Laura Gutman, no seu livro Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra, cita em muitos capítulos, o estado fusional mãe-bebê.
Ele ocorrerá até os 3 anos de idade, segundo ela, que determina o final do amadurecimento psicológico para o bebê se tornar criança, e perceber-se como um ser separado completamente da mãe.
Nós aqui, estamos em 2 anos e 5 meses, e essa semana me vi pensando sobre o sentir-me uma só com a Ana, que sinceramente as vezes é muito, muito cansativo e as vezes sincrônico e harmonioso.
Na verdade até os 6 meses, ainda a sentia completamente minha, parte inteira do meu ser, como na gravidez. O sling, cama compartilhada, maminha em livre demanda e estar com ela ao colo diariamente, foram itens que também ajudaram no processo de principalmente aceitar de forma aberta que sim, eu tinha um ser grudado em mim, e essa era a forma mais saudável para ambas, porque me fazia bem e principalmente lhe fazia bem.
Hoje em dia, temos imensos livros a ir em direção oposta a isso, mas sinceramente, consigo sentir em minhas ancas, minhas ancestrais a carregar seus filhos enquanto colhiam milho ou lavavam roupa no rio, consigo ainda através da antropologia visualizar que elas dormiam com seus bebês até por falta de espaço e para lhes dar calor, e consigo ainda vê-las lhes dando a mama quando o bebê pedia, até pelo escasso alimento que um dia existiu.
E assim, como no parto, cada vez mais percebemos que voltar às origens tribais nos traz mais empoderamento e força para parir, para entrar nas hormônios e se soltar no sentir do corpo se abrir, também precisamos urgentemente ouvir e sentir no corpo a vontade que temos de enquanto mães ter o bebê junto, colado, parte de nós.
Respeitar isso, sem precisar ouvir: "Ela é muito apegada a ti", sim é muito apegada, e deve ser assim, ela é parte de mim, e quanto mais segura e amada se sentir até os 3 anos, mais terá autonomia e liberdade depois disso.
Por agora, aqui já temos testado ficar longe o dia todo e dormir sem mim... Mas sempre que vou testar mais algum passo, sinto uma dor visceral, como se fosse tirado de mim um órgão, que passa logo a seguir, mas que sinto quando estou a sair de casa...
Hoje em dia, cá em casa, somos dois cuidadores principais, e claro isso também facilitou um pouco nosso percurso... E disso vem o papel magistral do pai, o levar e mostrar o mundo, o levar para fora.
Obrigada por me lerem, nesses pequenos devaneios maternos... e apenas espero que outras mães ao me lerem, possam acolher suas dores de separação e dar um bom lugar a ela e que cada dia mais possamos ser mais mães a falar como nos sentimos, como queremos e como deve ser o mundo após a maternidade.