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Ensaio sobre ouvir... acolher e não julgar!

Ensaio sobre ouvir... acolher e não julgar!
Roberta França
dez. 13 - 4 min de leitura
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Atendi uma senhora há algum tempo trazida por sua filha. Estava com 79 anos, muito deprimida, incapaz de realizar mínimas tarefas do seu dia a dia. Não tinha nenhuma vaidade, não se importava de passar dias sem tomar banho, não se alimentava bem, não saía nunca, a não ser obrigada pela filha para ir ao médico. Não tinha mais amigos, pois se recusava a recebê-los. Só conversava com a filha. Uma situação que já se arrastava há anos.

A filha, extremamente dedicada à mãe, me contou que apesar de muitos médicos, ela pouco aceitava os tratamentos. Assim, foi ficando pior ao longo do tempo. Disse que estava exausta, parou de trabalhar para se dedicar exclusivamente à mãe, terminou um namoro de anos, não casou, não teve filhos, não tinha vida social, nem lembrava da última vez que tinha ido ao cinema.

Depois de muito diálogo, fizemos vários combinados sobre rotina, remédios e atitudes. A cada consulta era nítida a melhora da paciente. Já não ficava sem tomar banho, ganhou peso, não passava o dia deitada, passou a ouvir rádio e televisão. Estava até sorrindo e indo à padaria.

Para minha surpresa, um dia sua filha veio à consulta sozinha. Estava visivelmente transtornada e, ao entrar na sala, começou a chorar copiosamente, soluçando e apertando as mãos. Sentei ao seu lado, segurei suas mãos e disse "apenas fale tudo que e está passando aí... sem filtro!"

E ela numa torrente de frases confusas começou a dizer que não sabia se me amava ou me odiava, que eu tirei a mãe dela, que ela abandonou tudo, que não tinha mais nada, que só servia pra cuidar da mãe e que agora ela estava boa e não precisava mais dela, que ela preferia a mãe doente, que ela não tinha mais função na vida... e chorou, chorou, chorou... Quando conseguiu me encarar falou "a senhora deve estar me achando um monstro né? Eu mesma tô com vergonha de mim, de pensar e sentir assim, mas tá difícil demais suportar".

Dei-lhe um abraço bem apertado e disse; "claro que não. Estou aqui pra te ajudar. É natural que se sinta assim... é compreensível! Você fez uma escolha dificílima, você se anulou pelo outro, fazemos isso muitas vezes sem nos darmos conta. Não é certo, mas é humano! Entendo sua raiva e sei que não é pessoal, a situação está lhe deixando insegura e desesperada. Temos medo do desconhecido e, hoje, sua mãe sem depressão é uma desconhecida pra você".

Ficamos muito tempo conversando. Hora de fazermos novos combinados. Ela se comprometeu a fazer a terapia que eu indiquei e tomar a medicação proposta...
Estamos aos poucos achando novos caminhos... Não é fácil, mas ela ficará bem, tenho certeza!

A coisa mais bonita do meu trabalho é a possibilidade de aprender todos os dias... e como aprendi com essa história!

Tudo na vida é troca, um constante dar e receber. Ninguém é feliz só de um lado ou de outro... Fazemos por amor mas também esperamos receber... e quando esse receber não condiz com as expectativas que nós mesmos criamos, sofremos imensamente!!!

Não é maldade, egoísmo ou vaidade, é apenas a humanidade que habita em nós...
Você já pensou sobre isso?

Dr.ª Roberta França
Medicina Geriátrica
De Corpo e Alma
www.geriatrarobertafranca.com.br


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