Sou filha de José Mendes Gonçalves e Maria Ivone Anjos Souza Gonçalves.
Meu pai veio de um lar com muitos conflitos, brigas, alcoolismo e não havia ordem, não se sabia quem era o pai, ou mãe ou filho. Ao todo são 9 filhos.
Os meus avós paternos acolhiam muita gente em sua casa, era uma "casa de passagem", as pessoas passavam para tomar um café, para dormir, para conversar com meu avô, diziam que ele sabia dar bons conselhos.
A minha avó paterna gostava muito de sair, rezar, ir na igreja e fazer caridades, só não interessava muito com serviços domésticos. Meu pai começou trabalhar cedo, começou a beber e fumar muito novo e gostava muito de namorar. Começou a trabalhar nos Correios, que naquela época era por indicação. Depois foi preciso fazer uma prova para se tornar funcionário efetivo.
Ele falava com minha mãe que queria uma menina loirinha e minha mãe que mais parece uma índia, se ofendeu e falou para ele se casar com uma pessoa loira.
Minha mãe veio de um lar mais tranquilo, já havia ordem, os 8 filhos tinham muito respeito pelos meus avós. A casa dos meus avós, assim como a casa do meus avós paternos, também acolheu muita gente.
Meu avô no início do casamento com minha avó, bebeu muito e a fez sofrer bastante. Apesar de sofrer, minha avó também tinha voz ativa, brigava com meu avô quando ele exagerava, ameaçava de ir embora e por muitas reclamações dela e força de vontade, meu avô parou de beber.
Dedicado a família, meu avô se tornou um exemplo de homem e esposo e até hoje é visto por todos da família como mito. Ele viveu até os 102 anos. Minha avó era uma mulher forte, inteligente, à frente de sua época, enfermeira prática e parteira, salgadeira, costureira, era de tudo um pouco.
Minha mãe era arredia, desconfiada, tem sangue de índio, pois a bisavó dela era índia. Ela queria estudar, estudar e estudar. Foi a primeira da família dela a se envolver com estudos. Um dia ela me revelou que estudava tanto porque tinha medo de ser testada e não saber a resposta, sendo assim, nunca gostou de vestibular, concursos que tinham disputa, enfim, tudo que ela poderia perder.
Com sua dedicação e disciplina se formou em 1º lugar no curso de história, recebeu medalha de honra ao mérito e isso é o seu maior orgulho.
Eu sou filha desse casal que tem muitas diferenças, mas também semelhanças em suas dores. Acredito que tenho alguns comportamentos parecidos com da minha avó paterna, como não gostar de serviços domésticos.
Puxei esse lado de ouvir e aconselhar que trouxe do meu avô paterno. Do lado da minha mãe, acredito que pareço com minha avó por ser bem corajosa e forte e também por escolher essa área de cuidar do outro. Com meu avô, apesar de ser visto como um mito, não sou assim tão perfeita, puxei a justiça dele.
Tenho muitas semelhanças com a família do meu pai, tanto fisicamente quanto o jeito de ser. Assim como meu pai queria, saí ruiva, não exatamente loira. Do lado da minha mãe, saí com a vontade de estudar e o medo de ser testada. Aprendi com ela que meu "marido" é meu "emprego".
Sou grata a todos meus familiares, hoje me sinto feliz por ser quem sou. Depois de muita terapia, busco conhecimento dos meus antepassados, fico curiosa em saber como eles se comportavam e vejo muito reflexo deles nas gerações atuais.
