- Eu quero ter filhos mas não quero ter marido; disse a pequena garota aos seus pais. Eles a olharam como se tivessem mordido o caroço da azeitona.
O pai, solene e gentil, soletrou:
- Somos uma família tradicional. Não quero você morando com homem sem se casar, tendo filhos solteira.
Milhões de sinos tilintaram em minha sagrada cabeça.
- Você não é valente?
- Vai continuar saboreando seu delicioso café da manhã e ignorando isso?
- Vai deixar por isso mesmo?
Então, eu lembrei de um jumento de um filme que assistimos esses dias. Ô burrico destemido. Tomou cada invertida, mas continuou firme com sua boa teimosia. Ele viu a estrela e fez parte da história mais incrível da humanidade.
E daí?
Com toda elegância que minha mente ativista me permitiu naquele momento, estabeleci rapport.
- Com licença! Estou com minha filhinha hospitalizada, por isso estou aqui tomando um café. Ouvi um trecho da conversa da família e gostaria de partilhar.
Os quatro integrantes daquela "família Doriana" me olharam, num misto de espanto e estilo curitibano: chegou sem avisar. E agora?!
Ri por dentro, porque eu também queria sair correndo; desaparecer, como é tão possível nos filmes...
E o desenho animado se revelou:
- Parabéns por sua história! Estimamos melhoras para sua filhinha. A senhora é muito corajosa. Imagino quanto amor eles têm.
Ela - apontaram para a tal criança, que não tem o sonho que eu tinha de "família Doriana" - é nossa filha adotiva.
Acho mesmo que Deus escreve certo onde nem linhas há.
Espero sinceramente que essa garota tenha sua linda família com toda força e bênção do seu destino.
Grata por tudo que nos conduziu a esse encontro tão sagrado.
Olinda Guedes
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#agoraelatemmaisumargumento