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Escolha inconsciente é escolha?

Escolha inconsciente é escolha?
Simone Belkis
jan. 21 - 5 min de leitura
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Quando eu ouvi pela primeira vez a famosa frase de autoajuda: "- Você é 100% responsável por tudo o que lhe acontece", eu confesso que fervi de raiva. Eu vivo até hoje as consequências de um trauma de nascimento. Aí eu me pergunto: - Eu escolhi isso mesmo?

É claro que quando se fala de escolhas, as pessoas (mesmo sem saber) estão fazendo referência a escolhas inconscientes, feitas por necessidades instintivas,  que não são racionais e que são acionadas por mecanismos naturais de defesa. Afinal, quem escolheria ter um trauma logo ao nascer? Mas, a ciência já provou que apenas 5% (mais ou menos) de nossa mente é consciente e que seu papel original não é decidir e sim ponderar. Alguns milésimos de segundo antes de sua razão atinar o que houve, seu subconsciente já escaneou a situação, já julgou e já decidiu x ou y.

Só uma mente muito presente no agora, pode interferir numa resposta tão rápida. Então, eu repito a pergunta: - Eu sou mesmo responsável por decisões instintivas? Ou meu trabalho é reconhecê-las e, com muita ponderação, assumir a responsabilidade de refazer o caminho?

 Bem, não pretendo usar esse argumento como forma de justificar a vida que acabei levando (escolhida ou não). Mas, eu pergunto se somos mesmo responsáveis pelas escolhas ou seriamos responsáveis pelo que fazemos com o que nos acontece. Porque se nasci com um trauma, fiz sim escolhas que me levar a sobreviver por um bom tempo, até que essas escolhas começaram a me matar (emocionalmente). Precisei de anos de busca e perseverança conscientes até vislumbrar a possibilidade de fazer outras escolhas..

Eu costumo dizer ( e as pessoas não se sentem muito à vontade com isso) que somos marionetes do Divino, porque fazemos parte de um todo maior (e bota maior nisso), e que ao contrário do que gostamos (e muito) de acreditar, o ser humano não é o centro do Universo. E não é todo poderoso, e nem precisa ser.

Não estamos aqui para ser servidos, mas para servir a algo que nem ao menos podemos ter a pretensão (para não dizer prepotência) de ousar saber o que é. As Constelações Sistêmicas são muitas objetivas quando tocam nesse assunto. As Leis são claras e não discutíveis. 

Alguns poderão argumentar que fazemos parte do conselho celestial e escolhemos enquanto espíritos as lições que viremos a aprender. Pode até ser, mas me parece que nesse caso, estamos aqui mais para descumprir nossos próprios mandatos do que para cumpri-los. Bastar olhar em volta e observar que a evolução do homem não é exatamente progressiva, mas isso seria tema para uma outra conversa.

Na verdade, o que quero dizer é que assumir uma responsabilidade por algo que nem sabemos o que significa e que nos fere, parece-me mais masoquismo pretensioso do que outra coisa. E não, não estou fugindo à responsabilidade, porque no fim das contas sou apenas eu para lidar com ela. Se quiser que a vida mude, tenho que ser responsável, mas por aquilo que posso tocar, que posso lidar e posso assumir como uma decisão minha.

Então, eu prefiro acreditar que como um servo fiel e dedicado a uma causa maior, eu deva apenas assumir a responsabilidade pelas consequências do que me acontece quando não estou consciente e trabalhar, o máximo possível, para me tornar presente e assumir o risco de escolher refazer o caminho, mas dessa vez com consciência e respeito pela minha própria "imperfeição ao fazer" escolhas  pelas quais serei considerado 100% responsável.

Até porque, como a própria palavra diz: responsabilidade é a habilidade em responder. Como posso responder por algo que não tenho conhecimento, que não me pertence, porque estou reproduzindo um padrão familiar, por exemplo, como no caso de bisnetos de sobreviventes de guerra que carregam traumas dos horrores vívidos por seus ancestrais? Como ter habilidade para isso sem o conhecimento desse fato? 

Meus questionamentos são baseados em algumas crenças que não parecem muito capazes de nos ajudar, mas que caem sobre nossas cabeças como sentenças cruéis.

Eu assumo qualquer responsabilidade pelo que me aconteça, desde que não tenha que me autocrucificar por isso. Para mim, fica mais leve. Mas, parece estar na moda (ou sempre esteve) uma autossuficiência humana, egoica e imatura.

Estou só expurgando minha raiva do passado. Hoje, consigo olhar para isso com um olhar menos irado, mas não menos questionador. Afinal, têm algumas frases de autoajuda por aí que merecem ser postas contra a parede e ser 100% responsabilizadas pelos julgamentos que fazem. 


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