A criança e o adolescente devem ser o centro da história. Isto parece simples. Eles devem ser a prioridade absoluta. Isto parece cheio de ternura. Muitas vezes me pergunto se entendemos esta verdade.
Quantas vezes se tem priorizado o interesse dos adultos em prejuízo dos direitos das crianças e dos adolescentes?
Muitos apregoam estar cheios de amor para dar. Mas basta mostrar que há, no Brasil, mais de 7.000 crianças e adolescentes aptos para adoção e o amor se vai. Gaguejam. Engolem a saliva e se vão.
A grande maioria dos 7.000 têm mais de 10 anos; ou estão cheios de irmãos; ou têm problemas de saúde. Eles estão nas casas de acolhimento do nosso imenso país. Provavelmente haja algum na sua comarca, ou na comarca vizinha.
Ah, o amor!
Ah, o desejo!
Eu não estou aqui a pedir que mudem o perfil. Tampouco que adotem aqueles que têm mais de 10 anos. Mas, então, não reclamem que o Judiciário é moroso. Não reclamem que a demora é tanta. Demorados são aqueles que não compreendem o que significa a prioridade absoluta. Andam ao redor dos seus desejos com tanto ardor, que não são capazes de abrir os olhos à realidade que os cerca. Muitas vezes tenho me perguntado quem verdadeiramente é apto à adoção. Fazem de conta que os mais de 7.000 não existem. Tornam invisíveis tantas carinhas lindas e abençoadas.
Quando alguém tanto quer adotar um bebê e esquece que há milhares (mais de 7.000) de crianças e adolescentes esperando um colo, um carinho, um afeto, uma ternura, um continente, um aconchego, um pai e uma mãe, o que dizer? Quem é o centro? Quem é a prioridade?
O Judiciário não é diferente da sociedade que o faz. O Judiciário é demorado tanto quanto aqueles que querem um bebê quando, ao seu redor, há milhares de crianças e adolescentes esperando um pai e uma mãe.
Quem são estes (pais, juízes, promotores, ...) que abraçam a prioridade absoluta e dela fazem seu manto e seus passos? Quem são aqueles que colocam as crianças e os adolescentes no centro da história?
É preciso repensar conceitos.
Texto de Mario Romano.
https://www.facebook.com/marioromano.maggioni
Imagem Aldeia Nissi.