenho a vida, se pude conviver tantos anos com meus pais e irmãos foi graças a vocês, imensa gratidão e reconhecimento.

Eu posso ver todos que ficaram excluídos do nosso sistema familiar, meus ancestrais, por terem nascido fora do casamento ou por terem mudado de nome.

Eu incluo todos vocês em meus sistema da ancestralidade, em meu campo familiar. Vejo, reconheço e honro todos vocês. Inclusive, ao meu tio que por anos foi excluído do sistema familiar, e a única forma que encontrou de ser visto foi tirar a vida do meu pai, seu irmão.

Filho que nem mesmo meu avô paterno tinha conhecimento consciente. Mas, a vida o trouxe de volta para tomar o lugar na família, que por direito lhe pertencia. Os homens não viram , mas a energia da constelação revelou. Todos fazem parte desse sistema familiar, eu os vejo, honro e reconheço todos .

Eu reconheço o amor, a força de vocês e honro todos.

Vocês vieram primeiro.

Eu não julgo nenhuma de vossas escolhas, aceito que fizeram o que era possível para a época, no cultivo das terras, a forma como adquiriram e como contrataram seus empregados, como os pagavam, como construíram seus patrimônios.

Honro tudo, mas vocês tiveram as escolhas de vocês, o dinheiro era de vocês e adquiriram como podiam. Sinto-me liberada de todo esse destino. Acolho de tudo de bom que me transmitiram.  O meu dinheiro agora é limpo, estou liberta de todos os obstáculos e crenças que havia em relação ao dinheiro.

O meu novo dinheiro caminha no movimento de conquistar o mundo. 

Não poderei deixar de  mencionar aqui nessas linhas, a lembrança que sempre terei da alegria de viver da minha querida tia paterna que hoje partiu com 77a, libertada dessa vida em decorrência das complicações do COVID19.

Meus queridos antecedentes  italianos da região nordeste (Vèneto e Úmbria),  eu vejo todos vocês e faço parte de todos e vocês fazem de mim. Reconheço que foi muito difícil para todos deixarem sua pátria e seus familiares para vir tentarem a vida em outra nação, quanto doloroso deve ter sido.

Honro todos pelas conquistas que tiveram.

Vejo muito de vocês quando ficava extremamente estressada. Agora, aprendi a não mais me estresso, respiro, aceito e medito. Honro a Itália e o Brasil, que fazem parte de mim.

Eu vejo em mim, meus queridos, a emoção da música que até pouquíssimo tempo não me imaginava capaz de tocar qualquer instrumento musical.

Agora não só enxergo essa possibilidade, como já inciei aprendizado.

Tudo que parecia limitação, se tornou um desafio maravilhoso.  Agora, pergunto-me se seríamos descendentes de Gasparo de Saló, já que mantive esse desejo sempre abafado e a minha filha mais nova tem também esse grande desejo.

Reconheço-me  em todos vocês, meus queridos pais e queridos ancestrais, quando da apreciação do bom vinho e da boa música, na barulheira da alegria e risada farta.

Reconheço-me na boa conversa, na amizade fácil que me identifico muito com meu pai e com minhas tias. No otimismo e perseverança de seguir adiante, e na força de recomeçar ,

Meus queridos, bisavós eu vejo meus olhos azuis esverdeados não só da minha mãe, mas das tias avós paternas e do meu bisavô materno. Eu vejo a minha altura, a determinação  e a altura (baixinha) da minha bisavó materna, inclusive o hábito de  dormir de pernas cruzadas, eu herdei da senhora. Não conheci vocês, meus bisavós, mas eu os sinto. Eu vejo  na senhora,  minha querida mãe, a vaidade e determinação , características também da minha avó materna.

Meus queridos ancestrais eu me sinto livre, totalmente livre de buscar justiça, esse movimento não me pertence mais. O meu movimento agora é de tão-somente ficar no movimento de ajudar às pessoas a trazer à luz o que está em seu inconsciente.

Esse movimento em minha alma e espírito é tão grande, meus queridos ancestrais, que não vejo mais lugar para as velhas atividades. Agora estou livre para deixar esse movimento fluir na cura total até meus descendentes.

Sou muito grata a todos vocês! 

Vocês vieram primeiro.

Acolho tudo do jeito que foi.

Acolho e agradeço, meus queridos pais, a vida que me deram.

Quando inciei essas humildes linhas, acreditava não ter muito para escrever e termino essa mensagem para vocês com muita alegria, uma leveza incrível em meu coração.

 


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