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Carta para a Mãe

Carta para a Mãe
Angela Helena Bona Josefi
set. 25 - 3 min de leitura
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Querida mãe!

Quando olho para a minha infância, vejo uma criança tímida e medrosa, que não gostava de dizer que estava com medo, porque achava isso normal e que se manifestasse estaria incomodando por uma coisa que certamente seus irmãos e as outras crianças também deviam sentir. Se ninguém falava, pra que incomodar a mãe com isso?

Quando algo acontecia e eu ficava muito assustada, corria para perto de você e ficava ali, quietinha, sentada no chão, quase embaixo da sua máquina de costura, onde só de ver seus pés movimentando o pedal, já me acalmava, porque se você estava costurando normalmente, não havia um perigo lá fora.

Quando você ia para a roça com o pai, nós ficávamos aos cuidados de uma pessoa contratada para ajudar nos serviços domésticos. Às vezes era uma pessoa boa, outras vezes uma pessoa que parecia ser boa, na sua presença. Quando ela saía antes, e nos deixava esperando você chegar,  eu quase não respirava, de tanto medo... não sei se você demorava ou se não passávamos dez minutos ali esperando, mas a lembrança me diz que parecia uma eternidade.

Quando ouvia o barulho de algo batendo na parede, estremecia e sentia calafrios, logo substituídos por um imenso alívio: sua voz nos chamava, era você encostando o cabo da enxada perto da porta. Nunca lhe falei sobre isso, e talvez isso fosse um segredo meu, de criança. Será que havia segredos no mundo dos adultos?

Algumas vezes, vi você chorar tanto, e ao perguntar-lhe o porquê, já com vontade de chorar junto sem nem saber o que a entristecia, você dizia estar com dor de dente, ou com dor na ferida que tinha na perna... eu ficava pensando se essas respostas escondiam um segredo seu...

Sobre o meu, o do medo, penso que no fundo você sabia, porque quando nos ensinava as orações antes de dormir, você dizia que quem se confiava a Nossa Senhora, Mãezinha do Céu, e rezava todos os dias pedindo a sua proteção, não precisaria ter medo de nada, nem do escuro, porque ela estaria velando atentamente e protegendo o tempo todo, mesmo enquanto dormíamos. Essa certeza me dava coragem!

Hoje, olhando para a minha vida adulta, e já sabendo alguns daqueles seus segredos, que você contou, vejo o quanto você e o nosso pai foram fortes, guerreiros, o quanto lutaram por nós, pela nossa família! Vocês nos deram o essencial, o suficiente. Gratidão por tudo! Sinto muito pelo tanto que lhes custou. Quantas coisas que eram apenas sonhos para vocês, agora nós podemos realizar, porque vocês priorizaram a vida!

Quanto aos seus medos, minha mãe, e quanto aos seus segredos, se ainda existe algum, deixo com você com respeito, e honro tudo o que recebi, fazendo o melhor que eu puder com a vida que ganhei de graça.

Ah, os meus medos?

Ainda tenho alguns que vou procurando resolver porque estou aprendendo com eles. Eles também me deram algo: a decisão por buscar cura e mais conhecimento.

 


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