Olá, eu vejo você.
Não sei quem você é, nada sei sobre você,
Mas, vejo e sinto você.
E vigio, protejo, cuido.
O sentimento é imenso, inclusive com sensações corporais.
A ansiedade e a melancolia me trazem você,
Te sinto no vento, no cantar dos pássaros,
No calor do sol, nesse dia bonito.
Mas, te vi também ontem durante a tempestade.
Eu vi e senti você nos pingos da chuva.
A luz dos seus olhos reluzem nos relâmpagos e
Nos trovões pareceu-me te ouvir.
Você chorava, gemia.
Eu vigio, não durmo.
Não pode. Eles vem.
Eu não sei quem você é, mas eu sei de você.
Você me vem e,
Vejo mar, fogo,
Você corre, foge, foge.
Não há saída. Desespero.
Violência. Sangue.
Eu vigio. Não posso dormir.
Você e mais se afogam.
Lágrimas, águas profundas...
Morte..
Eu vigio. Preciso cuidar. Não posso dormir.
Foge, Foge. Está sem saída. Desespero, raiva, revolta.
Eu não durmo. Vigiar é preciso.
Sangue, uivos de dor.
Tem neve, muito frio.
Tem calor, floresta. Muito quente. Chove forte.
Foge, foge! Não dá mais. Impotência. Desesperança.
Eu vigio. Acordada para cuidar do que não pode ser mais cuidado.
Não sei se é desejo meu ou se é real,
Mas te vejo senhora, toda vestida de preto, muito suja
Um lenço preto prendendo os cabelos e
Aparece só uma pontinha deles.
São loiros, começando a ficar grisalhos.
Não! Não há lenços.
Cabelos ao vento. São pretos e tem fios grisalhos.
Seus olhos são castanhos escuros-esverdeados
E parecem com os da minha vó Dora, mãe de minha mãe, minha babuska amada;
Mar, águas profundas, dor.
Lamentos, gemidos. Noite escura. Vigio, cuido.
Não! Seus olhos são como duas jabuticabas,
São os da minha vó Ana, mãe de meu pai, minha índia querida.
Floresta quente e úmida. Uma caçada implacável.
Aprisionamento, humilhação, perversidade.
Dores e choros reprimidos.
Eu cuido, mas não precisa mais, não adianta mais.
Mas, eu vigio.
O corpo que vem na silhueta da noite escura
Arredondado nos quadris, avolumado nos seios.
Ah, são os corpos das duas.
Você são todas elas!
Vocês que vieram antes!
Quanta honra senhoras! Minhas reverências e profundo respeito!
Ah, agora eu sei porque vigio, porque não durmo!
Eu vejo, vejo vocês amadas!
Estão sofrendo, situações trágicas, perigos,
Muita morte, muitas dores. muitas perdas, fome, humilhação...revolta.
Impotência. Raiva.
Eu sinto, eu vejo e vigio, porque não há quem cuide,
Sinto tanto, tanto!
Não posso dormir. Por vocês vigio.
Mas, também posso e vou buscar mais e mais proteção, cura,
Em mim todas estarão seguras, estarão protegidas.
Não será mais preciso vigiar, ter insônia.
Poderemos dormir em paz.
Não precisaremos mais atacar para nos defender.
Não precisaremos mais de ódio, revolta, agressividade e mágoas.
Poderemos amar novamente. Deixaremos de ser amargas.
Vamos Confiar.
Há ainda esperança. Vou buscar para nós.
Todas nós. Vocês em mim.
Gratidão Senhoras.
Gratidão!
