Passei 8 anos consecutivos cuidando de pessoas em estado terminal, que inspiravam muito cuidado e amor... Porque ninguém podia imaginar que ali estava uma mulher destruída, com sua alma gemendo por consolo.
O que fazer?
Só me restava uma alternativa para sobreviver: trabalhar de cuidadora.
E agora? Ser cuidadora?! Meu Deus! Estou adormecida e cheia de ódio! No baú da minha vida: muitos ressentimentos, muitas mágoas.
Mesmo assim, comecei a cuidar daquelas vidas e, a cada dia que passava, me libertava de uma dor.
Aquelas pessoas me ensinavam o que era o verdadeiro amor... E trocando carinho... dando cuidado. E com o passar dos dias, fui surpreendida com minha saúde curada e com meus sentimentos restaurados.
Qual o segredo para que isso acontecesse?
Viver um dia de cada vez, entre encontros e desencontros.
Sabe o que eu via em cada um que cuidava? Eram pessoas que tinham tudo, mas que estavam perdendo o melhor: suas vidas!
Nada mais é importante que estar vivo e ter saúde.
Suas lágrimas me curaram. Suas dores me salvaram.
Pude contemplar seus sofrimentos... e foi aí que compreendi o valor da vida. O resto conquistamos com o suor de nossos rostos.
É bíblico!
Todos os dias dava graças a Deus por estar viva e podendo trabalhar.
Entendi que dependemos sim, das pessoas, mas primeiro temos de olhar para dentro de nós mesmos. Limpar a raiva, aprender a viver em harmonia, agradecendo a Deus por tudo e dar graça por mais um dia.
Aquelas vidas que estavam partindo, só se desprendiam de seu corpo físico quando conseguiam perdoar àqueles que, segundo elas, tinham ofendido e não deram o valor que mereciam.
Mas também reconheciam que nunca deram amor e carinho e diziam: "- Estou sofrendo por isto..!" E que só lhes restava o sofrimento... Choravam sempre... E diziam que dariam todos os seus bens conquistados para poder viver mais alguns anos e poder dar valor aos seus familiares.
Então diante de tanto aprendizado, só me restava também perdoar e aceitar, cada um com suas qualidades... E amar todos... Mesmo com seus defeitos.
Enfim, partimos e não levamos nada... e deixamos somente lembranças do que somos. Afinal, o importante é darmos valor à vida... e viver os dias que se findam, com muita sabedoria.