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GUERREIRA

GUERREIRA
Neiva Maria de Mattos
set. 29 - 6 min de leitura
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“Guerreira dedicada à Marte” é o significado do nome desta mulher que já venceu muitas batalhas mas sabe que a luta não terminou.

Ela me foi trazida pela Divina Providência, num momento em que pensou que já não valia a pena continuar lutando e que desistir talvez fosse o único recurso. A tristeza de estar viúva há um ano, com um filho adolescente com o qual o relacionamento é bem difícil, e o outro adulto que já constituiu família mas depende dela financeiramente e ela sem ânimo para continuar trabalhando, pois não vê a possibilidade de quitar tantas dívidas, a saudade e tudo o mais parecia-lhe uma dor insuportável.

Iniciamos os encontros em plena pandemia, portanto já começamos os atendimentos de forma online. E no primeiro encontro ela repetiu várias vezes que essa situação toda que fez com que ela fosse obrigada a voltar para a casa da mãe, por não poder arcar com o aluguel, deixava-a profundamente angustiada. Não conseguia dormir, chorava muito, parecia que a dor não amenizava nunca.

Contou-me um pouco sobre a vida de casada que teve altos e baixos, chegaram a separar-se por algum tempo, depois retomaram o relacionamento e justamente quando estavam vivendo relativamente bem, aparece esse nome estranho Influenza H1N1, que o leva repentinamente.

Fomos trabalhando exercícios de relaxamento, respiração e meditação. E as memórias foram vindo à tona. Lembranças de uma infância interrompida pela separação dos pais, e a menina de 10 anos foi entregue a uma outra família que a levou para outro estado, distante do pequeno município interiorano onde vivia, e a maltratou muito. Foi um tempo de muita dor e sofrimento. Com a mãe sempre manteve contato, mas o pai ela preferiu esquecer. Mesmo depois de adulta, quando retorna para a cidade de origem, nunca mais quis saber nada sobre o pai.

A partir dos exercícios de “tomar pai e mãe”, ela foi tomando consciência das memórias de orfandade, dos traumas que marcaram aquela vida tão sofrida  e que são revividas agora com a morte do marido. Ao mesmo tempo percebendo o potencial de força que a tornou uma verdadeira sobrevivente em meio a tanta dor.

Durante uma meditação guiada, ela lembrou-se de uma carta que recebeu há mais de 20 anos, na qual uma amiga recomendava, “perdoa seu pai”. E percebe que embora insista em dizer que nunca sentiu raiva dele, havia uma revolta muito grande, uma sensação de abandono, e diversos sentimentos congelados.

No encontro seguinte ela traz a tal carta para eu ver. Refletimos sobre a importância desse pequeno pedaço de papel, que depois de tanto tempo, de tantas mudanças nas quais diversas coisas foram descartadas, porque ela ainda guardava esses escritos. Sugeri que mantivesse essa lembrança, tão palpável, ao alcance das mãos, como uma âncora positiva de que a ajudasse a reconciliar-se com o masculino na figura paterna. A partir daí ela fez um movimento tão lindo de compreensão e libertação que se propôs a ir além, e procurar com o irmão uma fotografia do pai, pois sentia necessidade dessa aproximação.

Depois de alguns exercícios de “cura da criança interior”, de tomar consciência do quanto medo ainda cultivava, ela começa a verbalizar que está sentindo-se melhor. Mas o grande momento veio no quarto encontro, quando ela relata os pequenos movimentos de volta à vida que havia realizado no final de semana.

“Pode ser pequeno, mas foi muito importante para mim, é sinal de que estou decidida a retomar a minha vida. Neste sábado, pela primeira vez, desde que voltei para a casa da minha mãe, eu fui fazer as compras da casa e organizei tudo na cozinha, em vez de simplesmente largar de qualquer jeito e depois na hora de preparar a comida também era sem nenhuma preocupação. E agora, organizada, separadas em pequenas porções, é mais fácil a gente escolher e perceber o que realmente vai preparar. Também em vez de passar o domingo dormindo o dia todo, resolvi arrumar as coisas do quarto, que estavam amontoadas desde que cheguei nesta casa, que eu não sentia minha, e por isso nunca arrumei nada no lugar. Arrumei o guarda-roupa, as gavetas, e ao perceber que algumas roupas não me servem mais, percebi o quanto engordei nos últimos tempos, o quanto tentei afogar a tristeza na comida”.

Falando sobre alimentos e pesos, e ela com onze quilos a mais, percebeu que precisa olhar para ela, para o próprio corpo, para a saúde, enfim pra a própria vida. E então resolveu participar da oficina de emagrecimento. Aproveitei e sugeri ainda que se inscrevesse para a imersão sobre constelações sistêmicas. E assim vai acontecendo uma espécie de “estudoterapia”, onde a pessoa ao mesmo tempo que vai se tratando, se curando, vai aprendendo os conceitos os porquês, e os caminhos por onde seguir. E “Guerreira”, vai me enviando fotos dos armários, das gavetas, da geladeira, onde tudo organizado refletem o quanto ela está empenhada em organizar a própria vida.

E com alegria e gratidão, eu “aprendiz de terapeuta”, vou compreendendo cada vez mais as terapias sensoriais e os saberes sistêmicos aprendidos com a Mestra Olinda Guedes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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