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OLINDA GUEDES
out. 27 - 6 min de leitura
0110

Quando eu era criança convivi muito com minha avó.

Nós éramos como pão e manteiga. Onde ela estava eu a procurava. Como amava estar com minha avó.

Ela ia buscar lenha, íamos juntas.

Ia tratar dos porcos, lá estávamos eu e meu mano.

Ia molhar as plantas, lá estava eu saltando sobre os canteiros.

O pão estava pronto para tirar do forno? Era eu quem avisava.

Ela recebia cartas de sua irmã Catarina, cuja neta escrevia. Eu as lia tantas vezes quanto ela pedia e algumas mais, por vontade própria. 

Ah, vovó, doce vovó.

Foi ela também, que no alto de seus oitenta anos, ao me ver ainda sem meus filhos amados, me aconselhou:

- Minha fia, precisa ter seus fios... porque nossos fios são nossas trincheiras.

A vida foi para frente, como é seu curso natural.  E o amor, meu amor por ela nunca passou. Suas lições permanecem tão vivas que sei exatamente qual seu tom de voz, seu timbre tão macio que é um bálsamo para meus momentos de não saber o que fazer, de tempestade ou de escuridão.

Mas, também, frequentemente é companhia em minhas caminhadas, passo a passo, quando a brisa mansa toca meu rosto e me diz que tudo está certo. Que estou realizando as maiores bênçãos de uma existência:  meus filhos lindos.

Não somos uma família Doriana, por tanto tempo eu quis as coisas assim redondinhas, azuis ou rosa, um marido para ser arrimo de família e eu ter todo tempo do mundo para poder lamber e mimar minhas crias. Queria também ter a alegria de ouvir meus filhos falando: Papai! Mamãe! Mas, sou mãe deles. E pronto. Eles me aceitaram como mãe deles, mesmo sendo assim.

Bem, a vida nos tira algumas ilusões, por outro lado, nos surpreende com tanto, tanto que não sou capaz de descrever.

De filhas de sem terras, de neta de lenhadora, bisneta de indígena e portugueses saudosos de sua pátria mãe, estou cá “octolhardária” ...  bem, quero dizer, que sou muitas vezes riquíssima... oito filhos? Sim.. não há outro sentimento. Sinto-me a pessoa mais privilegiada do mundo. Que me perdoem todos os meus outros próximos felizes do mundo... mas fato é, devo confessar.

A vida me deu oportunidades incríveis. Simplesmente! Porque já viu uma pessoa da roça, nascida na década de 60, poder fazer uma faculdade? Bem, eis me aqui, Senhor ou Senhora!

Porque sou muito devota de Nossa Senhora, minha linda mãezinha. Foi sempre mais fácil para mim essa relação, porque talvez a ternura com minha mãe sempre fluiu mais fácil.

Meu pai é justo, íntegro, tem bom senso. Transcendência com ele é de uma forma bem matuta: cuidar das plantas, adubar, regar. Combater ervas daninhas, ajudar ao próximo, se for solicitada ajuda e se ao ajudar não se atrapalhar. Assim é.

Conversamos pouco sobre assuntos espinhosos. Cada um faz o que decide sobre sua vida. Mas, se consultados, oferecemos nossa opinião. Só isso. Não discutimos esses assuntos.

Por que será?

Sempre me perguntei.  Ainda não tenho as respostas.

Fato é que agora sou mãe e meus filhos me perguntam tanto, tanto. É “por quê?” de todo lado.

Já falei do privilégio que Deus me concede. Não posso pedir mais nada. Ele me surpreende tanto, imensamente.

Dentre tantas surpresas, bênçãos e milagres, tenho a incumbência de ser escolhida como terapeuta de tantas vidas. Dentre elas, de vidas que decidem rumos de famílias, comunidades, estados. Sim!  Em nossa casa recebemos desde aquele que precisa de alimento para o corpo, como aquele que desamparado, pede “Pai! Afasta de mim essa missão... não é por mim! Eu preciso de tão pouco!...”

A vida me dá tantas oportunidades. Sim, e ela também exige de nós! Agora eu sei. Mas, como comunicar o que eu sei?

Nem perguntada sou. Mas, tenho a responsabilidade, ao menos sobre aqueles que têm a mim como mãe, professora, terapeuta, mestra.

Estou ouvindo agora uma canção tão linda que de certa forma também é uma transgressão religiosa para o mapa de mundo de minha família.  Mas, o que seria da vida se não fôssemos ecumênicos?   Sinto-me tão engraçada como minha avó Luiza.

Uma pessoa que quero tanto bem, conseguiu colocar em palavras o que digo aos meus poucos e preciosos amigos: - Tenho medo! Não posso falar. Não sei o que pode acontecer comigo e com minha família.

O que ela disse foi:   - Isso é memória de tortura. Quando um povo é torturado por pensar e cumprir os seus deveres, esse povo torna-se amedrontado. E ao invés de dialogar, se calam ou gritam. 

Perdoe-me, vovô José Francisco!

Um de seus ditados preferidos era: “ boca calada não entra mosca”. Pura verdade. Me apavora saber que ao expressar nossos medos, verdades e necessidades, podemos, simplesmente, deixar de existir.

É a minha humanidade. Perdoem-me!

Se eu não tivesse medo hoje, eu cantaria feliz aniversário. Se fosse possível.

 

OLINDA GUEDES é mãe da Nina e Camila Maria, apaixonada pela vida, escreve com o coração o que cabe em palavras.  É mãe de mais outros cinco príncipes na terra, mais uma princesa que está chegando e quatro anjos no céu.

Milton Erickson é um de seus mestres. Com ele aprende-se sempre a arte das palavras. 

Conduz, no Instituto Anauê-Teiño, a Escola de Saberes Úteis. Uma iniciativa cujo objetivo é trocar saberes das diversas ciências com o propósito de uma vida mais feliz, próspera e saudável.

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