A maioria das crianças temem a noite, pois sabem que será necessário enfrentar o escuro. Para esses pequeninos o escuro é frio, tem cor preta, tempo infinito... Mas sabem que há alguém por perto para protegê-las e acalentá-las. Quando crescemos as noites escuras são diferentes, elas não são apenas de imaginação, elas são da alma.
Mas o que são noites escuras da alma?
Durante o módulo 7 aprendemos que as noites escuras da alma foram estudadas e observadas por São João da Cruz.
Elas se referem aos sofrimentos humanos, épocas de muita angústia, ansiedade e solidão. Como diria nossa mestra “é como atravessar o deserto sozinho”, porém todos nós devemos enfrentar estas noites escuras já que elas chegam para todo mundo, inclusive Jesus Cristo passou por ela quando se retirou e foi ao deserto.
O maior desafio é passar por estas noites sem sucumbir, afinal elas também são oportunidades para nosso sistema e para nós mesmos para nos tornarmos humanos mais amorosos uns com os outros.
Estas noites escuras podem ser memórias pessoais ou transgeracionais e muitas vezes podem levar a doenças psicóticas, gagueira e dislexia... isso me faz lembrar de uma frase que a nossa mestra falou na live do dia 20/08: “Temos piedade com doenças físicas mas não com as mentais”. Ah, se todos soubessem o quanto essas pessoas especiais trabalham para nós, para nossos sistemas, para a cura!
Por isso me tocou muito o coração quando a nossa mestra disse que “condenamos um pai/genitor que abandona o filho por ser especial, mas achamos normal os pais adotivos não quererem filhos especiais”. Me senti comovida também quando a mestra falou que ”deixamos os excluídos com excluídos, deixamos sozinhos e abandonados em uma vida solitária”. Essa última frase me faz lembrar da história de Van Gogh, que viveu noites escuras intensas... Nas suas cartas ao irmão Theo ele revelou os seus sofrimentos, como se sentia perdido e como a sua psicose afastou as pessoas da sua vida. Se ele soubesse do grande milagre que tinha por perto!
Na minha família percebo que as noites escuras vem em forma de depressão, orfandade, ansiedade, exclusão. O masculino com memórias traumáticas da guerra e o feminino com memórias traumáticas em relação a vida. Minha bisavó materna era indígena e foi retirada do seu povo, minha avó materna faleceu de tuberculose levando no seu ventre uma criança de 8 meses, a qual o médico se recusou a tirar. Minha mãe teve meu irmão tirado com fórceps, ele quase veio a falecer. Minha avó paterna teve sua inocência tirada por uma aposta...
Essas situações me fizeram perceber o motivo pelo qual a minha noite escura veio em forma de medo da maternidade, do desejo de nunca ter filhos, dificuldade nos relacionamentos com crianças... afetando também a questão sexual e afetiva na na minha vida, pois a sexualidade é a força, o portal da vida para passá-la adiante.
Desde que comecei este curso, a ler os livros indicados pela mestra, percebi como uma criança é o presente mais lindo de Deus, como elas amam imensamente seus pais e o quanto são leais ao seu sistema, ao seu povo.
Hoje meu coração se abriu para a maternidade, para compreender e defender as crianças de uma maneira que nunca imaginei.
Por este motivo as noites escuras nos ajudam a olhar para as dores da humanidade com muito mais humildade. A luz divina é a caridade, compaixão e a empatia.
Na conclusão deste modulo, a última aula ensina sobre o que Bert Hellinger diz em seus livros, sobre a má culpa e a boa culpa.
A má culpa é aquela que não nos leva a lugar nenhum, ficamos chateados e aborrecidos. Esta culpa não nos torna lúcidos e sensatos e faz olhar para as pessoas com o sentimento de tristeza.
A boa culpa é aquela que nós faz olhar para o outro com gratidão, nos faz olhar com mais humildade e discernimento para tornar a vida do outros menos sofrida, faz com que não julguemos e condenemos, mas que sejamos gratos.
Por estes motivos compreendemos que as noites escuras nos conectam com o céu e a terra, trazendo a luz àquilo que somos, aquilo que podemos e não podemos.
