Ao fazer parte da Formação Real eu decidi assistir as aulas às pressas. Agora eu estou revendo com calma, fazendo anotações e saboreando os ensinamentos da professora Olinda.
No módulo 3, aula 2, surge um questionamento: Como as crianças eram tratadas dentro do meu sistema?
De imediato lembro-me de uma frase que ouvi da mamãe a vida inteira: “O coração é nosso e a cara é dos outros!”
Sempre me indignei muito com esta expressão! Talvez na infância eu não tivesse a compreensão, mas na adolescência me enfurecia por nunca poder dizer o que sentia, onde doía e nem mesmo dizer o que gostava ou sonhava. Se a mãe estivesse perto, com certeza receberia uma boa punição.
Sempre senti uma alegria imensa na alma e um sorriso nos lábios, que conviviam com uma solidão e um distanciamento dos meus verdadeiros sentimentos. O que promovia o encontro com o meu interior era a forma como o papai contrabalanceava essa aridez.
A espera pela chegada do pai em casa era repleta de ansiedade e alegria. Ele viajava muito, trabalhava na fazenda, mas sempre fazia questão de nos colocar na rede e nos fazer deliciar com as estrelas “carregadoras de malas”. Fazia eu e os meus irmãos imaginarmos o que as grandes (em menor quantidade) levavam as nossas angústias, tristezas e as pequeninas (e numerosas) traziam alegrias, o bem estar, as bênçãos divinas. Estas pequeninas eram serelepes e lindas, chegavam saltitantes, animadas, risonhas, divertidas e podíamos realizar todos os nossos pedidos...
Uma emoção! Parecia mágica!
Hoje reconheço que os dois, papai e mamãe, deram a mim e aos meus irmãos o que foi possível e o que tiveram. Não há em meu coração um julgamento e sim uma constatação. Sei que o papai nasceu num lar muito harmônico onde o lúdico se fazia presente em peças de natal, cantorias, declamações...
Infelizmente a mamãe não teve as mesmas oportunidades... Eu sinto muito pela senhora, minha mãe! Eu sei que viveu uma vida de orfandade e que não foi fácil sobreviver sem proteção paterna. Imagino quantas vezes sorriu com o coração em frangalhos, com vontade de chorar.
A sua criança só teve essa forma de se proteger e como adulta foram inúmeras as vezes que precisou da “máscara de forte” para conviver nesse mundo.
Hoje eu compreendo! Eu sinceramente sinto muito!