Eu sempre digo que nasci com a maldição de ser feliz, mas até muito pouco tempo atrás, há 22 anos propriamente dito, foi que eu comecei a entender muitas coisas; aprendi com Bert Hellinger nas constelações sistêmicas, que o campo mostra, um campo com uma energia morfogênetica que nos impulsiona a fazer a onda quântica se projetar para o futuro e fazer a vida fluir, fazer acontecer a procriação e a habitação do mundo.
Comecei bem cedo a ler, fui alfabetizada pela minha avó Joanah, que sempre foi uma adepta de leituras e além disso adorava um bom vinho, uma vodca original e passou por um tempo a usurpar os tradicionais drinques brasileiros e, com isso, virou uma consumista expressiva de caipirinha.
Hoje eu sei que esse foi o meio que ela encontrou para esquecer a orfandade de sua mãe e de seu pai e esquecer também a responsabilidade que lhe foi dada, aos 12 anos, de se tornar a esposa de um senhor de 33 anos de idade e culminou por ser mãe aos 13 anos e a começar por esse meu tio, já falecido, tio Juca, como sempre me foi falado, ela continuou gestando a sua prole que, cabalisticamente, terminou em treze, tal qual a idade inicial de sua primeira gestação.
A minha convivência era prioritariamente com meu pai, minha mãe e os familiares maternos; não tive nos primeiros 06 anos de vida uma vivência com meus antepassados paternos, desconhecia a história deles e inclusive sempre me perguntava o porque do meu pai ser tão sozinho e sem família.
Somente aos doze anos descobri parte da história ao necessitar de transfusão de sangue e não encontrar doadores compatíveis com o meu RH, e nessa situação meu pai me relatou parte de sua história, com alguns meandros e páginas arrancadas, somente com o fim de estancar os meus inúmeros por quês de meu sangue ser diferente dos demais da minha família.
Nesse período, os meus outros irmãos sempre brincavam comigo de forma jocosa: “você não é nossa irmã, você foi encontrada na lata do lixo da roça”, eu cheguei por inúmeras vezes a criar essa crença em minha mente, virando as vezes caraminholas, que levavam a brigas e discussões entre eu e meus irmãos.
E essa pulguinha atrás de minha orelha sempre me levava a arguir meu pai sobre a história dele e também no intuito de paramentar a minha própria história.
Sempre fui faceira, serelepe, feliz e cheia de vida, dava trabalho não apenas para os meus pais, como também para os meus tios, primos mais velhos, vizinhos e sitiantes que viviam nas proximidades da bucólica fazenda em que morávamos.
Minha vida afora essa questão, era perfeita, convivia muito com meus avós maternos, tios e primos, mas sempre na dúvida e na esperança de conhecer os meus avós, tios e primos paternos.
E assim a vida seguiu. Eu me casei, me tornei mãe, tinha uma família perfeita, fazia faculdade e me tornei uma profissional independente e, um belo dia, me encontrei em um tribunal em Tocantins com um moço muito parecido com meu pai, e como sou muito comunicativa, contei-lhe que o meu pai era muito parecido com ele e até mostrei uma foto e ai ele me disse:
"Esse é o DEU, meu irmão mais velho, mas ele sumiu, ninguém o vê mais, ele foi embora do Brasil, para a Suécia" e eu disse, "nada disso, ele mora aqui no Brasil, bem mais perto que você imagina". Trocamos telefone e assim passei a me comunicar com esse meu amado tio Neco, como gostava de ser Chamado o Tio Manoel.
Devido a distância, não tive muita prosa com o meu tio e meu pai continuou se comunicando com ele e trocando figurinhas, acreditei que tinha conhecido verdadeiramente naquele momento a minha história ancestral. Ledo engano!
Passou-se o tempo, passaram-se os anos, passou-se muita coisa na minha vida, inclusive tive vários problemas de saúde, perdi meu marido, assumi minha vida sozinha longe de meus parentes, estudei muito, passei em concursos, dei aulas, tive escritórios em várias cidades, enfim...
Devido a família de meu falecido marido ser muito ligada à mim e aos meus filhos, afastei-me de minha família e os deixei a uma distância de mais de 1.600KM, assim os contatos por telefone naquela época eram apenas para matar a saudade e não para procurar agulhas em palheiro, mas aquela história oculta e os segredos que o meu pai não desvendava ainda povoavam a minha cabeça.
Após o tratamento de um câncer no fígado que adquiri por questões emocionais, comecei a desenvolver um sério problema de obesidade e descontrole funcional.
Começaram novamente as idas e vindas aos médicos e aos tratamentos e nada dava certo, mas eu não podia parar, vida que segue, como boa mãe e profissional eu tinha que cuidar da prole e me manter digna para a sociedade.
Me casei novamente, mas tive problemas com o meu marido que sempre insistia para eu emagrecer, mas mesmo fazendo tratamentos, dietas, remédios e controles ( hipnoterapia e psicoterapia) nada resolvia. Cheguei até falsamente ser diagnosticada com bipolaridade, mas, graças a Deus, descobri que foi apenas um erro, um desentendido que levou o médico a fazer uma avaliação inadequada e com isso parei com o litium e com o topiramato, remédios esses que me deixavam grogue, cansada, com um pequeno retardo nos movimentos e com falta de ânimo para tudo.
