Meu pai sempre teve um relacionamento conflitoso com meu avô, que sempre foi muito autoritário, rígido e era alcoólatra, bebia todas as noites e brigava muito com filhos e batia em minha avó.
Eles moravam na roça e trabalhavam todos na lavoura, um dia voltando para casa dirigindo o trator, meu pai e um tio que estavam juntos sofreram um acidente, tombando o trator. Meu tio faleceu nesse acidente e meu pai ficou muito machucado.
Depois disso meu avô sempre que bebia dizia ao meu pai que ele quem tinha matado meu tio, que a culpa era toda dele, e também dizia que ele era quem tinha que ter morrido.
Numa dessas noites meu pai pegou suas roupas colocou em uma bolsa, pulou a janela e foi embora de casa escondido, pois meu avô estava bêbado com um facão nas mãos querendo matá-lo. Eles moravam no Paraná e a convite de um conhecido da família, meu pai foi embora para o Mato Grosso do Sul trabalhar em uma fazenda.
Lá conheceu minha mãe, que morava com meus avôs. Minha mãe cresceu vendo a minha avó sendo muito brava e nervosa sempre com ela e os outros irmãos, sete no total.
Minha avó teve depressão e tentou se matar quando eles ainda eram crianças, minha mãe foi criada por um bom tempo pela minha bisavó e bisavô, pais da minha avó, ela conta que sofreu muito quando teve que voltar para casa, para seus pais, pois foi muito pequena morar com os avós e tinha eles como pais.
Quando conheceu meu pai logo se apaixonou, namoraram e logo se casaram. Minha mãe conta que quando conheceu meu pai ele chorava muito de saudades da família e de sua mãe, minha avó. Ambos se casaram com um corpo de dor ativo.
Um ano após o casamento, minha mãe estava grávida de mim e meu pai então resolveu voltar para o Paraná e rever sua família, pois tinha em mente que somente assim seria aceito novamente pelo meu avô, seu pai, e assim foi. Eu era a primeira neta mulher dele.
Mas o casamento deles sempre foi disfuncional, minha mãe era a esposa que nunca teve boca para nada, meu pai sempre a traiu com outras mulheres, mulheres da vida, e ela sempre acabava perdoando. Ele nunca teve muitas responsabilidades, sempre viveu pulando de trabalho em trabalho, muitas dívidas, nunca parou com nenhum patrimônio que conquistou. Se separaram à 12 anos atrás.
Então me dei conta que também fui para meu relacionamento conjugal com corpo de dor ativo, e meu esposo também, ambos temos as histórias dos nossos pais muito parecidas com traições e dificuldades, buscávamos um no outro aquilo que não tivemos com nossos pais, e foi um início bem difícil.
A pouco tempo conheci as constelações e as dinâmicas sistêmicas e muitas fichas começaram a cair em minha vida, comecei a entender o porque de toda a minha trajetória, as minhas dinâmicas e emaranhamentos. Pouco a pouco estamos conseguindo curar nosso corpo de dor.
Agora eu sei... Agora eu vejo!