"Com as vibrissas ardendo, as antenas empinadas, os olhos se adiantando velozes, facetados como os de uma mosca, eu absorvia tudo ao meu redor. Eu estava correndo, mas correndo com velocidade e fúria, como um relâmpago a atravessar, de um lado para o outro, o estacionamento do hospital procurando gastar uma energia ilimitada, irrequieta, maníaca."
Isto ocorreu às duas da madrugada e este é um trecho do Prólogo do livro "Uma mente Inquieta" da Dra. Kay Redfield Jaminson, na página 3.
E quem é a Dra. Kay?
Uma mulher brilhante, catedrática de universidades norte-americanas. Mas também uma pessoa bipolar que relata a árdua trajetória de uma profissional de saúde, que corajosamente vai em busca de solução para os seus sintomas, com o intuito de ajudar não só a si mesma, mas a milhares de pessoas que sofrem doenças mentais.
A urgência de sair correndo, seja a hora que for, o lugar que for, a desconfiança constante de alguém atrás da porta com intenções maléficas, as alucinações visuais e auditivas, tão reais que podem ser descritas em minúcias, a necessidade de obedecer vozes estranhas que indicam tarefas para o suicídio ou homicídio: crises psicóticas em vários graus.
Se não isto, a velocidade incontrolável de pensamentos, milhões ao mesmo tempo, a exaustão física e o suor de molhar a roupa. E, depois, a noite escura da alma, como nominou São João da Cruz.
Nenhuma força, exaustão, chumbo nos pés, sem fome, sem vontade, sem cor. Nada faz sentido. Tudo está cinza lá fora..
E, no entorno, na família, a incompreensão. Compre alguma coisa! Saia! Tenha força de vontade.
Ninguém entende que também a força de vontade é uma função química do cérebro.
Difícil atinar o que seja a descompensação química no cérebro. Entender a ingestão de remédios para pressão alta, diabetes, colesterol, tudo bem. Mas, qualquer sintoma, do pescoço pra cima, não dá pra ver, melhor não enxergar, abafar o medo, fazer de conta.
Ali reside a loucura.
Benditos remédios que permitem aos portadores de transtornos mentais terem suas vidas transformadas, vivendo bem na família e na sociedade. Precisamos, como terapeutas, esclarecer às famílias que quando bem medicados, com profissionais sérios, o tratamento se dá como qualquer outra doença.
Se faz necessário esclarecer a população sobre esta dor tão intensa, livrar-se dos preconceitos, pensar de forma mais sistêmica.
Como terapeutas precisamos amparar a família, rever o sistema, esclarecer o sofrimento tão oscilante na mente dos depressivos, bipolares, esquizofrênicos.
Assistindo à aula 1 do módulo 7 eu fiquei feliz ao aprender sobre Constelações. É um alívio saber que temos mais um instrumento, mais luz.
Se alguém tiver uma pessoa com transtorno afetivo, não se desespere. Estude, conheça, lute contra o preconceito. Grandes nomes da História eram portadores desses transtornos.
Vamos constelar.
Grata, Professora Olinda!
Referência: Uma mente inquieta, de Kay R. Jamison. 1ª edição, 1996, Martins Fontes.