Ao procurar um psiquiatra de renome em Belo Horizonte, ele, após anamnese não mecanicista, avaliação diagnóstica e exames neurológicos, me informou, tacitamente, que eu não era portadora de bipolaridade, mas a minha alegria não demorou muito tempo...
Eu tinha um problema um pouco mais complicado TDAH – Transtorno de Deficit de Atenção, o que fazia com que o meu córtex frontal trabalhasse a uma velocidade superior a média dos humanos de minha idade, ou seja, eu tinha uma velocidade de informações recebidas aleatoriamente no córtex frontal o que me deixava como uma velocista em relação as pessoas “normais” e colegas de profissão.
De início gostei muito de saber sobre a posição do meu QI – Quociente de Inteligência, mas com o tempo tive outros problemas de relacionamento e de trabalho, já que a minha produção era maior que alguns colegas, e eu ia me tornando uma workaholic, e novamente, aparece meu segundo marido me pedindo para cuidar da minha saúde e emagrecer.
Neste interim já estávamos no ano de 2010 e eu comecei um tratamento com um endócrino e com uma psicoterapeuta, para controle de peso e, essa mesma terapeuta me levou a conhecer as constelações e, em 2012, fui apresentada ao mundo Olinda Guedes, mas o consenso de minha terapeuta era um possível parente meu, Dr. Fernando Freitas CS, e assim comecei a adentrar no mundo das constelações.
Estava voltando as minhas origens, as minhas dúvidas em conhecer a história de meus avós paternos, e assim comecei a navegar pelo mundo sistêmico e fui descobrindo que o viver com consciência sistêmica me permitia ser eu mesma, me conhecer, viver da forma como eu gostava e relutar contra os medos e segredos de meu paizinho querido.
Constelei com os mais renomados nomes de facilitadores no Brasil: Elza Carvalho, Tatianne Almeida, Isabela Couto, VW, Solange Pereira, Mario Koziner, Inês Rosangela e quanto mais eu entrava nesse planeta sistêmico, mais eu me apaixonava, tanto que fiz diversos cursos e workshops.
Iniciou a pandemia em 2020, e eu fui trabalhar em home office e como sempre acabava muito rápido o meu trabalho, comecei, a convite da Sizumi, a acompanhar todas as aulas da Olinda Guedes, e um belo dia tomei coragem e me predispus a fazer uma constelação e ela prontamente me indicou uma aluna sua e essa se predispôs a me constelar; pensei "agora estou livre de todos os emaranhados.
Aiai, como somos frágeis cabeças de cebola, ao pensar que mesmo após aquelas inúmeras constelações que eu fiz, essa iria ser a fatídica constelação que abriria as portas para a cura, para um viver saudável, mas se você está lendo até aqui, saiba, essa foi a minha constelação, a constelação dos sonhos, a constelação que me tirou do prumo, tirou da concepção do achismo e me levou a ter uma cartasse constelacional que me adoeceu por 15 dias.
Estava saindo de uma cura do COVID, com uma perfuração no pulmão direito, problemas cardíacos, a minha carótida esquerda foi entupida durante o processo de cura do COVID e, após a constelação que eu vislumbrava a cura, eu tive uma infecção urinária severa, inflamação da uretra e da bexiga, tudo porque descobri com a consteladora que eu estava obesa e comia demais devido a fome que meus familiares passaram outrora na vinda para o Brasil e também aqui, no início de suas vidas.
Diante da constelação e da cartasse, reuni-me com meu pai e meus tios, para colocar um ponto final naquela situação e tomei ciência de tudo, Eu não conseguia realizar as tarefas dadas pela consteladora e ainda ficara doente.
Oh meu DEUS! Falando com ela, resolvemos fazer uma nova constelação e eu prontamente aceitei, caldo de cana e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, uma constelação a mais uma a menos também não faria, e assim nos propusemos a realizar uma nova e profícua constelação.
Uniu-se as informações dos meus antepassados, relatada por meu pai e por meus tios, unificou-se o conhecimento na constelação e assim descobri o mistério que envolvia todo meu sistema e por quem eu comia.
Eu precisava comer por fidelidade a todos os meus ancestrais que tanta fome passaram na Ucrânia, no período de 1926 a 1929, durante o Holodomor (Голодомор), causado pela tirania de Stalin em consenso com Hitler no início de seu governo na Alemanha.
Para quem não sabe, o holodomor, foi uma catástrofe deliberada e politicamente projetada que aconteceu na Ucrânia e no norte do Cáucaso, que se referiu a uma brutal escassez de comida, que matou mais de 11 milhões de pessoas, e que terminavam por enterrar os corpos aos montes em valas comuns (não foi à toa que quando o COVID disseminou na Itália, eu, mesmo em home office e isolada, contraí o vírus do COVID e passei mal:
Memórias transgeracionais e epigenéticas do meu sistema.
