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HISTÓRIA DE FAMÍLIA

HISTÓRIA DE FAMÍLIA
MARIA PEREIRA SOARES
fev. 16 - 5 min de leitura
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Os meus pais foram criados juntos, pois são primos, e como todos brincaram, brigaram e trabalharam juntos até o dia que Deus permitiu. Meu pai nasceu e viveu sempre na roça, teve uma infância muito cheia de altos e baixos, pois tinha que ajudar os pais dele no curral, na roça e no campo e ainda cuidar dos irmãos.

Sendo assim, ele assumiu responsabilidades desde criança.

As crianças tinham tempo para tudo na vida, menos para estudar. Com isso meu pai não estudou. Depois casou-se e continuou morando na roça dos parentes, porque era o único meio de trabalho que tinham para garantir a alimentação. O que ganhava, mal dava para viver.

Depois mudou para a cidade para colocar os filhos na escola. Por fim, deixou a mulher e os filhos na cidade e voltou para a roça, quando saía do trabalho da roça ia para o garimpo, que nunca rendeu nada.

Quando já estava com idade avançada, foi estudar. Naquela época havia um programa de alfabetização de adultos chamado Mobral. Em 1988 voltou para a roça, mas desta vez como dono da terra. Porém não usufruiu do que havia conquistado. Quando começou a produzir plantações, gado e animais domésticos, preparando-se para construir uma casa, adoeceu e precisou fazer uma cirurgia do coração.

Não resistiu.

Para a nossa tristeza, ficamos com a sensação de que tudo acabou ali, como se naquele instante se encerrasse a história do meu querido papai.

Mamãe ficou órfã de mãe aos 6 anos, meu avô casou de novo e a minha mãe precisou cuidar dos irmãos mais novos, filhos da madrasta. Costumamos dizer que são “os irmãos por parte do pai”. Ainda trabalhava na roça e ajudava nas tarefas de casa. Também não teve tempo para estudar. Depois do casamento continuou na roça. Quando mudou para a cidade, foi lavar roupas para as famílias mais abastadas e assim sustentar os filhos que eram muitos e todos pequenos.

A luta foi dura mas foi possível sobreviver.

Ela também estudou no Mobral. Quando podia estar vivendo com tranquilidade, usufruindo daquilo que o meu pai deixou e de sua própria aposentadoria, foi ludibriada por um dos filhos, que tomou posse de tudo, deixando-a em uma situação difícil, pois com a simples aposentadoria ainda ajuda a manter os outros filhos que ainda vivem com ela.

Dona Raimunda, com 81 anos de idade, continua lidando com as coisas da casa, dos animais domésticos e seguido a vida com alegria. Uma mulher guerreira e vencedora, que apesar da idade tem boa saúde.

Essa é a história dos meus pais, que viveram juntos até o fim da vida do meu pai. Penso que tiveram um relacionamento cotidiano “mais ou menos”, pois ele vivia muito ausente, com os trabalhos no garimpo. Chegava a ficar três meses fora de casa, com ela tendo que lidar sozinha com os filhos. Isso causava a ela muitos sofrimentos.

Eu sou a primeira filha, fui muito esperada pelos os meus pais, tios (as) e meus avós. Fui muito amada desde antes de nascer. O parto foi difícil e com ajuda de parteira, pois meus pais moravam na roça e não havia hospital por perto. 

Logo foram chegando os outros irmãos, e eu aos dois ou três anos de idade já comecei a ajudar minha mãe a cuidar dos filhos. Como eu era muito brava, brigava muito com meus irmãos e eles se viam obrigados a me obedecer, pois eu era quem cuidava deles.  

Lembro-me que meu pai batia muito em mim porque eu não ficava calada e tinha resposta para tudo.

Aos seis anos minha mãe me ensinou a fazer arroz, mesmo assim meu pai ainda me batia muito porque eu não fazia as tarefas de casa. Aos 11 anos fui batizada na cidade baiana de Bom Jesus da Lapa e aos 13 anos fui para a escola e comecei a trabalhar para ajudar na despesa da casa.

Meus irmãos foi também tiveram vida difícil porque trabalhavam muito e ganhavam pouco, mas conseguimos sobreviver.

Durante algum tempo eu sonhava em trabalhar e ganhar muito dinheiro, ajudar minha mãe e meus irmãos, até que aos 22 anos senti-me chamada e escolhi dizer sim a vida religiosa. 

Para essa vida completamente nova, parti com poucos recursos e “atrasada nos estudos”. Era assim que se dizia dos que tinham poucos anos de escolarização, mas com muita coragem e fé construí essa história. 

Ainda carrego um sentimento de pesar pela vida sofrida de minha mãe e meus irmãos, mas os entrego à Providência do Senhor Jesus e sou grata por tudo de bom que eu vivi até aqui, e também pela a ajuda das pessoas que foram e são anjos de Deus em vida.


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