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Gaiola – Um processo terapêutico

Gaiola – Um processo terapêutico
Mirian Martins Franconeti
jan. 19 - 4 min de leitura
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Escrito por: Mirian Martins Franconeti – Neuropsicopedagoga/Facilitadora de Constelação Familiar

Dirigindo-se a uma gaiola, leva consigo pedaços de pão para um pássaro, que por má sorte, estava aprisionado. Na intenção de amenizar o sofrimento, uma amizade se instala com essa criatura delicada, porém enclausurada à sua própria vida.

Na queda de um degrau, o alimento não chega. Foi fatal, ocasionando uma quebra, como um galho seco exposto à forte seca do deserto.

Nesse momento, parece tudo parar! A mente se desperta para quem leva e recebe o alimento. Novo tempo. Procura novos conhecimentos e descobre que eles existem.

Ouvem-se vozes internas de pessoas tão desconhecidas.

A luta do caminhar se inicia, procurando o equilíbrio do corpo e da alma.

A vida recomeça junto com o trabalho da fé da sua criação.

Sucessivas lágrimas a vida lhe apresenta; os véus, aos poucos, vão revelando não só a face, como também, o coração.

Conquistas começam, em pequenos atos, cenas aparentemente insignificantes aos olhos de quem não vê, mas sinais de liberdade.

Liberdade! Que liberdade é essa, de asas feridas e machucadas? Que liberdade é essa com o coração carregado de ódio e de águas paradas?

Perdoar jamais!  A quem lhe tirou o canto e o encanto; a quem o obrigou a viver numa gaiola apenas a pedaços de pão e água.

Se ao menos conseguisse abrir a gaiola. Ganharia liberdade.

Mas e sua angústia, pularia de galho em galho?

Embora livre, sua canção não o alegraria, e muito menos a quem quer que o ouvisse.

Teria que aprender melodias novas, e até voar?

Embora tivesse asas, se arriscaria a sair da gaiola? Ali tinha um pedaço de pão e água.

Mas tinha de se arriscar, de lançar voo, sabia que teria alguns galhos para descansar, tomar fôlego, matar sua fome e sede.

E assim, resolvera voar. Na pequena liberdade. Ainda com suas asas doloridas, talvez enferrujadas. Tinha asas e elas lhe serviam a isso.

Voou e voou. Cada vez mais alto. Alto, embora muitos ainda o avistassem.

Agora não bastaria somente voar, pois suas asas ainda lhe pesavam na dor d’alma. Nem o vento lhe trouxera prazer.

O que fazer? Precisava fazer algo. Será que estar no alto já não bastaria?

Descobre que agora teria que olhar para si, voar para dentro de si. Mas como fazer isso?

Foi quando, finalmente, resolveu que poderia e paulatinamente, examinou cada valor e sentimento, cada cicatriz, que lhe pareciam permanentes. Descobriu a possibilidade da compreensão e transformação.

E, assim foi sua longa e difícil jornada interna.

Não quis voar sozinho, pois já conhecia: a solidão, o orgulho e a falsa valentia.

Corajosamente pediu auxílio. Tão logo se permitiu, vieram ao seu encontro.

Foram muitos voos com auxílio. Por vezes, teve que seguir sozinho, pois só dependeria de si. Sua alma teria que estar pronta para quebrar os cristais que como pedras, sem cor e forma, ainda existiam.

Precisava ainda do escultor de almas. E, foi num voo mais alto à procura d’Ele. Ao encontrar, chorou, chorou suas mazelas e angústias de uma prisão. Mas para sua surpresa, teria que dar a liberdade também para aquele que fora aprisionado pelo seu ódio. 

Teve que aprender que a liberdade vem à medida que se conquista o entendimento. Toda e qualquer prisão interrompe vidas. É necessário aprender a ser livre, a liberdade tem um preço: a própria liberdade.

Assustado, e sem muitas escolhas, implorou ao Escultor d’Almas que lhe permitisse a liberdade de todos. A liberdade se fez.

Mesmo atordoado, o Escultor d’Almas o tocou profundamente, no seu copo frágil, e nas suas asas pequenas. E mesmo de melodias desafinadas, levantou voo, desta vez mais leve, na aventura da terra e do céu.

Conta-se que hoje passa pelos galhos em que estivera, e olha de longe sua antiga gaiola, onde morou por muitos anos, por um pedaço de pão e água. Canta alto, ora para si, ora para outros, que ainda estão presos em suas gaiolas, ou procurando novos rumos.

Dizem que leva, em seu pequeno coração, o aprendizado. Pensa que todos, como ele, um dia obterão sua liberdade. Pois na vida não se deve temer em desafinar suas canções, sabendo-se que todos nós estamos num eterno ensaio.


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