Esse genocídio na Ucrânia causou muitos traumas e levou muitos ucranianos a fugirem e se tornarem desertores do regime stalinista e, nessa situação, estavam os meus bisavós e o meu avô paterno, que fugiram em barcos de ciganos e piratas para as mais diversas partes do mundo, caíram de bandeja no Brasil e aqui firmaram residência, passando muito aperto e muita fome, já que vieram somente com suas roupas do corpo.
O mais incrível de tudo isso é que somente se fala no holocausto de Hitler, mas do Holodomor, ninguém nem se lembra, talvez seja esse o motivo de tanto medo do meu pai e dos demais familiares em contar as histórias dos meus antepassados.
Mas, o horror não termina nesse fato.
Aqui chegando, meu avô paterno conheceu uma índia Bugra linda, faceira, alegre, trabalhadeira, com pele bronzeada, que lhe chamou atenção e logo a tomou como mulher. Nem foi necessário o tramite legal, juntaram os panos e foram morar juntos e assim começou a vida e, em 1934, meu paizinho, se tornou o primeiro dos filhos deles a despontar para a vida no Brasil, local que inicialmente seria a vênus platinada para meu bisô e para meu avô.
Em meados de 1943, com a ascensão do regime soviético e a industrialização, começou-se uma retomada e um chamamento dos ucranianos para retornarem às suas terras e seus pertences, deixados durante o Holodomor e, com muita inocência e pouco dinheiro, meu avô decidiu ir tentar reverter a situação financeira da família, retomar as terras e voltar a ser o fazendeiro que o meu bisô era na Ucrânia.
E assim partiu, deixando a minha avozinha Maria, meu paizinho com 11 anos e mais quatro filhos, duas meninas com 10 e 09 anos e dois meninos com 07 e 05 anos. Restou apenas a minha avozinha e meu pai seguiu a vida.
Nessa situação, brota um herói, diante da necessidade de garantir a sobrevivência familiar. A minha avozinha, distribui os filhos com alguns vizinhos, com o intuito de deixa-los a trabalhar enquanto ela e meu pai se empreitavam nas roças e nas fazendas de colheita de milho, sorgo e soja.
Muitas foram as outras violências e outros abusos que minha avó, meus tios e, principalmente minhas tias sofreram e, graças a tanta fome que eles passaram, maus tratos e muitos outros problemas, eu cresci, me tornei a ovelha negra da minha família, descobri a minha história e ressignifiquei as minhas dores e meus emaranhados.
Agora eu posso, da altura da minha maturidade, ao encerrar um ciclo da minha vida, iniciar um viver sistêmico, ulular ao mundo:
"Queridos, amados e desconhecidos antepassados, agora eu vejo vocês, sei o quanto amor vocês tiveram por mim e por todos os meus familiares da minha linhagem paterna. Sei como meu pai foi um herói para meus tios, para minha avó e para cada um de nós que recebemos dele o amor mais incondicional em função de todos nós.
Todos vocês meus ancestrais, fazem parte de mim, de minha vida e de meu sucesso e hoje eu tenho o privilégio de tomar tudo que recebi de vocês, recebo amor de vocês e uso e faço algo diferente, que foi provocar-me a honrar os meus antepassados, que com grande força enfrentaram guerras, batalhas, fome, insegurança, medo, pânico, mas, mesmo assim tiveram a fé e a vontade de mudar a sua existência em função das nossas novas gerações.
Como eu sou feliz! Agora eu entendo porque eu nasci com a MALDIÇÃO DE SER FELIZ de difundir a felicidade e ser um milagre dia a dia nesse mundo até o final da minha existência, porque não foi à toa que muitos morreram para que eu tivesse vida, muitos tiveram fome para que eu pudesse comer e muitos morreram ou foram sacrificados para que eu pudesse ser o sucesso que sou hoje .
Gratidão amados antepassados, por vocês eu dou um grande sim para a vida, eu sigo em frente em largos passos porque os parcos passos trilhados por vocês me abriram um caminho, uma estrada, uma fronteira e um novo linear de futuro para ser exatamente o que eu queria ser.
De tudo o que foi, como foi, não poderia ser nada diferente, nada poderia mudar, nenhum fato deveria ser alterado, tudo foi como deveria ser e agora EU SIGO EM UMA LONGA JORNADA DE CURA SISTÊMICA, HONRANDO E LOUVANDO a força, o poder e a alegria cigana dos meus ancestrais, e ao ouvir música ucraniana ou música cigana eu me deleito em dançar, vibrar, cantar e valorizar a minha ancestralidade, a minha criança interior e me felicito por fazer parte desse sistema, desse clã que não é perfeito, não é cheio de riquezas e não é tradicional aqui no Brasil, mas é perfeito para mim.
Sim! Tudo está certo, eu sinto que tudo se ajeita na profundidade do ser, do sermos nós, os imigrantes que refizemos e refizemos o país dia após dia e nos tornamos brasileiros,, por raça, cor, credo e por confiabilidade por nos aceitar do jeito torto que somos!
Gratidão aos antepassados, Gratidão Brasil, Gratidão Bert Hellinger por despertar esse viver sistêmico em mim, provocando uma espuma na onda do mar, para que eu pudesse conhecer em profundidade o oceano sistêmico da minha família!