Eu tinha uma amiga que sempre que se percebia fazendo uma bobagem, dizia: "- É ego, tenho que parar com isso". E não era só ela não, volta e meia eu ouvia algo sobre reprimir o ego, não deixá-lo tomar conta e coisa que o valha.
Mas, aos poucos, comecei a questionar isso, porque fui juntando pontinhos que acabaram por formar uma figura diferente, bem diante dos meus olhos. Eu fui percebendo que a cada crítica ao meu ego, e a grande maioria das vezes, era eu mesma a fazê-la, ia me deixando ficar mais constrangida e insatisfeita.
Vou contar um caso: Eu tenho um lado leonino meio protuberante (hehe), mas não do tipo rei amado por todos, eu quero ser amada por quem é especial para mim (quem não? quem nunca?). E um dia, chorosa, a reclamar por causa disso, ouvi um rotondo: "E daí que eles não te amam? Você deve aprender a amar a si mesma", fiquei mais chorosa e mais constrangida.
Passado um certo tempo, dei-me conta que isso era mais importante para mim do que eu poderia seguir negando, e resolvi olhar. Quando me sinto amada, eu floresço, e acho que isso é uma necessidade natural sendo atendida. E devo admitir que foi poucas vezes atendida. Mas, porque nunca tinha sido olhada devidamente, até agora. Ainda ensaio uns passinhos tímidos nesse sentido. Não sei muito bem como me autoamar.
Todos nós necessitamos, na infância, sentir-nos amados por nossos primeiros grandes amores, e eu tinha tido o meu movimento de amor materno interrompido por uma ameaça de morte e uma consequente semana de incubadora, eu precisava compensar de algum jeito. E meu jeito era ser a preferida de alguém que fosse preferido por mim. (Quer me ganhar, me dê atenção!!!!🤩).
Se compreendermos que o movimento de amor é não apenas um fluxo natural, mas absolutamente necessário, fica fácil perceber porque o ego se manifesta pedindo (simplesmente) aquilo que precisa. Não da melhor forma, mas da forma que para ele faz sentido, mesmo que não funcione. Não olhar para isso é "jogar o bebê fora e pôr a água do banho no berço"😂🤣.
Admitamos que o ego tem suas falhas e a Psicologia nos explica muito bem, e ela mesma tem redimido um pouco esse vilão choromingas. Então, a ideia não é parar de negá-lo para lhe fazer as vontades no melhor estilo inconsciente (para evitar constrangimento). É sentá-lo no seu colo e como uma mãe ou um pai legal, perguntar: "- O que que tá pegando, filhinho? Como posso ajudar"?
Agora falando sério, é olhar para a situação que pede que uma necessidade infantil (ou não) seja vista e atendida de um modo maduro e eficaz. Demonizar o ego é mais uma forma de autopunição ou de negligência com o outro e suas necessidades.
Eu pensei comigo, então: Se receber atenção é para mim tão fundamental, como posso olhar para isso de forma saudável e achar meios maduros de atender essa necessidade? Porque é necessidade, dizem que é ego porque confundem com desejo. Porque desejo é necessidade transformada em capricho compensatório.
É isso que eu acho, nem sei se é desse jeito que se poderia abordar o tema tecnicamente falando, mas é assim que sinto. Sem querer demonizar o desejo, é claro!!!🥴
Usei o exemplo da carência, mas existem outras necessidades e até valores sendo jogados para debaixo do tapete, por se manifestarem de maneira infantil e equivocada, sendo enxotados para longe, porque ter ego é feio. Ele pode não ser bonito, mas é uma parte integrante de nossa psique e precisa ser olhado com reverência, porque senão dá vexame mesmo. 😏
Bom, resumo da ópera, devemos admitir a nós mesmos que como seres imperfeitos, teremos falhas ad infinitum e que isso faz parte, que negar nossa sombra é apenas o jeito mais pernicioso de se ferir, punir e falhar.
Que o ego precisa ser integrado por que "nada se perder, tudo se transforma". E por mais cabeludo que seja o tema ego, ele pode até ser divertido e render umas boas reflexões, né?